Civilização e outros contos

Civilização e outros contos Eça de Queiroz




Resenhas - Civilização e Outros Contos


1 encontrados | exibindo 1 a 1


Alyson 26/05/2014

Civilização.
Schopenhauer e Eclesiastes...
"A sua confiança nesses dois sombrios explicadores da vida desaparecera, e irremediavelmente, sem poder mais voltar, como uma névoa que o sol espalha. Tremenda Tolice! Afirmar que a vida se compõe, meramente, de uma longa ilusão - é erguer um aparatoso sistema sobre um ponto especial e estreito da vida, deixando fora do sistema toda a vida restante, como uma contradição permanente e soberba. De resto, desses dois ilustres pessimistas, um o alemão, que conhecia ele da vida - dessa vida de que fizera, com doutoral majestade, uma teoria definitiva e dolente? Tudo o que pode conhecer quem, como esse genial farsante, viveu cinquenta anos numa soturna hospedaria de província, levando apenas os óculos dos livros para conversar, á mesa redonda, com o alferes da guarnição! E o outro, o israelita, o homem dos cantares, o muito pedantesco rei de jerusalém, só descobre que a vida é uma ilusão aos setenta e cinco anos, quando o poder lhe escapa das mãos trêmulas, e o seu serralho de trezentas concubinas se torna ridiculamente supérfluo a sua carcaça frígida. Um Dogmatiza funebremente sobre o que não sabe - e o outro sobre o que não pode. Mas que se dê a esse bom Schopenhauer uma vida tão completa e cheia como a de César, e onde estará o seu Schopenhauerismo? Que se restitua a esse sultão, besuntado de literatura, que tanto edificou e professorou em jerusalém, a sua virilidade - onde estará o Eclesiastes? De resto o que importa bendizer ou maldizer da vida?Afortunada ou dolorosa, fecunda ou vã, ela tem de ser vida. Loucos aqueles que, para a atravessar, se embrulham desde logo em pesados véus de tristeza e desilusão, de sorte que sua estrada tudo lhe seja negrume, não só as léguas realmente escuras, mas mesmo aqueles em que cintila um sol amável. Na terra tudo vive - e só o homem sente a dor e a desilusão da vida. E tanto mais as sente, quanto mais alarga e acumula a obra dessa inteligência que o torna homem, e que o separa da restante natureza, impensante e inerte. É no máximo de civilização que ele experimenta o máximo de tédio. A sapiência, portanto, esta em recuar ate esse honesto minimo de civilização, que consiste em ter um teto de colmo, uma leira de terra e o grão para nela semear. Em resumo, para reaver a felicidade, e necessário regressar ao Paraíso."
...Não preciso dizer mais nada.
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR