Diálogo Sobre a Felicidade

Diálogo Sobre a Felicidade Santo Agostinho




Resenhas - Diálogo Sobre a Felicidade


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Alane.Sthefany 11/11/2022

Diálogo Sobre a Felicidade - Santo Agostinho
Agostinho, em um banquete, reúne alguns amigos, a sua mãe, e começam a destrinchar sobre o que é a felicidade e sobre quem a possui.

Meu cérebro quase explodiu para acompanhar a linha de raciocínio deles, mas consegui compreender cada apontamento.

Achei muito interessante.
Simplesmente Agostinho sendo um grande teólogo e filósofo.

Trechos Preferidos ?????

Convenci-me de que se deve acreditar mais nos que ensinam do que naqueles que mandam.

Não se deve de forma alguma conceber Deus como corpóreo, nem a alma, que é a realidade mais próxima de Deus.

[...]

? Todos queremos ser felizes?
Mal disse estas palavras, fez-se ouvir uma só voz de unanimidade.
? Parece-vos ? perguntei ? ser feliz quem não tem o que quer? ? todos responderam
negativamente. ? Será então feliz quem tem o que quer?
A nossa mãe disse então:
? Se quer bens e os tem, é feliz; se, por outro lado, quer coisas más, ainda que as tenha é
infeliz.

[...]

Eis que aqueles que precisamente não são filósofos, mas que, no entanto, se inclinam para as discussões, afirmam que quem vive conforme quer é feliz. Mas isto é seguramente falso; querer o que não convém, isso mesmo é que é a maior infelicidade. Quem não alcança o que quer não é tão infeliz como quem quer alcançar o que não convém. De facto, a perversidade da vontade ocasiona mais males do que a fortuna nos traz bens. (Túlio, Hortênsio).

[...]

Concordamos todos, portanto, numa coisa:

Ninguém pode ser feliz se não tiver o que quer, mas também não pode ser feliz quem tem tudo o que quer.

Ora, as coisas que dependem das circunstâncias do acaso podem perder-se, daí que quem as ama e as possui não pode, de modo nenhum, ser feliz.

? Mesmo que se esteja seguro de não perder todas essas coisas, ninguém pode saciar-se com elas. Por conseguinte, pelo facto de sempre sentir necessidade delas, será infeliz.

? Mas não te parece ? perguntei-lhe eu ?, que é feliz aquele que vive na abundância e cercado de todas essas coisas, mas impõe um limite ao seu desejo e que, satisfeito com elas, as goza da forma mais completa, conveniente e agradável?

? Não será por causa dessas coisas que ele será feliz, mas sim pela moderação da sua alma.

Portanto, não duvidamos de nenhum modo que quem determina ser feliz deve adquirir o que é sempre permanente e não pode ser destruído por nenhum revés da fortuna.

? Já há muito tempo que concordámos com isso ? afirmou Trigécio.

? E Deus? Parece-vos que Ele é eterno e sempre permanente? ? perguntei.

? Isso é uma coisa tão certa que, de facto, nem é preciso perguntares ? disse Licêncio.

Todos os outros, com perfeita piedade, concordaram em harmonia.

? Portanto ? disse eu ?, quem possui Deus é feliz.

[...]

Todo aquele que vive bem faz o que Deus quer e quem faz o que Deus quer vive bem, viver bem e fazer o que agrada a Deus não são coisas diferentes

Como é que pode ser casto quem se abstém das relações ilícitas, mas não renuncia a deixarse corromper por outros pecados? Só é verdadeiramente casto quem se volta para Deus e só a ele se consagra.

Disse Túlio: Vamos chamar ricos aos proprietários de muitos domínios, aqui na terra, e acerca dos que possuem todas as virtudes, diremos que são pobres?

O que é perfeito não carece de nada.

De facto, a esse indivíduo que era rico e opulento e que, como dissestes, não desejava mais nada, no entanto, porque temia perder tudo, faltava-lhe a sabedoria. Então chamá-lo-íamos indigente se lhe faltasse a prata e as riquezas e não o podemos fazer quando é a sabedoria que lhe falta?

