Henrie 12/10/2016
Para ser lido uma única vez
“Os Pervertidos”, de Harold Robbins, faz juz ao titulo; sendo esse um dos maiores problemas do livro. Nele, somos apresentados a Judd Crane, homem dogmático e arrogante, cuja fortuna o faz o homem mais rico e poderoso do planeta, o que conseqüentemente lhe compete poder e influencia na economia e governo mundiais, inferindo diretamente na vida e destino de milhares de pessoas. Logo, consegue o que quer e quando quer – solenidades de ser um magnata do ramo empresarial.
Já é sabido que o que move qualquer narrativa são os desejos e motivações dos personagens e as ações que tomam para alcançar seus objetivos. Porém, Judd é um personagem vazio e de motivações igualmente vazias, assim como todos os personagens do livro – mal construídos e sem desenvolvimento. Foi o primeiro livro de Harold Robbins que li, e não houve de minha parte empatia com nenhum de seus personagens, o que me desmotivou a ler outro livro seu. Judd é carente de acréscimos empáticos; ambiciona alcançar a imortalidade, desafiar a morte e conhecer os segredos da vida, todavia não foram empregadas a ele motivações que garantissem mais empatia e ligação com o leitor. Sabemos o desejo. E só. É sabido que motivações superficiais não sustentam uma narrativa cativante.
Os personagens possuem forte ligação com o lado mais devasso do sexo, tornando-se incapazes de articular frases sem que a perversão não esteja presente em seus vocabulários. Numa determinada cena, Judd se masturba para sua madrasta, então viúva, não respeitando nem mesmo a memória de seu falecido pai, a quem tanto demonstrava amar e venerar. Há também trechos inúteis e repetitivos, como Judd tentando persuadir uma enfermeira a lhe fazer sexo oral. Os personagens não cativam; até mesmo os mais fundamentais para o desenvolvimento do enredo não foram, infelizmente, aproveitados. Aparecem em poucas cenas, curtas, para logo então sumirem inexplicavelmente, sendo apenas citados no decorrer da trama; caso da Dra. Zabiski, cientista idosa e experiente, responsável por ajudar Judd a alcançar seu maior intento.
Mas a decepção com os personagens pode ser facilmente explicada. Robbins, almejando construir um thriller criativo e repleto de ação, errou justamente aí: focou demais na ação, e não se empenhou nas figuras dramáticas. Muita pesquisa, muita ação, pouca emoção.
A linha de ação do enredo é cortada, perdendo-se a cenas inúteis que contextualizam reuniões de negócios e discursos de poder, visando convencer o leitor o quão poderoso e influente é o protagonista. No entanto, a estratégia não surte efeito como Robbins planejara, enfadando o leitor com tantas cenas de negócios, ricas em diálogos políticos desnecessários. Ainda, confunde o leitor a rápida passagem de tempo, de meses e até anos, sem aviso prévio. Ele se perde, tendo então que se readaptar ao novo ritmo narrativo empregado pelo autor.
A expansão da consciência de Judd na segunda parte do livro foi o ponto mais alto do enredo; admito que, nisso, Robbins me surpreendeu, nos levando a refletir que a imortalidade está além da matéria. Pois o Eu Interior não reconhece a ambição humana como parte dele. Deixa-a escorrer por entre seus dedos, como areia fina, transcendendo o ego e todo o poder que, em mãos, um homem é capaz de possuir.