Mila 15/01/2012
"Um mundo sem pobreza" (o conceito dentro do livro) é uma obra de gênio.
Sobre o livro, posso dizer que me encantou.
Infelizmente, comprei o traduzido pela facilidade e preço. Não posso dizer que a tradução é ruim, deu o recado muito bem. Mas, tenho uma resistência contra livros traduzidos. Não vi nada gritante nessa versão para Português do livro do Prof. Yunus, mas é muito fácil perceber frases com construções não utilizadas no nosso idioma. Isso, já de início, me desagrada. Questão de gosto. Mas, tudo bem, o livro é interessante o suficiente para me fazer ultrapassar este problema e me encantar com a beleza das idéias desse grande homem.
Prof. Muhammad Yunus - também autor do livro "O Banqueiro dos Pobres" - foi, juntamente com o Banco Grameen (de sua criação), o ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006. O leitor deve estar se perguntando como um "banqueiro" ganhou um prêmio Nobel da Paz em vez do da Economia ou similar.... pois é, na verdade, tudo o que o prof. Yunus faz tem o objetivo maior de alcançar a paz mundial. Ele luta há anos contra a pobreza que avassala seu país natal, Bangladesh. E acredita que, quanto menos pobreza, menos guerras, menos inveja, menos revolta... mais paz.
Homem de aparência doce, tranquila, é um verdadeiro leão na luta a que se propôe. Doutor em Economia, Docente da Universidade de Daca, Prof. Yunus começou sua caminhada contra a pobreza após se dar conta das dificuldades financeiras dos povos que moravam nas proximidades da universidade onde lecionava. Decepcionado com o sistema capitalista - segundo ele, cheio de teorias bonitas mas ineficazes contra a pobreza - pesquisou a fundo a vida dos aldeãos das aldeias próximas. Descobriu que muitos deles eram terrivelmente explorados por agiotas. Ajudado por alguns de seus alunos, fez uma lista dos empréstimos que os aldeãos pegavam para comprar matéria-prima para fabricação de artefatos de vime, e emprestou, do próprio bolso, àquelas 42 pessoas o total de US$ 27 (!!). Os pobres tomadores daquele pequeno empréstimo devolveram o dinheiro conforme acordado. Assim, prof. Yunus se deu conta de que poderia fazer a diferença. Difundia-se aí o conceito do microcrédito. Foi por sua coragem e determinação que surgiu o Banco Grameen, organização mundialmente famosa que já auxiliou milhões de pessoas pobres na luta para sair da pobreza.
Após esse empreendimento de sucesso, e não satisfeito com o que já havia alcançado, Prof. Yunus lançou outros projetos de tanta importância quanto o primeiro, vários inclusive seguindo o conceito criado por ele de empresa social. A Fundação Grameen, é detentora de outras inúmeros empreendimentos nas mais diversas áreas.
Em 2007, após um período de estudo e construção, a Fundação Grameen, juntamente com a multinacional francesa Danone, lançou a joint venture Grameen Danone. Uma empresa social com o objetivo de fornecer iogurtes altamente nutritivos a preços bem baixos para as crianças desnutridas de Bangladesh.
A descrição do projeto, desde o primeiro encontro com o presidente da Danone Sr. Franck Riboud até o lançamento da fábrica de iogurtes, é empolgante. Achei tudo tão fantástico que teria continuado lendo sobre a criação da empresa horas a fio.
Outro projeto interessante é da Fundação Green Children, que já abriu em Bangladesh, um hospital de olhos com preços diferenciados para os pobres. O projeto é ambicioso e pretende virar uma cadeia de hospitais. Esse projeto foi desenvolvido com os músicos Milla Sunde e Tom Bevan, da banda The Green Children.
Este grande homem nos pede que pensemos sobre nossas vidas, sobre o motivo de nossa existência e lamenta "estamos tão ocupados com o nosso trabalho diário, vivendo nossa vida, que esquecemos de olhar pela janela e descobrir onde estamos nesse exato momento da nossa jornada". Como incentivo ao raciocínio ele diz "quando soubermos onde queremos ir, chegar lá será muito mais fácil" .
Prof. Yunus fala muito sobre a educação e a função da escola. Hoje em dia estamos todos sendo preparados para seguir o método capitalista, o dinheiro acima de tudo. Estudamos anos a fio seguindo as mesmas teorias econômicas, administrativas e sociais. Estamos sendo ensinados a pensar "dentro da caixa". Nossas idéias não são livres, não somos nem de longe empreendedores no pensamento. Prof. Yunus, em nenhum momento menciona religião, filosofia ou coisa do gênero, mas seus atos e pensamentos são prova concreta de que ele é seguidor da melhor dentre todas as religiões: a religião do AMOR.
Ele também nos adverte quanto às limitações impostas pela sociedade. É realmente um perigo nos acostumarmos ao pessimismo e ficarmos "dentro da caixa" acreditando que o que queremos é impossível, ou pior, acreditando que queremos o que os outros querem, robotizando nossas vidas.
Prof. Yunus é um exemplo vivo de persistência e confiança em si, em suas idéias. Acima de tudo, confiança em suas intenções.
Sabiamente, ele não apoia programas assistencialistas como os que temos no Brasil, Bolsa Família, Bolsa Escola, bolsa geladeira, bolsa cerveja, bolsa chambinho, bolsa coca-cola, bolsa turismo, bolsa bichinho de estimação, bolsa não sei mais o quê, bolsa tal e tal..... diz que aceita que o Estado dê dinheiro aos mais pobres, mas somente para que sirva de ponte para que os pobres alcancem a independência financeira. Prof. Yunus defende o estímulo ao empreendedorismo inato no ser humano e é para isso que levanta a bandeira da concessão do microcrédito à população de baixa renda, pequenos empréstimos a juros baixos e sem garantia de pagamento por parte do tomador. Incrivelmente a taxa de pagamento dos empréstimos que concede aos pobre de Bangladesh é de aproximadamente 98%. Nem um banco comercial com todas as precauções consegue este feito.
Prof. Yunus esteve no Brasil em 2008 para participar de um evento sobre gestão dirigido a executivos. Nessa ocasião se encontrou com o então presidente Sr. Lula.
Eu realmente gostaria de ver o Brasil seguindo os conceitos pregados pelo Prof. Yunus. Dar aos pobres não é suficiente. Ele mesmo diz que o dinheiro doado só faz bem uma vez e acaba. Mas uma fundação como o Grameen, ou como uma empresa social, está sempre renovando o dinheiro, extendendo o benefício a outras pessoas.
Não preciso nem falar o quanto eu gostei de ter lido "Um Mundo Sem Pobreza", não é?