Bright Star

Bright Star John Keats




Resenhas - Bright Star


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Ricardo Rocha 26/03/2012

Não é difícil entender por que Keats está entre os poetas mais amados da Literatura. Sua poesia é tão poderosa quanto foi sua vida breve. Ele fazia versos tão honestos quanto seu caráter. Deixou poemas inesquecíveis e palavras célebres. Sempre a frente do seu tempo, teve a carreira interrompida pela doença. Foi massacrado pela crítica de sua época, incluídos aí os nomes de Byron e Pope. Mas sua força vinha sobretudo em seus últimos anos do amor que a jovem Fanny Brawe lhe dedicou. É o ano mais produtivo de sua curta vida. A união do conceito de beleza ao de verdade criou uma intensidade única que prospera sobretudo no dístico de Ode a uma urna grega: “A beleza é a verdade; a verdade, a beleza – isso é tudo O que se sabe na terra e tudo o que se deve saber”. Porque a feiura desvanece com o tempo mas não qualquer forma de beleza. O conceito também está expresso nas primeiras linhas de seu primeiro livro publicado – “Tudo o que é belo é uma eterna alegria Seu encanto cresce, nunca Cairá no nada. Mas para sempre manterá Um sossegado abrigo e um sono pleno De doces sonhos, de saúde e calmo alento”. O filme de Jane Campion que aborda seu amor por Fanny é fiel aos acontecimentos. O título é tirado de seu poema “Bright Star”. Até o erotismo delicado do filme está contido em sua obra. J Como “Sentei-a em meu lento cavalo E nada mais vi ao longo do dia” em “Belle dame sans merci” ou em como foge do sexo pelo sexo pelo em “Ode a uma urna grega” – “Que êxtase selvagem! (...) (Mas) se nunca a irá beijar Ainda que tão perto do objetivo – não se aflija porém. (...) Embora não alcance teu êxtase Para sempre a amará e será ela bonita. “ O que naturalmente lhe concede uma visão muito mais plena do próprio amor, como em Estrela brilhante: “No seio que a madura de meu belo amor Para sentir sempre o seu tranqüilo arfar
Desperto em sublime inquietação.” Seu primeiro poema publicado numa revista já dava uma idéia de seu futuro: “À solidão”, que começa com o belo e eloquiente “Ó solidão, se contigo deverei habitar”.




La belle dame sans merci
John Keats

Ah, o que pode te afligir, miserável
Solitário e pálido vagabundo?
O junco à beira do lago está seco.
Os pássaros não cantam.

Ah, o que pode te afligir, miserável
Tão desfigurado e macilento?
O celeiro do esquilo está cheio
E a colheita terminou

Vejo um lírio em sua fronte
Suado da febre da angústia
E na face uma rosa que murcha
E logo terá secado

Uma dama encontrei nos prados
Plenamente bela, filha de uma fada
Os cabelos eram longos, os pés ligeiros
O olhar indômito

Sentei-a em meu lento cavalo
E nada mais vi ao longo do dia
Pois lateralmente inclinada ela cantava
Uma canção de fada


Fiz uma guirlanda para sua cabeça
Braceletes também e um cinto revelador
Ela me olhou como se me amasse
E soltou um doce gemido


Procurou para mim raízes frescas
Mel selvagem e maná silvestre
E num idioma decerto estranho disse
Eu verdadeiramente te amo


Levou-me para sua élfica gruta
E suspirando me olhou profundamente
Então eu fechei seus olhos indômitos e tristes
E a beijei como acalanto

Ali nós dormimos sobre o musgo
E ali eu sonhei – ah, sina infeliz!
O último de meus sonhos
Na encosta gelada da colina

Vi pálidos guerreiros e príncipes também
Pálidos de morte estavam todos
E lamentavam: La belle dame sans merci
Te aprisionou

Vi seus lábios sombrios dum negro aviso
Abrirem-se totalmente à sombra da tarde
E despertei e ali estava
Na encosta gelada da colina

Eis porque passei aqui
Vagando pálido e solitário
Embora seco o junco do lago
Os pássaros não cantam.


Ode sobre uma urna grega
John Keats


Tu, ainda não violada noiva do repouso
Criança de que o silêncio e tardo tempo cuidam
Silvestre historiadora que pode expressar
Um conto florido com suavidade maior que nossa rima
Que legenda franjada de folhagens te rodeia a forma
De deuses ou homens ou ambos
Em Temple ou nos vales da Arcádia?
Que homens são esses ou que deuses? Que virgens hesitantes?
Que perseguição louca! Que luta para a fuga!
Que flautas e pandeiros! Que êxtase selvagem!


