Bruno Oliveira 24/08/2012Lançado na década de 70, quando fez um enorme "bum" que deveria repercutir ainda hoje, o livro trata de um assunto comentado em voz baixa nos corredores das escolas de humanidades: a filosofia brasileira. O autor trata tanto de algumas das manifestações existentes, mostrando as influências as quais ela se submete, quanto da situação geral da filosofia no país, que é propriamente sua tônica. Chega a ser assustador em várias passagens quando vemos nossos pudores, nossas taras sendo expostas como sendo o que são: vícios os quais engolimos sem mastigar.
Roberto Gomes discute a filosofia fazendo paralelos com a história, mas, principalmente, com a literatura, mostrando que, ao contrário do que deseja a pretensão totalizante e anti-histórica da filosofia, estamos situados num tempo histórico bastante determinado, devendo não fugir, mas se apropriar dele - é tudo o que temos. Há um diálogo constante com Machado e os Modernistas, que servem como exemplo de artistas que, embora sofram influência externa (Européia, sobretudo), apropriam-se dela ao invés de meramente reproduzi-la. Enfim, para qualquer um que queira produzir uma filosofia que não seja apenas o estudo histórico da mesma (o que eu não acho de modo algum ruim ou inferior), "Critica da razão tupiniquim" deve se tornar um livro de cabeceira e não apenas mais uma leitura. Comprei pela estante virtual (uns R$8,00), mas deve ter em qualquer sebo. Cito um trecho (que, aliás, lembra Galileu) para quem interessar:
"Com grande aborrecimento noto o excesso de escrúpulos de nossos praticantes de Filosofia, esmerando-se em permanecer fiéis aos textos, questões e sistemas dos mestres europeus. A máxima fidelidade a um mestre é abandoná-lo. É jamais deixa r que seu pensamento vire fórmula vazia. Não deixar que a originalidade de sua intuição morra na esterilidade de um conceito."