Jarbas

Jarbas André Bozzetto Jr.




Resenhas - Jarbas


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W Nascimento 14/02/2013

Os bons e velhos lobisomens
Em uma era onde as figuras de nossos pesadelos do passado se transformam em personagens andróginas de romances adolescentes, encontrar um livro como “Jarbas” nos enche de espanto e agradável nostalgia. Recheado de muita tensão, violência e crueldade, o trabalho de André Bozzetto Jr. garante ao leitor bons momentos de frisson e adrenalina, permeados de aventuras noturnas em um mundo perigoso e decadente, no melhor estilo punk & gótico.
Jarbas é um jovem de classe média, cuja natureza bestial precede em muito sua transformação em lobisomem. Entregue a sua natureza animalesca como talvez nenhum outro licantropo se tenha permitido, este jovem vaga pelas noites deixando para trás trilhas de sangue, violação e profundo terror. Seu nome, conhecido e temido por humanos e outros seres sobrenaturais, passa a ser palavra chave nas principais caçadas noturnas.
Os personagens de “Jarbas” são, em geral, frios. Pessoas sofridas que se tornam endurecidas pelas experiências traumáticas de suas vidas. Existem aqueles ainda que tentam conservar a inocência, todavia estes são os primeiros a serem engolidos pela natureza selvagem própria deste romance de Bozzetto.
Do ponto de vista estilístico, este é um trabalho bastante interessante, onde a história do jovem lobisomem é conta através de inúmeros recursos. Em alguns momentos, temos a narrativa imparcial em terceira pessoa, em outros o relato vivo de suas vítimas. É provável que alguns leitores percebam pouca diferença entre os tons dos relatos, deixando a escrita muito uniforme. Contudo, escrever diferentes relatos, onde cada um deles expressa a experiência de uma personagens específica, carregada de suas singularidades psicológicas e seus vícios de linguagens não é um tarefa fácil. E André, sem dúvidas, não faz feio em sua empreitada.
Em suma, o que tenho a dizer de “Jarbas” é que este é um livro altamente recomendado. Ele não está comprometido em fornecer grandes momentos de reflexão, mas se propõe a garantir fortes emoções e aventuras dignas dos estômagos mais fortes. E para leitores com saudade dos antigos monstros, este é um prato cheio.

Willian Nascimento
Autor das novelas O Véu e De Corpo e Alma
Esta e outras resenhas você encontra em:http://pordetrasdoveu.blogspot.com.br/
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Tânia Souza 07/10/2011

Os uivos do predador
Jarbas – André Bozzetto Jr.

Por Tânia Souza

É noite de lua cheia, o vento nas folhas é algo sombrio, mas ainda assim, seja muito bem vindo, caríssimo leitor, espero que goste dessas impressões de leitura.

Porém, tenha cuidado.

Espie a noite, observe o luar e atente ao que se esconde nas sombras: criaturas lupinas podem estar à espreita, afinal, o ilustre convidado de hoje é Jarbas. E em se tratando dele, nunca se sabe.

Mas quem é Jarbas?

Os leitores do blogue Escrituras da Leia Cheia já eram assombrados por Jarbas há certo tempo. No entanto, para quem está chegando agora ao universo lupino do autor André Bozzetto Jr. a sinopse nos apresenta o garoto Jarbas lá na década de oitenta, e como uma grande maioria dos garotos da época, era fã de livros e filmes de terror. Passados alguns anos, esse nome havia se convertido em símbolo de brutalidade e perversão. Jarbas é um lobisomem temido e odiado por homens e licantropos. Como essa transformação aconteceu? Só lendo para descobrir. Cada aparição de Jarbas é marcante e tem, por essência, a crueldade.

“... viraram-se na direção indicada e duvidaram dos seus próprios olhos quando vislumbraram um garoto completamente nu acompanhando a cena por entre os arbustos. Ele possuía terríveis cicatrizes no rosto e também em várias outras partes do corpo, porém, o que mais contribuía para lhe conferir uma aparência apavorante e perturbadora era o brilho rubro que emanava dos seus olhos e o enorme sorriso que ostentava nos lábios. Um sorriso maléfico, que transparecia devassidão e perversidade.”