Túlio disse, num discurso popular: Cada um que pense o que quiser, mas eu declaro publicamente que a frugalidade, isto é, a moderação e a temperança é a mais excelente das virtudes.

"Moderação" deriva de "medida" e "temperança" de "proporção". Existe uma justa medida ou proporção onde nada está a mais ou a menos. Essa é a plenitude, que apresentámos contrária à indigência e que é muito melhor do que se disséssemos "abundância". De facto, por "abundância" entende-se um certo fluxo e profusão excessiva de uma coisa sem limites. Quando isto acontece mais do que o necessário sente-se a falta da medida e o que é excessivo também necessita de medida. Por conseguinte, a indigência não é estranha ao próprio excesso, porém, o que está a mais e o que está a menos é estranho à medida.

Ser feliz consiste em não ser indigente, ou seja, em ser sábio.

Mas se quiserdes saber, no entanto, o que é a sabedoria (coisa em que a razão, na medida do possível, tem meditado) dir-vos-ei que ela consiste na moderação da alma, isto é, na sua própria ponderação a fim de que nada se derrame, nem de mais, nem de menos, do que o exige a plenitude. A alma derrama-se na luxúria, nas ambições e no orgulho e outros excessos deste gênero, com que as almas dos desregrados e infelizes julgam obter prazeres e poderios. E, por outro lado, ela reduz-se com a mesquinhez, os medos, a tristeza, a cobiça e outras, sejam elas quais forem, com as quais os homens infelizes admitem viver na infelicidade.

Mas a que é que devemos chamar sabedoria, senão à sabedoria de Deus? Aceitamos por
divina autoridade que o Filho de Deus é a sabedoria de Deus e o Filho de Deus é seguramente Deus. Portanto, quem é feliz possui Deus

Que é a sabedoria senão a verdade? De facto, isso também já foi dito: "Eu sou a verdade"

Quem é o Filho de Deus? Já foi dito: "é a verdade". Quem é que não tem pai? Quem senão a suprema medida? Quem, portanto, chegar à suprema medida pela verdade, é feliz. Isto é que significa para a alma possuir Deus, ou seja, gozar de Deus. As restantes coisas, ainda que Deus as possua, não o possuem.

[...]

? Portanto ? concluí eu ?, visto que a moderação nos adverte a interromper o nosso convívio por uns dias, dou graças, com toda a minha força, ao Supremo e Verdadeiro Deus, Pai e Senhor, Libertador das almas, e também a vós que, convidados por mim, de bom grado me cumulastes também com muitas dádivas. Na verdade, trouxestes tanta coisa para o nosso diálogo que, não o posso negar, fiquei saciado pelos meus convidados.

No momento em que todos nos alegrávamos e louvávamos a Deus, Trigécio disse:

? Quem dera que nos alimentasses todos os dias segundo esta medida!
Emanuel.Müller 28/11/2022minha estante
É um ótimo livro!


Alane.Sthefany 29/11/2022minha estante
Sim. Em pensar que isso foi uma conversa no banquete que deram no aniversário de Agostinho. Nossa! Que diálogo e conversa produtiva e profunda.

Amei a parte que eles debatem que temos que almejar por algo que seja eterno e permanente e que não possa ser destruído ou perdido por qualquer fortuna que nos sobrevenha para sermos felizes. ?


Emanuel.Müller 29/11/2022minha estante
Exatamente! Veja, quando alguém deposita sua felicidade em uma pessoa amada, não está sendo levado em conta de que a pessoa pode abandoná-la, seja livremente ou pela morte. Em ambos casos, a pessoa cai na infelicidade. O mesmo ocorre quando a felicidade é depositada no trabalho, no dinheiro... não foi o que aconteceu com a Queda da Bolsa de 1929, de que muitos se mataram, porque viram em suas contas bancárias, que não eram mais ricos, mas pobres? Santo Agostinho acertou em cheio em sua reflexão, a nossa felicidade deve ser depositada nAquele que é Eterno, pois diferente de tudo que é finito e limitado, Ele jamais nos abandonará. A felicidade, pois, é uma pessoa, esta pessoa é Deus. Se você ler a obra "Sobre o livre-arbítrio" do mesmo santo, verás que além dele também falar, assim como nesta obra que leste deles, de que todos querem ser felizes, nesta outra obra que aqui cito, ele fala o seguinte que todos buscam a felicidade, mas a buscam pelos caminhos errados. Esta outra obra dele, eu também te recomendo a leitura.


