Bianquinha 09/05/2016
Apaixonadas por Livros - Otelo
Foi bem difícil para mim escrever essa resenha, sentia que não conseguiria nunca fazer jus ao que li, mas depois de muitas pesquisas sobre o autor e suas publicações, me arrisco a escrever sobre ela.
Este é o Otelo que o leitor o encontra no início desta tragédia. O ideal renascentista, um herói arquetípico, seguro de si, valente e honrado, no autocontrole completo quando falsamente acusado de forçar Desdêmona, filha de um nobre, a se casar com ele. Quando confrontado pelo Duque, o seu fundamento de defesa brilha com esplêndida poesia, calma dignidade e a voz da razão, encantando a todos que ouvem o seu monólogo refinado.
Mas Otelo também é um negro Africano, conhecido como O Mouro, um general do exército veneziano e um cristão. Ele é o epítome de muitos paradoxos estereotipados que coexistem nele, e isso, de alguma forma antecipa o desastre, pois existem forças do mal que atraem o homem crédulo a ceder aos instintos selvagens de sua natureza dupla.
Ironicamente, o nome de Otelo é revestido de valor no Ato I, nenhuma sentença é imposta a ele e sua vida é poupada, mas seus votos virão a ser sombriamente proféticos quando ele não concede a inocente Desdêmona o mesmo tratamento durante o brutal Ato V.
Esta é a outra face de Otelo, a besta bárbara que possui o homem e o transforma em um “monstro civilizado”, em sua imagem oposta, o bom cristão torna-se turbulento, em um “animal dicotômico”, que cego pela raiva e ciúme, mata a esposa Desdêmona acreditando que ela tenha sido infiel a ele com o tenente Cassio.
Na raiz desse desenvolvimento violento, há o maligno Iago, o mais vilão dos vilões cuja fundamentação para os seus atos é simplesmente a maldade. Nunca um personagem foi tão dúbio em suas maquinações, sua loquaz moralidade direta e honesta, de modo abertamente traiçoeiro e sua misantropia tão sublime é revelada no fluxo perpétuo de seu esplendor verbal, onde há lugar para juramentos rimados, trocadilhos sexuais e imagens degradantes de animais.
“Amor e dever” estão em desacordo e são radicalmente confrontados nesta tragédia estranhamente poderosa ainda em movimento. Pode-se localizá-los entre pai e filha, marido e mulher. Muito além do mito cristão caindo em tentação e as manobras do diabo que influenciaram séculos de sermões, lendas e fábulas, além do crime de paixão, existe um padrão de interagir opostos; preto versus branco, cristão versus pagão, civilizado versus desumano, honesto versus desonesto.
È complicado em certos momentos entender a obra do autor, mas não é difícil notar a grandeza do que está escrito e vislumbrar todos os aspectos psicológicos realistas inseridos nela, o uso de símbolos para descrever os sentimentos e ao lê-lo, o leitor se sente introduzido em algo maior, secular e mesmo assim atual.
Muitos podem classificar a leitura de clássicos como enfadonha, mas eu, sinceramente, só consigo rotulá-la de engrandecedora.
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