A casa da paixão

A casa da paixão Nélida Piñon




Resenhas - A casa da paixão


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legarcia 30/12/2023

O feminino e o masculino em todos nós
Faz um bom tempo que não tinha experenciado uma leitura não prazerosa, mas ?a casa da paixão? foi assim para mim. Provavelmente a escolha da obra para me introduzir na prosa da autora não tenha sido muito didática, já que não tive contanto prévio com as ideias de Nélida e nem de seu projeto literário que foram explorados nesse livro.

Aqui temos Marta como personagem central, uma mulher que está contra os padrões patriarcais e muitas vezes os subverte. Ela é descrita como se fosse a figura masculina, mais dominante na relação. Isso indica uma demonstração de que, para que o amor dela com Gerônimo se realize, é preciso uma reconfiguração comportamental no padrão social.

Gerônimo é o homem escolhido pelo pai de Marta, o qual nutria desejos incestuosos pela filha, como seu representante para tomar a mulher. Entretanto, Gerônimo aceita as condições de Marta e banha-se no rio, aceitando o feminino em si.

Marta deseja o sexo, mas quer um homem que tenha tanto do feminino e do masculino, bem como ela própria busca esses dois lados em si. Dessa forma, com as duas energias em equilíbrio em ambos, a relação pode ocorrer de forma mais harmoniosa e funcional, na opinião da mulher.

Como já mencionado, a leitura não foi prazerosa para mim. Entretanto, meu gosto pessoal não me impede de reconhecer a grande qualidade da obra. E consigo perceber claramente que a imensa quantidade de simbologia e lirismo, os quais, para mim, tornam a leitura cansativa, foram uma escolha técnica extremamente acertada da autora. Essa linguagem simbólica é ideal para retratar a psicologia da personagem, de seu subconsciente. E é dessa forma que o livro trabalha, com o interno de Marta, e nada mais necessário que os símbolos para acessar essa camada psicologica.

Por fim, apesar do contato inicial não ter sido dos mais cativantes para mim, após refletir e estudar um pouco a obra, senti-me muito enriquecida pela leitura, tanto pelas discussões que pode gerar quanto pela imensa qualidade literária do livro. Já tive contato com alguns contos da autora e é inegável que sua escrita possui muita beleza.
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Isa 13/12/2023

Gutural!!
Um livro inebriante em que Nélida Piñon mais uma vez me encanta com a tessitura de sua escrita sinestésica, com uma construção envolvente das personagens. Fico em êxtase com as linhas tênues entre a realidade e o simbolismo onírico que ela transpõe para uma trama em que é possível sentir a textura da linguagem. Desta vez, Nélida retrata o ímpeto da sexualidade feminina, explora a centralidade do corpo no mundo, mesclando-o com a natureza, com os instintos humanos com as sensações e emoções ancestrais. Nélida adentra até o início de tudo, e desvenda sua enigmática obra, ao mesmo tempo tão simples e clara, levando-nos por uma aventura nos confins de nosso interior. Uma obra de arte ousada que nos descobre em um tempo em que ainda nos desviamos da essência sensual e poética do que somos.
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Karen 08/12/2023

Mirou na Clarice Lispector acertou 50 tons de cinza
Uma escrita diferente, em MUITO me lembrou os simbolismos usados por Clarice em sua escrita - o que, convenhamos, é um ponto positivo.
Ocorre que, divagou, divagou, divagou, erotizou, erotizou, erotizou... a história em si seria um conto de 20 a 30 páginas.
"(...): o pai fingiu não perceber os caprichos daquela mulher que em vez de nascer para o mundo havia nascido para viver dentro dela mesma,..."
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carolina :) 12/09/2023

Tu tinhas o que dizer, nélida
Eu mergulhei nessa narrativa sem saber o que esperar, fui surpreendida com algo forte e cheio de passagens que me fizeram sentir algo lá do fundo. As relações de uma menina com um pai que é a representação rígida e cheia de camadas de um homem não muito agradável, e um romance que até certo ponto tenta achar espaços pra invadir uma liberdade que nunca iria ser concedida.
É um livro difícil de ler, exige bastante atenção e algo de reparar nos detalhes, é repleto de metáforas que ficam abertas a interpretação. Eu não gostei do final do livro, não sei dizer exatamente como me desagradou, mas espontaneamente não me satisfez.
Tenho que dar atenção a maestria da linguagem para Piñon demonstrar o desejo e sexualidade de uma mulher que começa a descobrir o prazer, e que não vê vergonha em sentir; essa descoberta que não necessita de um homem para trazer a tona.
Reside nessa coisa digna e que necessita de tanta coragem pra ser retratado na época que foi lançado. Este livro não é sobre os outros, traz algo de essência sobre tomar conhecimento de si mesma e sobre suas vontades, tomando frente da sua própria vida e tornando-se protagonista da narrativa, como é dito: ?Odeio os homens desta terra, amo os corpos dos homens desta terra, cada membro que eles possuem e me mostram, para que eu me abra em esplendor, mas só me terão quando eu ordenar?. (PIÑON, 1972, p. 48).
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RaquelTerezani 10/07/2023