Alane.Sthefany 29/11/2022minha estante
Vou acrescentar na minha lista, obrigado pela indicação.




otxjunior 02/08/2021

Diálogo sobre a Felicidade, Santo Agostinho
Lido para a disciplina de Filosofia, Diálogo sobre a Felicidade, de Santo Agostinho é uma entrada representativa no rol de abordagens de diferentes pensadores desde a Antiguidade Clássica para a questão da vida feliz. Todos a buscam? Por que via? No que consiste? É claro que Agostinho responde estas perguntas (numa discussão entre convivas - era seu aniversário - durante uma estadia em casa de campo) por pressupostos teológicos, mas fiquei surpreso ao me deparar com um encadeamento lógico de ideias, confirmando o talento do jovem retórico.
Esta edição, além do elemento bilíngue que não tenho orgulho em dizer que evitei, traz notas e referências para os casos em que o texto original se torna um pouco mais denso. Em outros pontos, as interpretações extrapolam o teor da discussão, o que, numa inversão, o tradutor supera o autor em dificuldade de compreensão. Porque depois do contato inicial com um texto da Idade Antiga, é progressivamente mais fácil acompanhar o fio da argumentação. Com alegorias, exemplos e provocações, o filósofo estabelece uma ética de sabedoria, fé, amor e caridade. Para citar um dos saciados presentes, "quem dera que nos alimentasses todos os dias esta medida!"
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Errante aprendiz 26/03/2021

Deus é o começo, meio e o fim para a felicidade
Agostinho, sempre tão preciso no que diz respeito a Deus, conseguiu com maestria, ao meu ver, demonstrar como Deus é essencial seja na alegria ou tristeza; miséria ou bonança.
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andregynbr 16/03/2021

Aquele vazio interior....
Num de seus aniversários, Santo Agostinho reúne familiares e outros amigos filósofos para um almoço e nele discutem sobre o que realmente seja ser feliz e o caminho para a felicidade.

Em suas reflexões, ele defende que o ser humano está constantemente em busca de preencher um infinito “vazio interior", mas erra em preenchê-lo com coisas de valores "finitos" como bens materiais, relacionamentos e estética, daí nunca se sentir completo e constantemente frustrado.

O caminho para preencher esse vazio de forma eficaz seria buscar algo que o supra de forma igualmente infinita, ou seja, buscar a Deus.

O interessante é que Santo Agostinho, defende que este caminho para se chegar a Deus é necessário usando a fé, mas sempre aliada com a razão, sendo ambos inseparáveis para a religiosidade e o entendimento de Deus.

O livro é uma breve reflexão de pontos como esse e foi uma ótima leitura.

Agostinho de Hipona foi filósofo, teólogo e é considerado o santo padroeiro dos teólogos.
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TalesVR 25/10/2019

Deus-Filosofia
Santo Agostinho foi um verdadeiro mestre da retórica simples e eficiente, é sempre um prazer ler seus escritos. Aqui, nesse ''Diálogo Sobre a a Felicidade'', escrito no início da sua vida sacerdotal, Agostinho afirma que feliz é quem tem Deus, mas em um sentido místico que fascina.

O conceito agostiniano de Deus é diferente do senso comum que permeia a religiosidade brasileira. É algo profundo, que purifica a alma, é a instância máxima da Filosofia, Justiça e Sabedoria. Muito bem dito que aquele que tem tudo que quer não é necessariamente feliz, visto que o prazer desenfreado é inimigo da moderação. Os prazeres podem alimentar o corpo ou a alma, e é a alma que deve ser cultivada com maior propósito, nas palavras de Agostinho.

