nina 13/09/2020DECEPCIONADA, MAS PELO MENOS RI
Honestamente, eu nem sei por onde começar a falar desse livro porque foram muitas emoções. Infelizmente, não emoções boas.
A premissa do livro é incrível. Um internato onde alunos misteriosamente morrem só para acordarem no pós-vida e descobrirem um mundo paralelo igualzinho ao nosso, mas para os mortos. E o fato do livro ser nacional só me deixou mais animada. Até eu começar a ler.
Eu comecei a ficar incomodada logo no primeiro capítulo, quando a personagem principal, Lara, recebe a notícia que seu avô paterno morreu e deixou toda sua herança milionária para ela e a família. A condição para que ela receba esse dinheiro é passar um ano em uma escola de elite na Inglaterra onde toda sua família paterna estudou. Até ai tudo bem. Mas o comportamento dela e da família é tão anormal em toda essa situação que me deixou desconfortável. O objetivo de um livro é fazer você se colocar no lugar dos personagens (mesmo que os acontecimentos sejam irreais), mas não foi o que aconteceu aqui. E não foi apenas nesse momento. Ao longo do livro temos vários momentos onde coisas absurdas acontecem e a reação dos personagens não é condizente.
Mas até ai os problemas não eram tão grandes. Quando Lara chega na Escola dos Mortos (sim, ela morre, essa é a sinopse) conhecemos a família Ivanovick, dois irmãos e uma irmã que são as pessoas mais lindas, inteligentes e perfeitas do mundo todo. Num cenário bem cara de drama coreano mesmo, cada vez que um deles entra na sala todos param para olhar e comentar, inclusive os professores. Eles são tão endeusados, principalmente Luka, que chega a ser engraçado de tão absurdo. As meninas gritam quando veem uma foto dele, e se ele chega mesmo a dirigir o olhar para alguém elas brigam entre si por causa da atenção. É absurdo.
Se isso te fez lembrar de Crepúsculo, você lembrou bem. Fora a reação de todo mundo para com essa família, os comportamentos obsessivos são parecidos também, mas piores. Por algum motivo, Luka decide que está apaixonado por Lara (sem razão aparente) e dai começa a maior parte dos problemas desse livro. Ele vira um stalker. Temos cenas dele seguindo ela pela escola (mesmo os dois nunca tendo se falado) e até brigando com garotos que estavam conversando com ela. Por algum motivo Lara acha tudo isso ok e fica lisonjeada de ter um Ivanovick apaixonado por ela. E como sinais vermelhos não mentem, a partir dai temos cada vez cenas mais problemáticas que não vou citar aqui por motivos de spoiler, mas vamos dizer que ele chega a apostar ela. Apostar ela.
Agora sobre a personagem principal, Lara. Eu antipatizei com a Lara logo no começo do livro, quando ela chegou na escola (dos vivos, no caso) e descreveu absolutamente todo mundo como “sem graça e mediano”. Bem arrogante. Lara também age e se parece com absolutamente todo munda da escola e ainda se acha a última bolacha do pacote e muito diferente de todo mundo. O fato de que ela achava os comportamentos abusivos do Luka fofos só pioraram a situação. E, sobre ser brasileira, isso doeu também. Eu tinha a esperança de que, sendo um livro nacional, eu me identificaria com a personagem e teríamos finalmente uma boa representação dos costumes brasileiros expostos no exterior. Não. Por exemplo, em dada cena um personagem pergunta para Lara se ela gosta de futebol, e a resposta dela é “Sim, sou brasileira”. A personalidade brasileira da Lara é tão estereotipada que poderia ter sido escrita por um estado-unidense. Fora isso, ela descreve o Brasil como “sua terra quente e latina”. Isso não seria um problema, se ela não falasse isso absolutamente toda vez que falasse do Brasil. Toda vez. Contem.
Mas o problema da nacionalidade não é só brasileiro. Como essa escola é para a elite do mundo todo, temos personagens de vários países diferentes. No começo somos apresentados à eles como “Mayumi, a japonesa”, “Laila, a árabe”, e “Aisha, a sul-africana”, e outros. Porém, mesmo depois de 600 páginas de livro (sem exagero) os personagens ainda são introduzidos como “Mayumi, a japonesa”, como se nós tivéssemos esquecido o detalhe que ela veio do Japão depois da última menção, dez páginas atrás. Em alguns momentos, o próprio nome é omitido e temos frases como “a japonesa olhou pra mim”.
No meio de tudo isso, a parte mais interessante, que são as perguntas sobre o mundo dos mortos e como ele funciona, quase não são respondidas. Na verdade, temos várias contradições relacionadas ao funcionamento desse mundo. Como por exemplo a autora dizer que mortos não podem ficar bêbados e algumas páginas depois a protagonista estar bêbada. E até agora eu não entendi se o mundo dos mortos é um mundo paralelo ao nosso ou se os mortos são fantasmas.
O livro também tem muitas reviravoltas. Mas, infelizmente, ao invés de termos uma boa reviravolta bem estruturada, várias reviravoltas medianas são jogadas no nosso colo de uma vez. Algumas, honestamente, nem mudaram a história, foram reviravoltas desperdiçadas.
Mas se tem um relacionamento bom nesse livro que merece ser mencionado é o do Luka com seu boné vermelho. Todas as cenas envolvendo esse boné tão amado e (literalmente) adorado pelas fãs do Luka são tão engraçadas que eu voltava o livro só pra reler.
No final, minha nota para o livro teria sido menor se não fosse o caso de ter me divertido muito. Eu ri tanto em tantas horas que chegou até a valer a pena as 988 páginas de livro. Mas ao mesmo tempo me deixou muito irritada, principalmente o comportamento do Luka. Fiquei muito preocupada de ver tantos comentários falando como ele é perfeito. Gente, isso é relacionamento abusivo. Não é porque ele é bonito e diz que te ama que o que ele faz é certo. Fora isso, pretendo ler o segundo livro para me divertir um pouco mais com as cenas do boné.