Não entendi
Pela primeira vez em muito tempo, me senti burra lendo um livro.
Achei a escrita extremamente difícil e a leitura se arrastou. O enredo é simples ou eu que realmente não entendi nada? Confesso que nem sei se gostei ou não da história. Numa clara fase de arrogância, achei estar preparada para qualquer livro e, bom, não estou.
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Jacque Spotto 31/01/2023

A casa da paixão é a primeira obra que leio de Nélida e apesar de adorar livros em prosa poética, aqui demorei algumas páginas para poder me conectar até me acostumar com sua escrita. 

A história se passa na convivência familiar entre o pai e sua filha Marta, uma jovem que está se descobrindo e tem uma conexão muito forte como os elementos da natureza. Nélida descreve muito bem essa ligação, como se Marta e a natureza fossem parte de um organismo só, e a jovem se satisfazia sozinha entre eles. O sol (como elemento masculino), a terra e plantas como (elemento feminino, ou sendo a própria Marta). 

Já o pai de Marta têm sentimentos ambíguos em relação a filha, às vezes de paternidade e outras vezes inclinações incestuosas, que ele mesmo busca esconder até mesmo de si. Mas tanto um sentimento quanto o outro mostra a forma patriarcal em relação a moça. Suas atitudes de querer cuidar da filha e a manter por perto e ao mesmo tempo desejá-la e culpá-la por seus desejos, deixa a relação insustentável.
O pai busca até mesmo vingar na filha por seus próprios pecados, buscando um rapaz, Jerônimo, para morar com a filha e ?fazê-la mulher?.

A história apresenta muitos elementos sensuais e sexuais, mas Nélida se utiliza da metáfora como aliada nesses momentos, deixando vários fragmentos implícidos e levando a pessoa leitora a fazer suas próprias análises visuais, claro que nem todos as descrições são tão veladas.

?[...], Marta talvez uma ruína ante a obsessão do homem, ele agia de modo a ser um animal livre, a interioridade densa do solo. Marta, ele condensou suas esperanças, via-se a exaustão no rosto contraído, ele era criatura perplexa e intumescida, adquiria seu membro afinal a consistência do ferro, [...] (p. 120-121)

Nélida apresenta muito bem a situação da mulher, objetificada e submetida as vontades do homem, seja pai, ou qualquer um que se apresente como o sexo oposto, ou seja, o homem. A mulher não tem sua liberdade , ela está disposição, o que faz com que Marta não apenas lute pelo domínio de sua vida como de seu corpo e seus próprios desejos.
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Jonathan Vicente 11/01/2023

Esperava mais desse livro, meio decepcionado mas é aquilo que sempre conversamos. Livros funcionam e não funcionam para cada pessoa.
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Felibalex 12/10/2022

Uma história de sensações
A frente do tempo, o livro narra de maneira explícita o prazer e o desejo da narradora. Extremamente feminista, a história apresenta diversos pontos para quebrar tábua em relação ao corpo e ao tesão das mulheres. Infelizmente a escrita é um pouco enrolada e confusa, fazendo com que você se perca, mas no geral a leitura é interessante.
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voandocomlivros 27/09/2022

☀ "Agora o calor do sol invade todo o nosso reino sanguíneo, podiam viver a morte e não morrer."


O título do romance fala por si! "A casa da paixão" é uma explosão de desejos de todos os tipos: do corpo, da natureza, da mente, da alma... Por outro lado, a descrença, a incompreensão e a intolerância do homem também reverberam nas páginas.


Esses elementos caminham juntos por todo o romance. Nesse livro (é o único que li da autora por enquanto, então estou me baseando apenas nele), a escrita da Nélida é pura, sem modéstia ou embelezamento. E por ironia, essa falta de embelezamento é tão natural que deixa as passagens belíssimas.


☀ "Sol abrasando o lombo, descasca minha pele, aspereza tão digital que me faço água no vasilhame, aceito a forma que ele me dá. Sou a carne que ele desnuda. E a paixão da minha carne, afinal decidida à força dos raios, é semelhante aos que se destinam à morte."