Enfim, um diálogo curto mas cheio de sentido. Realmente vale a pena ler os clássicos da Filosofia Antiga.
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Lucio 10/05/2018

A 'melhor vida possível'...
Este é um livro de 'juventude' de Agostinho. Ele havia se convertido havia pouco tempo. Os traços do estoicismo estão marcadamente presentes, bem como a aversão aos Acadêmicos - de onde havia se desembaraçado havia pouco tempo. No diálogo, mão, amigos e primos estão presentes e há bons motivos para se acreditar que realmente aconteceu de forma muito próxima à narrada.
É um livro muitíssimo interessante. A leitura é fluida. Raciocínios curtos estão presentes, concatenados para formar uma teoria mais abrangente sobre a felicidade. Algumas partes deverão ser presumidas, pois pressupõe-se a ligação de alguns raciocínios, bem como a boa memória para a recuperação de teses outrora já estabelecidas. Um leitor de Platão notará as semelhanças prontamente no estilo. A leitura muito rápida poderá fazer com que o leitor perca a sutileza dos argumentos - experiência do próprio resenhista, que numa primeira leitura fez pouco caso do livro, julgando ter seu conteúdo sido subsumido no 'Livre-Arbítrio'... mas estávamos enganados!

O livro basicamente trabalha com o seguinte raciocínio. Tal como o corpo carece de alimento, a alma também deseja encher-se e saciar-se. A natureza desse saciar é a grande questão. Estabeleceu-se que todos queremos ser felizes. Na sequência, que ninguém pode ser feliz se não tiver o que quer, mas que ter tudo que quer não implica em ser feliz, já que podemos querer ter algo ruim, que seria melhor se não alcançássemos. É preciso, pois, querer algo bom, e alcançá-lo. Algo é, assim, bom se for acessível sempre que quisermos e se for um bem durável. A conclusão é que nada além de Deus preenche esse requisito. As demais coisas, além de não poderem ser possuídas sem que temamos perdê-las, não são duráveis e não podem saciar definitivamente a alma. É feliz, pois, quem possui a Deus. Mas, embora ele esteja a falar a toda alma para se voltar para ele, não há quem o possua. Estamos a buscá-lo. E estar a buscá-lo é típico da vida de quem age tal como ele prescreve e guarda o espírito sem contaminação. Esta é a vida mais feliz possível, a saber, a da alma que vive a buscar a Deus. A busca por Deus é a busca pela sabedoria, é a busca por Cristo, artífice de todas as coisas, criador do mundo e seu princípio organizador. Conhecer o guia para a verdade, bem como o meio para se unir a ele e a superação da superstição, somando tudo isso às três virtudes teológicas (amor, fé e esperança) é a vida da piedade, a vida mais feliz possível para o homem.

Essa última porção, particularmente, não foi explorada. Está no final do diálogo e parece ter sido jogada às pressas. Muitas dúvidas aparecem. Do que Agostinho estava falando sobre o meio de se unir a Deus? Pensava na conversão, i. e., na fé e no arrependimento pelos pecados? Essa parte redentiva é igualmente pouco explorada, colocada apenas no final. Há algumas afirmações estranhas - e ao mesmo tempo honestas -, tais como ele não saber o que nos colocou no mundo. Há uma leve, tímida sugestão da providência, e ainda mais nebulosa referência à regeneração - ou 'graça'.
E assim o livro segue, deixando algumas lacunas que realmente prejudicam a plena compreensão de todo o texto. No entanto, mesmo com esses problemas, o livro ainda é muito pujante em vários dos raciocínios apresentados e certamente contribuirá para a pesquisa de todos que se interessam pelo tema - para não falar do valor espiritual, pessoal, de algumas elucubrações agostinianas.
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Filino 30/04/2018

Um clássico bastante agradável de se ler
Numa caprichada edição sobre um texto importantíssimo do pensamento agostiniano, o leitor depara-se com as reflexões do bispo de Hipona acerca da felicidade e da sabedoria. A compreensão de tais conceitos, de acordo com o pensador, são indissociáveis da verdade e de Deus.

Estruturado, em sua essência, na forma de diálogo, o texto é bastante didático. A edição, trazendo ainda o texto em latim, também é recheada de notas explicativas que muito auxiliam na compreensão daquelas reflexões e também demonstram a riqueza do próprio texto.
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