Gabriela Araujo 09/06/2014
Postado no blog Equalize da Leitura.
Nota: 3.5
No décimo livro da série da Irmandade da Adaga Negra, somos instigados a conhecer mais de Tohr. Ele era o Irmão que tinha a vida resolvida, com sua mulher e um filho a caminho, desde o primeiro livro parecia que ele seria aquele que não teria uma problemática grande o suficiente para merecer um livro inteiro dedicado a ele. Pois bem, a vida não segue planos. Desde o terceiro livro, a história desse guerreiro estava incompleta...
Tendo perdido o que mais amava, Tohr não tinha o menor desejo de seguir vivendo, mas contra sua vontade ele é resgatado pelo anjo Lassiter e levado de volta ao encontro de seus irmãos. Ainda determinado em sucumbir à tristeza, Tohr segue sendo uma preocupação a todos a sua volta e apenas toma consciência da gravidade de seu estado quando começa a ter pesadelos com sua shellan Wellsie e seu filho que nunca chegou a nascer. Seu comportamento estava a impedindo de seguir em frente e a única forma de ele remediar aquilo era fazendo algo impensável: abrindo seu coração para outro amor.
Eu sou completamente apaixonada pela Irmandade da Adaga Negra, de coração, é a minha série sobrenatural favorita, reúne tantos personagens que me cativaram, conquistaram e tomaram meu coração ao longo do tempo que não poderia ter sido diferente. Eu comecei o livro do Tohr completamente indecisa, desde que tinha lido a sinopse. Diferente de algumas fãs, eu não estava relutando porque a premissa colocava Tohr com outra mulher, mas simplesmente porque eu não achava que esse fosse o momento certo para o livro dele. Ainda que considerando o fator de que Wellsie havia morrido no 3° livro, então temos uma margem de 7 livros até finalmente ele “superar”, o personagem dele não me parecia pronto para fazer o que estava sendo pedido dele. E honestamente, continuo pensando que estou certa. Esse livro me decepcionou muito e de todos o da série, foi o que menos gostei.
Eu li esse livro em 2012 e neste momento em que escrevo a resenha, a série já tem mais dois livros. O 11°, Amante Finalmente, será o da próxima resenha e o 12°, mais recente, publicado há menos de um mês e o qual eu também já li, chamado “The King”. Tem dois anos desde que eu li e admito que minha opinião geral do livro mudou muito, para pior.
O relacionamento entre Tohr e No’One (mais tarde nomeada de Autumn), em minha opinião, já começa errado porque ele não a vê como igual, ele a usa como forma de salvar sua shellan e filho, depois de muito resistir sim e ele não queria, sim, mas é o que faz. No’One foi uma personagem que ganhou meu coração logo no início por tudo o que sofreu, eu tenho uma grande afinidade por personagens que sofreram coisas terríveis – Zsadist é meu Irmão favorito, se é uma dica – e eu acho, não, tenho certeza de que ela merecia muito melhor do que recebeu.
As pessoas possuem 2 opiniões gerais sobre ela: os que não gostaram dela as julgaram sem sal, submissa, passiva, covarde, e bla bla bla; os que gostaram dela a julgaram como compreensiva, companheira, solidária, amiga, bla bla bla. Eu a considero passiva e submissa sim, e embora essas sejam características ruins eu absolutamente compreendo pelo passado dela o porquê de seu comportamento; assim como a considero companheira, solidária e amiga. Mas eu me recuso, me recuso a aceitar o adjetivo “covarde”. COVARDE? Eu desafio muita gente a passar pelo que ela passou e ter agido diferente. Essa mulher é uma guerreira, sofreu e sofreu e sofreu, apenas para ser rejeitada por aqueles que deviam a proteger e se deparar com uma lembrança eterna do pior período de sua vida. Sem spoilers, mas Autumn merece bem mais até dos leitores que tanto a julgam.
"- Se consigo sobreviver aos eventos, – ela disse. – eu consigo viver com as lembranças."
Voltando a eles dois, não gosto dos dois juntos. Não gosto e não concordo. Não pelo motivo que todo mundo pensa, não por que não gosto de Tohr com outra pessoa. Mas porque Tohr se transformou num tremendo imbecil em virtude de seu sofrimento. E eu entendo muito de sua atitude, mas a forma como ele trata Autumn é desrespeitosa. Muita da atitude dele é perdoada porque ele estava em processo de aceitação e recuperação e bah, mas será mesmo que tudo é justificado? Ele tratou Autumn como um pedaço de carne, querendo resolver tudo com sexo. Ele não se abria com ela e isso era compreensível, mas em nenhum momento pensava no que ela estava passando. Seu pensamento era salvar Wellsie, sempre Wellsie. E sim ela era sua shellan, sim ele tinha vinculado com ela, e sim isso reafirmava desde o início o que Ward sempre pregou: que um macho vinculado sem sua shellan não era nada. Mas eu não consigo ignorar que se é esse o caso, que ele tivesse ficado sozinho e se recuperado de outra forma.
Por que para ele voltar a viver tinha que fazer outra pessoa sofrer? Autumn não merecia ter um pedaço de alguém, ela merecia ser valorizada por completo. A impressão que tenho é que esse livro foi dividido em sofrimento, sofrimento, sofrimento, sofrimento, sofrimento e sexo, sexo, sexo, sexo, sexo. É triste dizer isso, mas é apenas disso que lembro. Até hoje eu não gosto do Tohr. Quando ele aparece nos livros, eu torço o nariz. Não consigo evitar. A maioria classifica o período de negação dele como algo “idiota”, mas eu vejo como cruel. O fato de que ele não pensava em como estava a machucando não faz dele menos cruel, e até mesmo no final de tudo, a sensação de insatisfação ainda me acompanhava.