As falas das personagens se misturam em um mesmo diálogo transmitindo uma união, como se os pensamentos de uma tivessem se diluindo na outra, causando uma fluidez no texto e na leitura.


Essa prosa-poética intimista de transgressão se passa em uma espécie de sertão. Acompanhamos o desabrochar sexual da personagem Marta. O autodescobrimento da protagonista Marta me lembrou de Loreley, do livro "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", da Clarice Lispector, que eu tanto amo.

A sexualidade feminina abordada no livro é quase que mitológica. E apesar de eu ter ficado bem triste com o desfecho, acredito que nessa obra, o que importa é a viagem e as sensações despertadas, mais do que a história em si.



Sobre a autora:

"Carioca, Nélida Piñon estreou em 1961 com o romance Guia-mapa deGabriel Arcanjo. Ao longo de sua carreira, colaborou em publicações nacionais e estrangeiras, proferiu conferências em diversos países e foi traduzida para diversas línguas. É catedrática da Universidade de Miami desde 1990, havendo sido escritora-visitante das universidades de Harvard, Columbia, Johns Hopkins e Georgetown. Recebeu os prêmios brasileiros Golfinho de Ouro, Mário de Andrade e Jabuti ― este, de melhor romance e livro de ficção de 2005, por Vozes do deserto. E os internacionais Juan Rulfo, do México; Jorge Isaacs, da Colômbia; Gabriela Mistral, do Chile; Rosalía de Castro, e Menéndez Pelayo, da Espanha. Em 2005, pelo conjunto de sua obra, recebeu o importante Príncipe de Astúrias. É doutora honoris causa das universidades Poitiers, Santiago de Compostela, Rutgers, Florida Atlantic, Montreal e UNAM. Em 1990, foi empossada como imortal pela Academia Brasileira de Letras e, em 1996, por ocasião do centenário da Academia, tornou-se a primeira mulher a presidi-la. Em 2012, foi nomeada Embaixadora Ibero-Americana da Cultura."

site: https://www.voandocomlivros.com/post/a-casa-da-paix%C3%A3o-resenha
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Yali 23/07/2022

Um livro único
Um livro bastante interessante que aborda temas como lesbianismo, masturbação e desejo sexual feminino de uma maneira muito particular, muito própria. A Nélida Piñon tem uma maneira muito original de escrever, meio poética, meio agressiva, se vc se afinar coma escrita ou pelo menos se acostumar a história será uma experiência incrível.
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Mariana Dal Chico 18/07/2022

Nélida Piñon é uma grande autora brasileira que eu conhecia apenas de nome, mas ainda não tinha tido a oportunidade de conhecer sua obra e resolvi começar por “A Casa da Paixão”.

Romance publicado em 1972 que agora ganhou nova identidade visual e prefácio de Sérgio Abranches pela @EditoraRecord que me enviou um exemplar de cortesia.

O primeiro impacto causado pela leitura me deixou um tanto atordoada, precisei reler o primeiro capítulo para compreender a linguagem da autora e me conformar que essa é uma história que não tem delineados precisos. A narrativa é, ao mesmo tempo, crua e poética.

Depois dessa derrapada inicial, a leitura fluiu e gostei muito da experiência.

Marta, a jovem protagonista, não adota o comportamento que é esperado das mulheres, não esconde seus desejos. Pelo contrário, abre seu corpo em febre para se alimentar do sol, em meio à natureza. Alvo da obsessão de todos os homens, inclusive de seu pai, Marta é completamente dona do seu corpo.

“(…) Odeio os homens dessa terra, amo os corpos dos homens dessa terra, cada membro que eles possuem e me mostram, para que eu me abra em esplendor, mas só me terão quando eu ordenar. (…)” p.65

Patriarcado, machismo, estupro marital, emancipação feminina e desejo sexual, são alguns do temas abordados nesse livro, que me deixou curiosa para ler outras obras da autora.

site: https://www.instagram.com/p/CgKaRVQrNQJ/
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Nélio 14/01/2021

