Silvio 27/10/2013
Pelas fotos do Google, hoje vejo a Sardenha como uma ilha paradisíaca em que os milionários europeus vão passar as férias com seus iates. Mas no livro, Elio Vittorini nos transporte para uma ilha perdida, em que os homens vivem como que parados no tempo, em contado direto com a natureza bruta do sul da Itália, que pode ser bela mas também cruel.
Trecho
"Em qualquer porta que tenha o aspecto de uma quitanda pergunto se posso comprar alguma fruta. Estou com fome. Mas só tem tomates para vender. Mandam-me de porta em porta, e em todo canto só vendem tomates. Ou cebolas roxas. Depois, como numa inesperada providência, me apontam um rapaz de veludo à caçadora que atravessa a rua. É o primeiro homem que vejo aqui, e ele leva nos ombros uma vara carregada de coisas. Coisas com penas. Perdizes. A três liras o par - oferece.
Mas sinto que alguém me espia. É um velho munumental, em andrajos de veludo. Um curioso do lugarejo. Assim que percebe que tenho a intenção de falar com ele, para cortar conversa, me ataca à queima-roupa perguntamos se viemos a Terranova para caçar.
É verdade, respondo. E até sorrio, tentando inverter o jogo e fazer eu mesmo as perguntas. Mas o velho me esquadrinha da cabeça aos pés, cumprimenta vem voz baixa e me vira as costas… Sabia certamente que não tínhamos vindo para caçar, e minha resposta impensada me tornou, aos seus olhos, indigno de qualquer consideração humana. Entendo que sua pergunta era mais uma exclamação, um modo de expressar seu espanto diante do fato de termos vindo de lá do continente para este seu deserto de caça, sendo que não éramos caçadores.”