Júlia 02/03/2020
Porque reler o diário de Maya Vidal
El Cuaderno de Maya foi um livro que me impactou bastante, a ponto de ser o primeiro livro em prosa que releio por completo, em média dois anos depois da primeira leitura. Entre os motivos para isso talvez esteja a proximidade de idade de Maya Vidal (20 anos) e a minha, e o fato de tratar-se de uma história, de certo modo, de superação de obstáculos e fases obscuras da vida.
É fato que com a releitura pude perceber trechos do diário de Maya que não acrescentam em nada para o desenrolar da história, além da repetição de acontecimentos que já foram tratados anteriormente. Em vários momentos a personagem retorna às lembranças da infância, especialmente as com seu "Popo", o que dá uma certa desacelerada na história sobre seu presente, mas acrescenta riqueza emocional à personagem, visto que nos momentos mais sombrios da história são essas lembranças que a sustentam. Os diálogos mais bonitos se passam entre Maya e seu "popo" e entre ela e Manuel Arias, especialmente tratando do seu amadurecimento sobre afeto e amor.
Ainda sobre os motivos da releitura, noto que os livros de Allende me provocam um certo sentimento de acolhida, como quando descreve a vida de Maya em Chiloé, na casa de Manuel Arias, convivendo com as pessoas peculiares da ilha e conhecendo seus mitos. A vida de Maya antes da adolescência também evoca essa sensação, na casona de Berkeley, com o avô olhando as estrelas e criando teorias sobre um planeta desconhecido, e a avó chilena e mística com interesse por crimes e causas humanitárias. O mundo criado por Allende para Maya é, enfim, um mundo rico, mas não de fantasia, pois até o fim os desafios reais e psicológicos provocam a personagem a crescer e tomar seu lugar no mundo dos adultos, e a seguir sua história de vida reconstruída em uma ilha ao sul do mundo, chamada Chiloé.