A pergunta é simples: agradou?
A resposta é mais simples ainda: não!
Vale a pena ler? Talvez! Depende do desejo da pessoa.
Foi minha primeira leitura do meu Desafio Literário de 2021. A pedida era um livro de um imortal da ABL.
E desafio é isto mesmo: ler algo diferente do costume. Foi o caso! Há muito queria ler algo da autora, mas não me aventurava a comprar o que parecia me agradar, e o que tenho não me interessava muito. Eis que escolho um só pelo título, pela resenha de divulgação e porque achei em ebook.
Ah, também vale lembrar que um dos meus desejos para o ano é ler mais escritoras (brasileiras, contemporâneas) ...
Até aí, tudo bem!
Iniciada a leitura, veio a maçada!
É um livro cheio de erotismo, sem ser pornográfico. Cheio de metáforas e carregado de construções que sugerem muito, cheio de imagens poéticas e silêncios... Há uma variação no foco narrativo entre personagens que até é legal, mas há misturas de discursos diretos, indiretos e indiretos-livres que, para mim, gerou muita confusão. Me perdia, sem saber quem estava falando. Percebe-se que é o estilo que a autora empregou na sua escrita, mas seu estilo de escrita não me agradou. A obra é introspectiva, cujo foco é na intimidade da protagonista e no despertar da consciência sobre o seu corpo e o corpo do outro.
Marta fala e tudo vê a partir da sexualidade. Ela – sexualmente - enfrenta, provoca, luta com o pai, por exemplo. Inclusive há muitas sutilezas que uma leitura atenta desnuda, nos fazendo ficar de boca aberta...
Atenção: não há contato físico entre ela e o pai! Mas ela é o objeto de seu desejo.
Pontos positivos:
1. Empoderamento da mulher;
2. Esculhamba com o patriarcado e com a objetificação sexual da mulher;
3. Há uma clara referência ao ovo e a galinha de Clarice Lispector. Inclusive porque ajuda a entender o conto! Além disso, me lembrou também do melhor livro que li de Clarice: “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”.
4.O livro foi publicado na década de 1970 – quanto tempo, né! – e traz uma “erotização do verbo” (palavras da autora) bem construída (caminho pouco explorado por escritoras brasileiras da época).
Ponto alto da obra: a cena de amor no final do livro.
Por que não gostei?
Não sei explicar!
Façamos assim: leia e me conte o que acha!
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Raphael 26/12/2020

"O mais belo texto erótico da língua portuguesa"
O mais belo texto erótico da língua portuguesa - teria dito o escritor português Almeida Faria a respeito de "A Casa da Paixão", de Nélida Piñon. A plataforma ficcional do erotismo feminino - teria considerado a escritora estadunidense Toni Morrison, segundo relata a autora em uma recente entrevista.

O próprio título do livro - "A casa da paixão" - é uma metáfora sobre o corpo feminino. Um texto erótico, sim, mas de um erotismo mediado por uma poética carregada de símbolos e metáforas, que subverte o que a autora uma vez chamou de "sintaxe bem-comportada". Não vou mentir. Não é uma leitura fácil. Eu diria até que foi a leitura mais desafiadora do ano e eu mesmo sinto que há diversas passagens cujo sentido eu não alcancei ou não estou seguro de tê-las interpretado adequadamente. Seguramente demandará novas leituras.

Em linhas gerais, "A Casa da Paixão" conta a história de Marta, uma jovem enfrentando um ritual de passagem, qual seja o da descoberta do próprio corpo, da própria sexualidade, do desejo. Órfã de mãe desde cedo, Marta é criada por uma ama, de nome Antônia, e pelo pai - um homem torturado por desejos incestuosos em relação à própria filha e que, não podendo tê-la, vive a persegui-la e a tiranizar-lhe a existência. Marta, no entanto, não se dobra aos desígnios do pai. Rebela-se e decide que não se sujeitará ao homem escolhido pelo pai, nem aceitará que este determine o seu destino. Diz a certa altura: "Odeio os homens desta terra, amo os corpos dos homens desta terra, cada membro que eles possuem e me mostram, para que eu me abra em esplendor, mas só me terão quando eu ordenar."

Em certa medida, "A Casa da Paixão" é um grito em favor da libertação da mulher, a proclamar a legitimidade do desejo sexual e da relação desta com o próprio corpo, tradicionalmente atrelada, no contexto de uma cultura judaica-cristã, ao signo do pecado, do profano. Aliás, tenho a impressão de que a narrativa parece redesenhar as fronteiras entre o sagrado e o profano, sacralizando o sexo, a comunhão ritual que se realiza no altar do corpo, rejeitando a introjeção da culpa pela religião em favor da aceitação de um impulso natural.

Por fim, destaco: não é à toa que este texto foi publicado no contexto de uma coleção intitulada "Mestres da Literatura Brasileira e Portuguesa". Nélida Piñon merece mesmo este destaque, compondo o panteão dos maiores escritores da língua portuguesa. Gênio!
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