Alexandre Kovacs / Mundo de K 18/02/2011
William Carlos Williams
Editora Companhia das Letras - 272 páginas - Tradução e Introdução de José Paulo Paes - Lançamento 1987.
Diferente de seus contemporâneos Ezra Pound e T. S. Eliot que buscaram inspiração na poesia europeia e também nos clássicos gregos e latinos, chineses e japoneses, William Carlos Williams (1883 - 1963) encontrou o ritmo de sua poesia na própria índole do povo americano, tendo nascido e morrido em Rutherford, uma pequena cidade de Nova Jersey próxima de Nova York. Ele achava que "não há ideias senão nas coisas" e que "deveria escrever como um médico trabalha, sobre a coisa que tem diante de si, descobrindo o universal no particular". Williams participou do movimento chamado de "Imaginismo" com base na apreensão das coisas naturais e dos pequenos fenômenos sociais. Imagens concretas, precisas, claras, fala comum e pormenores despretensiosos. Apesar desta fase inicial, acabou escrevendo, já no final de sua carreira, um longo poema épico chamado "Paterson" que foi considerado pela crítica uma obra à altura de "Finnegans Wake" de James Joyce ou "Waste Land" de Eliot.
Williams foi nomeado para a cadeira de poesia da Biblioteca do Congresso em 1949, mas a sua nomeação foi cancelada devido às suas supostas simpatias esquerdistas e também por suas antigas relações com Ezra Pound que, neste período, fora internado em um hospital psiquiátrico depois de ter sido devolvido para os EUA como traidor e propagantista do regime fascista italiano.
Um dos mais curtos e famosos poemas de Williams é "O Carrinho de mão vermelho", um poema sem qualquer pontuação ou métrica e onde, após um enigmático início: "tanta coisa depende", uma simples cena do dia-a-dia é revisitada e sua intensidade marcada pelos contrastes de cor e brilho: "vermelho", "esmaltado", "brancas", convertendo-se o local em universal. Este momento banal é eternizado pela poesia e, afinal, o que mais um poeta pode querer?
The red wheelbarrow
(William Carlos Williams)
so much depends
upon
a red wheel
barrow
glazed with rain
water
beside the white
chickens
O carrinho de mão vermelho
(tradução de José Carlos Paes)
tanta coisa depende
de um
carrinho de mão
vermelho
esmaltado de água de
chuva
ao lado das galinhas
brancas