Cássia 15/03/2021
E pensar que isso existe!
Alguns livros deixam um embrulho no estômago, um gosto amargo na boca, faz-nos pensar até onde o humano pode chegar, quão doentio pode ser.
Não foi o primeiro livro que li com o tema pedofilia. Mas esse, uma autobiografia que relata um abuso de 14 anos, com uma manipulação mental do abusador, que leva a criança à sexualização precoce e até acreditar numa realidade inexistente, instalada para compensar suas carências infantis, ou uma fuga em lares problemáticos.
O tio bonzinho, que abraça, beija, que põe no colo, leva pra passear, que conquista a confiança de todos, que seduz. Um tio com históricos de pedofilia, que não poderia ter contato com criança, que deveria passar por tratamentos sérios de inibição de testosterona ou sei lá mais o quê, não sou da área, mas deve haver alguma solução pra uma perversão assim, nem que seja a morte.
Porque não é como um vício em drogas, um hábito ruim; trata-se de uma perversão, uma doença, quando o indivíduo não controla seus instintos.
Então, o livro me trouxe uma percepção diferente sobre pedofilia: quando o sedutor envolve mentalmente a vítima e a faz crer em sentimentos que lhe faltam na sua realidade, dão um carinho que ela necessita e invadem a mente frágil de uma criança, se instalando por 14 anos no imaginário dela, tornando-se alguém fundamental. Essa forma maligna de conceber o abuso, o livro me trouxe. E, com essa noção, uma angústia de quanto pode ser frágil a nossa mente adulta, logo, a de uma criança de 7 anos, como é o caso de Margaux, uma pavorosa realidade.