Capitu 21/09/2020
Para corações deprimidos e apaixonados
Charneca em Flor é um volume de poemas da escritora Florbela Espanca, publicado em 1931 após sua morte. São sonetos simples de uma mulher que está sempre em busca do amor, são poemas melosos e românticos, que me fazem voltar aos meus 13 anos de idade e ao sofrimento da minha primeira paixão.
Florbela Espanca sabe usar com destreza a arte da palavra, escreve com sutileza e muita beleza, seus poemas apesar de simples, trazem uma grande carga emocional para quem lê. O livro Charneca em Flor traz temas como o descanso após a morte, a sensualidade implícita, a busca pela reciprocidade do amor, a tragédia. O que eu acho mais interessante é sentir esse peso e essa avalanche de emoções mesmo ela usando palavras tão bonitas que nos remetem ao paraíso e ao sagrado, mesmo estando no inferno emocional, Florbela me transportou para os lugares mais lindos através de sua poesia.
Florbela Espanca foi uma notável poetisa, mas sua vida não foi nada fácil, filha de um relacionamento extraconjugal do pai com a empregada, ela e seu irmão Apeles, o qual era muito ligada. Perdeu a mãe muito cedo, casou-se 3 vezes e teve alguns abortos, e ao fim de sua vida descobrira que sofria de neurose, tentou dois suicídios e o terceiro foi fatal. Em vida fora uma brilhante poetisa, que cursou Letras e Direito e ganhou importantes prêmios: Prémio António Vaz Leitão; Prémio de Literatura Portuguesa; Nós Poéticos.
Curiosidades:
.Florbela Espanca foi contemporânea de Fernando Pessoa, há uma dúvida de que após a morte de Florbela, Fernando tenha escrito um poema em sua memória, mas isso não foi confirmado, mas foi achado nos espólios dele:
À MEMÓRIA DE FLORBELA ESPANCA
Dorme, dorme, alma sonhadora,
Irmã gémea da minha!
Tua alma, assim como a minha,
Rasgando as nuvens pairava
Por cima dos outros,
À procura de mundos novos,
Mais belos, mais perfeitos, mais felizes.
Criatura estranha, espírito irrequieto,
Cheio de ansiedade,
Assim como eu, criavas mundos novos,
Lindos como os teus sonhos,
E vivias neles, vivias sonhando como eu.
Dorme, dorme, alma sonhadora,
Irmã gémea da minha!
Já que em vida não tinhas descanso,
Se existe a paz na sepultura:
A paz seja contigo!
. Outra curiosidade é o poema FANATISMO interpretado na música composta por dois ótimos músicos brasileiros Zé Ramalho e Fagner.
Fanatismo
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist'rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!...
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."
"Livro de Sóror Saudade"