"Seu polegar se moveu sobre o tecido, como se ele estivesse acariciando o quadril dela quando eles estavam juntos, ele moveu a perna até que ela estivesse em cima da saia do vestido. Não era a mesma coisa, no entanto. Não havia um corpo debaixo da roupa, e o tecido tinha cheiro de limões, não da pele dela. E ele estava, afinal, sozinho naquele quarto que não era o deles.- Deus, eu sinto sua falta. – ele disse numa voz que falhou. – Todo dia. Toda noite..."
O relacionamento deles sempre vai ser menos do que os outros, e eu entendo que seria de qualquer forma porque ela não é a primeira na vida dele e talvez seja total imaturidade minha, mas se você não pode lutar pelo melhor, qual é o ponto? Não somos assim na vida? Não buscamos sempre nossa felicidade? Não acredito em alma gêmea, logo não tem essa de que todo mundo tem um parceiro para vida, as pessoas são felizes de formas diferentes. Para mim, Tohr escolheu Autumn porque ela estava disponível e porque era única que, por causa de seu passado, aceitou de boa o comportamento estúpido dele. Autumn não escolheu Tohr, ela se apaixonou por ele – e eu não consigo imaginar uma única razão para tal, mas o amor sabe mesmo ser retardado – e em minha opinião, se conformou com um destino que era muito menos do que merecia porque mal ou bem, eles se compreendiam em questão de sofrimento.
"Mas então, ele acreditava que o processo de recuperação, em contrário ao de trauma, era gentil e lento... O suave fechar de uma porta, ao invés de uma batida forte."
Eu falei muito da mesma coisa e peço desculpas, mas se eu não o fizesse, essa resenha não seria minha opinião, seria a compilação de opiniões diversas. Esse livro me deixa muito triste até hoje e a forma como tudo se sucedeu. Mas ele não tem só angústia, embora admito que ela seja a melhor parte. Também existem histórias complementares: a que ganha mais destaque é o conflito entre Xhex e John, ela precisando lutar lado a lado com os Irmãos porque era parte da natureza dela e John dividido entre a necessidade de ceder pela felicidade de sua shellan e de tentar impedi-la porque precisava protegê-la.
Eu me coloquei no lugar dos dois e entendi o lado dos dois, mas eu não gostei de como as coisas se resolveram. Xhex foi desnecessariamente intransigente com John e esse conflito se estendeu mais do que o necessário, até que chegou a um ponto em que eu não aguentava mais ler sobre eles. Xhex foi me decepcionando um pouco desde o livro 8 – o livro do John – e nesse livro ela perdeu ainda mais pontos comigo. Talvez seja meu encanto pelo John que me cegue para outras coisas, confesso que meu instinto de protegê-lo é bastante forte.
Tem também o relacionamento entre John e Tohr, que era como um pai para ele desde o segundo livro. John também tinha sofrido muito com a morte de Wellsie e quando Tohr retorna vivo para a mansão, ele pensa que ao menos o teria de volta. Tohr não estava interessado em respirar, muito menos ter contato com alguma pessoa. A forma como John tenta cuidar de Tohr e como fica feliz por tê-lo de volta é linda demais, mesmo quando Tohr tenta afasta-lo; uma das poucas lembranças boas que tenho desse livro. O amor de filho/mãe/pai literalmente não é compartilhado por sangue comum, mas sim por sentimentos comuns. Essa foi uma bonita lembrança. Hoje muita gente fala de como família é importante, mas nem sempre a nossa família de sangue merece nosso carinho, mas sim a família que escolhemos.
Conhecemos muito mais do Lassiter e, por favor, esse anjo arrasa. Ele é maravilhoso e felizmente parece que ele não vai arredar o pé da mansão tão cedo, para o desespero dos irmãos e para o total deleite das fãs. A história do Bando de Bastardos também ganha força, tendo como líder Xcor – eu sou completamente doida de pedra por ele, mas não posso revelar tanto agora porque meu amor começou nos dois últimos livros, então, sem spoilers. Xcor representa um inimigo aos Irmãos pelo seu interesse no trono e isso ainda vai causar muitos problemas.
E por fim, mas DE MANEIRA NENHUMA, menos importante: Qhuinn & Blay. Todo amor que houver nessa vida para eles dois. Juro, como não ama-los? Layla também está associada ao romance dos dois, mas não como um triângulo amoroso nem nada assim. Thank God. Mas ela tem um papel importante, principalmente para Qhuinn. A história desses lindos tem prometido há alguns livros e embora eles não ganhem tanto destaque assim nesse aqui em específico, adivinhem só? O próximo livro é deles! Isso mesmo, com o título de “Amante Finalmente” – conveniente, hã? Lol -, essa será a próxima resenha de um livro de IAN, a qual eu também escreverei. Estou sorrindo só de pensar.
Esse livro, apesar de tudo, é um dos livros mais bem escritos da série. Ward faz com que sintamos cada uma das emoções dos personagens de um jeito que só ela sabe. De um jeito que só quem leu entende. É profundamente emocional e íntimo. É o tipo de leitura carregada que te deixa pensando por muito tempo depois naquela história. Eu seguirei essa mulher enquanto ela escrever, porque ela sabe como. Definitivamente ela sabe como.
"A vida era complicada. Mas a verdade era simples. Ele era sua casa. Ele era onde ela pertencia."