A capa de Jarbas é linda, o trabalho de Andrei Bressan, que também ilustrou Na Próxima Lua Cheia, me impressionou. As cores escolhidas, a atmosfera sombria, a combinação dos elementos me sugerem solidão, terror e ferocidade, são bons indicadores do que a história tem a oferecer. Sobre a diagramação, qualidade material e gráfica, a Estronho mais uma vez comprova a extrema qualidade do seu trabalho, ótima. Páginas macias, letras visualmente agradáveis para leitura. E claro, preciso destacar as ilustrações internas, são muito legais. O trabalho do ilustrador Christiano Carstensen Neto, releva momentos mórbidos e sombrios da narrativa de maneira bem interessante. E me lembram a atmosfera de antigos quadrinhos de terror. Gostei bastante.

Dos campos mais bucólicos do interior do país ao submundo noturno e decadente das cidades, muitos terão seu destino, vida e morte marcados por uma fera e a lembrança de um nome. Jarbas.

Na trama que conta 25 anos da vida de Jarbas, são muitos os personagens, alguns passam tão rapidamente que não marcam o leitor. A principio, isso me incomodou, preferia que fossem menos personagens e alguns, um pouco mais explorados, mas ao mesmo tempo, entendo que a história que acompanhamos é de Jarbas e dos incautos que cruzam seu caminho. Em cada um destes momentos, conhecemos uma face do personagem em diferentes cenários narrativos. Os personagens que sobrevivem para atuar nas próximas páginas são os mais relevantes.
Personagens como Jorge, César, Tadeu Belline, Bruno, Vandinho, Silveira, Francisco, Vitória, Fernanda, Clara, Eduardo, Ricardo, entre outros, oferecem ao leitor um retrato das paixões e desvarios humanos: amor, sexo, vício, inocência, solidão, curiosidade, crueldade, covardia, coragem, erros e acertos, tristeza, sacrifício, egoísmo, terror e medo são apenas alguns dos temas retratados.

Gostaria de comentar mais sobre alguns deles, como a menina Clara, o revoltante Tadeu Bellini ou o divertido morador de rua Vandinho, mas deixo para o leitor a diversão de descobri-los. Entre os personagens, destaque para João Preguiça, foi impossível não compará-lo com aqueles personagens míticos das cidadezinhas do interior, recluso, diferente, despertando medo e curiosidade nas crianças e se tornando, com o tempo, uma lenda viva. João Preguiça, de fato, tem muito a esconder.

Também Vitória, a caçadora de lobisomens movida pelo desejo de vingança merece um comentário a parte. Ao encontrá-la no livro, eu me lembrei de ter lido um conto no blogue, revelando os fatos iniciais que a levaram a se tornar uma caçadora e comentei, na época, que seria muito legal ler mais sobre a moça, pois bem, depois de ler Jarbas, minha opinião permanece, senti que a personagem merecia mais espaço e se o André quisesse contar uma história tendo Vitória como personagem principal, a menina corajosa que cresce para se tornar uma caçadora letal é cativante o suficiente.

Ah, mesmo que alguns personagens já tenham aparecido antes, segundo o autor, cerca de 70% do livro é inédito, os contos já existentes foram modificados para tomar a forma de capítulos e, principalmente, tiveram sua atmosfera sombria ampliada. A estrutura me lembra o formato de romance fix-up é possível ler alguns capítulos de forma independente, como se fossem contos, mas alguns dos personagens podem aparecer novamente e suas ações acabam se entrelaçando em momentos diferenciados da narrativa, na construção da trama maior.

Entre os temas do fantástico, o terror e o horror são meus favoritos. Pois é justamente o horror que permanece com o leitor ao acompanhar os caminhos de Jarbas. O personagem que dá nome ao titulo do livro é extremamente cruel, não há desculpas, não há meio termo, e ao mesmo tempo, ele tem o dom de impressionar suas vítimas por sua suposta fragilidade. Ou seja, um predador fatal.

Alguns outros aspectos relevantes do livro: o foco narrativa alternando-se em primeira e terceira pessoa, conforme personagens e momentos narrativos, dão fôlego ao leitor. Diferentes referências, relacionadas à música, ao cinema e outros elementos, vão construindo e contextualizando os cenários no espaço/tempo; lobisomens são, de fato, lobisomens (acho que isso não preciso explicar). Aos que tem estômago fraco, aviso, o autor não economizou nas cenas sanguinolentas e cruéis. Entretanto, certas ações de Jarbas, ainda que não detalhadas, mas principalmente insinuadas na narrativa, revelam o quanto lobisomens podem ser ferozes, cruéis e incontroláveis. Assim como o próprio ser humano. E que a maldade, de homens e feras, assim como a coragem e a persistência, sempre podem surpreender um pouco mais.

