Júlio 16/08/2016
Diálogos com Leucó são 27 diálogos curtos entre figuras da mitologia grega, abordando temas como vida, morte, medo, a eternidade, destino, entre outros temas filosóficos "básicos", mas longe de serem apresentados aqui de maneira trivial. Os diálogos seguem uma mesma fórmula estética e estrutural (com exceção do último), sempre conversas entre dois sujeitos dentro de um contexto referente à mitologia grega.
Foi muito importante para o aproveitamento dos textos conhecer a origem dos personagens, nada que 5 minutos na internet antes de cada diálogo não resolva, talvez a maior exceção seja o diálogo Os Dois, entre Aquiles e Pátroclo, senti que ter lido a Ilíada realmente fez a diferença em contextualizar a mensagem dessa conversa entre os dois amigos. Além desse há outros que retomam episódios da Odisséia, porém não achei tão vital o conhecimento da obra nesses casos.
A mensagem final em cada diálogo nem sempre é clara, ou sequer conclusiva, o que é o diferencial dessa obra, não é um livro de aforismos e lições banais de auto ajuda, o que poderia acabar sendo, caso esse conceito tivesse sido trabalhado por um autor menos talentoso. As conversas servem como uma idéia a se pensar, e certas passagens vão necessitar algumas releituras, e uma bagagem maior sobre os temas tratados, para se tornarem mais claras. Eu senti que perdi muito do significado em alguns casos, em especial no diálogo Espuma de Onda em que o final para mim se perdeu um pouco, provavelmente por não conhecer mais a fundo a história das personagens. Existem diálogos que, além do valor filosófico, apresentaram para mim grande beleza estética, como em O Mistério, conversa entre Dionísio e Deméter, onde eles falam sobre os homens, e do que seriam os deuses sem eles, e A Flor, conversa entre Eros e Tânato que discutem sobre a morte "acidental" de Jacinto por Apolo, e o efeito causado por essa sobre um deus.
É uma obra que com certeza eu irei reler várias vezes, pois é merecedora do tempo de qualquer leitor que resolva se aventurar pelas idéias de Pavese.