As melodias que se escutam são doces mas
Mais doces as que não se escutam. Soem pois as flautas
Não para o ouvido sensual, porém mais agradecidas
Toquem para nossos espíritos árias não sonoras
Belo jovem sob as árvores, não pode interromper
Sua canção, e não podem as árvores ser despidas
Amante audacioso, nunca, jamais irá beijar
Ainda que tão perto do objetivo – mas não se aflija
Ela não pode desaparecer. Embora não alcance teu êxtase
Para sempre a amará e será ela bonita.


Felizes, felizes ramos! Não podem perder
suas folhas nem dizer adeus à primavera
e, músico feliz e incansável,
sempre compor cantigas para sempre novas
O mais feliz amor! O mais feliz, feliz amor!
Ardendo para sempre e sempre a ser fruído
Amor acima da paixão dos homens que respiram
Que deixa desencantado o farto coração
A testa queimando, a língua ressequida

Quem são esses chegando para o sacrifício?
Para que verde altar, misterioso sacerdote,
Leva essa novilha que levanta aos céus um mugido?
Os sedosos flancos vestidos de guirlandas
Que cidadezinha junto ao rio ou a praia
Ou construída na montanha, cidadela serena
Está esvaziada dessa gente essa manhã piedosa?
E, cidadinha, tuas ruas para sempre
Estarão para sempre. Nenhuma alma virá dizer
A razão por que está desabitada.

Ó forma ática! Bela atitude! Num emaranhado
De homens e virgens que a cercam
Com ramos de floresta e ervas pisadas,
Tu, forma silenciosa! Como a eternidade
Além do pensamento nos perturba. Fria pastoral!
Quando a velhice destruir a presente geração,
Permanecerás, em meio a outras dores,
Mais que as nossas, a amiga do homem, a quem diz:
A beleza é a verdade; a verdade, a beleza – isso é tudo
O que se sabe na terra, e tudo o que se deve saber


Endimião Livro 1 (1-33)

Tudo o que é belo é uma eterna alegria
Seu encanto cresce, nunca
Cairá no nada. Mas para sempre manterá
Um sossegado abrigo e um sono pleno
De doces sonhos, de saúde e calmo alento.
Toda manhã pois estamos tecendo
Um floral vínculo que nos ligue à terra
Apesar do desespero e da cruel carência
De nobres naturezas, dos dias escuros,
De todo enfermo e escuro caminho
Aberto para nossa busca. Sim, e não obstante
Alguma forma de beleza afasta essa mortalha
De nossa lúgubre alma. Cada sol e lua,
A sombra das árvores para inocentes ovelhas,
E os narcisos no mundo verde em que vivem
E os regatos que se cobrem de frescor
na estação quente. O arbusto na mata.
Rico de um jorro em flor e almiscaradas rosas.
E assim a majestade dos destinos
Imaginados para os mortos poderosos
Os lindos contos que lemos ou ouvimos
Uma fonte infindável de imortal bebida
Que da fímbria dos céus a nós se precipita.



Dói meu coração e aflige meus sentidos
Um torpor de sono como se eu tivesse tomado drogas
Esgotado num só instante de poderoso narcótico e descido ao Lete
Não porque inveje tua boa sorte
Mas sou feliz ao ver a felicidade
Que tu, arbórea dríade de asas leves
Em nesga melodiosa
De um verdor de faias e sombras incontáveis
Celebra o verão em voz plena e fácil.


Estrela brilhante

Foste eu imóvel como tu, estrela brilhante
Não suspenso da noite como uma solitária luz
A contemplar com a pálpebra imortal aberta
Longe da natureza, insone, impaciente
As águas moveis na missão sacerdotal
De abluir rodeando a terra o litoral humano
Ou vendo a nova máscara da neve caída
Sobre as montanhas, sobre os pântanos
Não mas firme e imutável sempre descansando
No seio que a amadurece em meu amor
Para sentir e sempre o seu tranquilo arfar
Desperto e sempre numa sublime inquietação
Para seu meigo respirar ouvir
E sempre assim viver ou morrer.



Claire Scorzi 26/03/2012minha estante
Li Keats numa tradução de Pericles Eugenio da Silva Ramos, numa antologia. Um dos poucos poetas estrangeiros de que realmente gosto.




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