seufuviu 17/03/2009
O quadrilátero urbano, uma polissemia das transgressões.
O livro escrito por Hiroito de Moraes, desenha um quadrilátero do baixo-mundo do crime paulista em sua época de culminância, com os traços do discurso sociológico do mais famoso dos bandidos naquele contexto. É a geometria sócio-urbana da criminalidade na maior cidade brasileira – São Paulo – que começou a se configurar em meados da década de 60 para se desfigurar nos finais da década de 70 - denominado de “Boca do Lixo”, isto é, ali - naquele espaço corpóreo do sexo pago ou conquistado nas línguas mais agudas dos seus atores sociais, se distinguia como a boca do rosto da marginalidade da paulicéia desvairada, com os diversos significados de seus papéis naquele cenário antropofágico, “a boca fascinava pela sua frequência heterogênea” (Hiroito, pág.9): bandidos, delinqüentes, prostitutas, rufiões, traficantes, reprimidos sexuais, policiais etc; uma bocarra desdentada & dilacerada pela miséria sexual & pela violência de suas atitudes, que possuía a faceta de ser romântica, porém brutal.
O autor, conhecido e perseguido como o “Rei da Boca do Lixo”, desconstrói a moral da imprensa burguesa e seus latifúndios sensacionalistas, para resignificar o trajeto humano dos sujeitos ali embrionários, através de uma sugestão importante:
“Talvez, para espanto de alguns, os delinquentes, apesar sos seus atos criminosos, da licenciosidade de suas condutas, dos seus desregramentos e vícios, são também, todos, seres humanos – sujeitos portanto às mesmas dores e alegrias, tristezas e prazeres, entusiasmos e angústias que sentem e sofrem os mais puros de espírito”.(Hiroito, pág.9)
Não deixem de ler, vale a pena entender toda aquela diversidade, em pleno regime militar.