Jarbas espera por você.
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Amanda Reznor 22/02/2012

Filme de terror perfeito!
Jarbas é a certeza de uma diversão sombria através das aventuras de um menino-lobo que, de criança, sempre teve muito pouco; cruel quando garoto, Jarbas mostrou que poderia ser ainda pior como lobo, e seu nome passou a ser odiado dentre todas as criaturas noturnas - humanas ou não. Ele não caça apenas por diversão, ele tem prazer em matar, ele quer dar o melhor de si para imprimir o máximo de humilhação e terror em suas vítimas, jogando psíquica e fisicamente com elas.

Prós: o livro é um filme de terror do início ao fim: ler suas linhas é como deitar os olhos em cenas violentas e com muita tinta vermelha para desperdiçar. Se a estória é, por um lado, escatológica, como o próprio Bozzetto diz, por outro ele soube harmonizar o grotesco, que acompanha as situações na medida certa, não deixando a desejar: Jarbas quer sangue, e é o que o autor lhe proporciona - ele tem o perfil ideal de um lobisomem num coração que nunca foi humano. O enredo é bastante realista e as personagens são fortes e bem definidas.

Contras: principalmente no início do livro, os capítulos são descontinuados, como se não fizessem parte da mesma estória ou como se fossem contos (o que realmente foram - contos que depois foram transformados em trama); mas depois essa heterogeneidade desaparece, e o enredo ganha traços cada vez mais definidos. As descrições de ataque e a forma como as pessoas morrem são sempre muito parecidas (mas deve ser porque muita gente morre... Esgotam-se as possibilidades haha). Ainda assim, algumas descrições poderiam ter variado de forma a fazer com que cada morte fosse "especialmente única".

Consta no blog de resenhas Só Literatura Nacional: http://literatura-nacional.blogspot.com/2012/02/jarbas-andre-bozzetto-jr.html
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Literatura 05/02/2013

A fome por carne fresca brazuca
Violento, cruel, sanguinário e bestial são palavras que podem definir Jarbas, de André Bozzetto Jr. (Editora Estronho, 248 páginas), mas também posso usar empolgante, consistente, ousado e uma grata surpresa.

Este livro estava encalhado na estante do Literatura de Cabeça. Acho que meus colegas resenhistas tiveram o mesmo medo que eu: escolher mais um romance de fantasia nacional e logo se encontrar com um imenso elefante branco. Eu o escolhi dentre outros com o simples objetivo de acabar logo com isso, confesso. Se fosse ruim, seria apenas mais um.

Perdoem-me a franqueza. Nós, resenhistas temos tido mais desapontamentos do que prazer ao lermos a avalanche de novas obras nacionais publicadas profusamente nos últimos anos.

Por isso preciso ser categórica, neste momento, caros leitores. Perderam, caros colegas resenhistas do Literatura de Cabeça! Jarbas é um tesouro!! Quero dizer, não o Jarbas, propriamente dito.

Um menino de treze anos, em 1984, que vive com sua mãe - uma enfermeira alcoólatra e imersa em autopiedade depois que seu marido os abandona a ambos -, depois de ter um encontro visceral com um lobisomem, sai em busca de vingança contra aqueles que contribuíram para sua infelicidade e, mais importante, em busca de saciar sua infinita sede de sangue e fome de carne fresca.

Sem pudores, André Bozzetto Jr. explora a complexa simplicidade da crueldade de Jarbas, um pré-adolescente bizarro em suas sinistras cicatrizes, capaz de dizimar famílias inteiras, independente de raça, idade, sexo etc. Um lobisomem igualitário, democrático! Rá! Brincadeiras à parte, Jarbas é maleficamente soberbo! Digno de entrar para a vasta gama de personagens lendários do nosso Brazilzão.

A arte do livro combina elementos de HQ, num estilo que me fez lembrar o famoso RPG Vampiro, A Máscara (que eu adoro, diga-se de passagem) e o melhor: em páginas recicladas! Um trabalho muito bacana!

Veja mais no site:
http://goo.gl/Uilrs
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