GCV 18/03/2009
A autocrítica de Camilo Castelo Branco
Na crista da onda do romantismo, Camilo Castelo Branco soube catalizar muito bem o "espírito romântico português" e escrever "Amor de Perdição". Grande sucesso, muitas lágrimas e aplausos. Anos depois, faria ainda "Amor de Salvação", praticamente uma versão com final feliz do primeiro.
Dos 30 anos de sua prolixa produção, "Coração, Cabeça e Estômago" encontra-se no fim do primeiro terço, mas bem que poderia ser a sua obra derradeira, revisando principalmente as duas supracitadas. Simbolizando os estilos romântico, realista e até naturalista, o livro é quase uma síntese da literatura de Castelo Branco, debochando com uma (auto)ironia e humor exemplares de sua própria produção. Mesmo sendo escrito dois anos depois, a semente de "Amor de Salvação" já está plantada em "Coração, Cabeça e Estômago"; e sendo escrito no mesmo ano de "Amor de Perdição" (1862), soa ainda como uma debochada retratação.
Uma obra satírica como das poucas, muito recomendável principalmente aos que insistem no estudo estanque e sistemático dos chamados "estilos de época". Ironicamente, como o deveria ser com esta obra, não consta como livro obrigatório em grande parte dos cursos de Letras. Pena.