guicepeda 25/08/2011
O mais importante sobre sistemas de segurança não é como eles funcionam, é como falham.
Não tenho nem ideia por onde começar essa resenha. Comentei a semana inteira no twitter sobre o livro Pequeno irmão, de Cory Doctorow. Quando recebi a release por email, tinha uma frase assim: “O livro de Doctorow, best seller do New York Times (que avaliou o livro como uma “leitura incrível”), chegou a ser comparada com o clássico 1984, de George Orwell.”, só ai o livro me ganhou, tinha que ler ele no mesmo dia, tanto que fui atrás de sinopses, releases e mais informações sobre o mesmo. Quando descobri que o enredo era sobre um menino chamado Marcus, pseudônimo “w1n5t0n”, que com apenas 17 anos foi acusado de terrorismo, e interrogado por dias a fio mesmo sendo inocente, e depois de ceder algumas informações pro Departamento Nacional consegue escapar e se vê sozinho em São Francisco, sem poder contar para ninguém o que aconteceu com ele, porque ele sabe que ninguém vai acreditar na sua história, então só lhe resta uma opção – derrubar o sistema com as próprias mãos. (Tentei dar o menos de spoiler possível, não quero estragar a magia e toda a força que tem esse livro.)
O objetivo do terrorismo é nos aterrorizar. O Departamento de Segurança Nacional me aterroriza. – Marcus
Nunca me identifiquei tanto com um personagem como Marcus Yallow desse livro. Marcus sempre foi um amante da tecnologia, entendia de tudo um pouco e sabia fazer coisas que as pessoas “normais” nem imaginavam que era possível fazer pela internet, mas nada o que não fosse possível achar no google, sempre procurando uma maneira diferente de entretenimento, desde um simples jogo de RPG até interferências na escola. (nessa parte eu me lembrei dos tempos do colegial, onde editava a letra das musicas da missa de sábado pelo servidor central da escola (eu estudava em colégio de freiras, ai calculem :X). Depois de Marcus ser pego pelo Departamento Nacional, ele busca vingança, e “arma” uma rede chamada Xnet para derrubar o governo, isso me lembrou um misto de Duro de Matar 4.0 e o filme Die Welle (A Onda no Brasil). O que era um simples projeto da madrugada, daquelas ideias que você tem de madrugada e vai pro computador programar e acabam dando certo (o Burn Book é uma delas) e no dia seguinte não tem mais controle sobre ela, porque quando uma coisa cai na rede, é de domínio mundial e não tem como barrar a evolução de seja lá o que for que você publicou, como se fosse um viral.
"Eles estavam tirando isso de mim, pedaço por pedaço (…)
Eu havia quebrado várias regras na minha vida e geralmente tinha me dado bem. Talvez fosse justiça. Talvez fosse o meu passado voltando para ajustar contas (…)"
Marcus é um adolescente com os conflitos comuns, mas tem a mente mais amadurecida pelas situações que ele já viveu, e usa isso ao seu favor. Ele é decidido, e não desiste de um objetivo até que ele seja alcançado. Pelo o que eu entendi, o autor colocou um pouco dele mesmo em Marcus, usou toda sua formação e conhecimentos em tecnologia para construir um personagem brilhante e diferente de todos os protagonistas masculinos que eu já tinha lido (no começo vi alguns traços de Artemis Fowl em Marcus, por toda aquela coisa da tecnologia, sistemas, invasões e planos mirabolantes, mas depois da metade do livro vi que não tinha nada a ver, e eram personagens totalmente distintos.)
A narrativa do livro é de tirar o folego, a cada pagina você se sente mais interligado com a história, como se fizesse parte de toda aquela revolução tecnológica que ocorreu em São Francisco, e mesmo com muitos termos tecnológicos e coisas malucas que só um cientista da computação tem vontade de aprender, o autor explica de uma forma bem humorada e simplificada para os leitores mais leigos não se sentirem boiando na história.
O mais importante sobre sistemas de segurança não é como eles funcionam, é como falham. – Marcus
Aproveitando o gancho da revolução, outro ponto que me identifiquei com Marcus foi de criar algo que pudesse dar acesso a todos a uma “tecnologia” ou sistema até então restrito para alguns. Quando eu /criei o blog no dia 27/11/2010 ele se chamava “Let’s Start a Riot”, acordei num surto de madrugada, tinha esquecido o ipod ligado e estava tocando Riot do Three Days Grace (pra quem não conhece essa banda, não sabe o que está perdendo) e comecei a programar o blog para postar o meu arquivo pessoal de ebooks que na época eu tinha no meu notebook, era uma forma de manifesto pelo preço abusivo dos livros de algumas editoras (beijos pra rocco) o que impossibilita alguns leitores de explorar o maravilhoso mundo da literatura, pois ao meu ver pagar 50 reais num livro com menos de 200 páginas é mais do que um abuso, quase um roubo qualificado por meios não convencionais.
Acordei no dia 28 e já tinha alguns acessos, mas pensando bem essa não era bem a proposta de um blog literário, e decidi seguir pelo caminho “certo” e reprogramei novamente o blog e postei a minha primeira resenha de Crescendo, mas não perdi a brecha de colocar o link para o Ebook. Sai meio do foco da resenha, mas não podia deixar de comentar tal semelhança com o personagem principal, ele vê nas menores coisas oportunidades para criar algo que possa ajudar as outras pessoas, mas nem sempre vai ser bem vista pelos outros, mas o que importa é a intenção.
Essa resenha ficou diferente de todas que já escrevi pro Burn Book, o livro tem tantas reviravoltas que fica difícil descrever alguma coisa sem contar algo a mais do livro. Os personagens são marcantes, cada um com uma característica diferenciada que acabam se completando de alguma forma e achando o equilíbrio necessário para dar continuidade no livro.
A trama do livro é totalmente estruturada, Cory Doctorow sabia o que estava fazendo. Ele desenvolve o livro de uma forma inusitada, com toda essa história de rebelião tecno-geek ele acaba dando uma aula de tecnologia e segurança, é um dos editores do site Boing Boing, que já ganhou vários prêmios internacionais relacionados a tecnologia, dentre eles, foi vencedor por duas vezes do premio Weblog of the year.
Comparei o livro com o filme Die Welle apenas pela ideia de revolução, que aos poucos foi tomando força e os jovens foram se unindo cada vez mais por um ideal de liberdade. O autor faz menção a vários episódios históricos de revoluções e manifestações contra o governo, mostrando que o poder do governo não é nada comparado com o da união dos jovens “revolucionários” movidos pela ideia de liberdade de expressão, até mesmo no mundo cibernético.
Pequeno irmão é perfeito, já foi traduzido para mais de 23 línguas, e Cory Doctorow veio para ficar, mostrou que sabia do que estava falando e espera que usemos a tecnologia para mudar o mundo. Uma mistura de ação, romance, aventura e um toque de suspense, Pequeno irmão, é um livro fantástico, e entrou para o meu top 10 dos melhores livros que eu já li na vida.
Queria agradecer a Vivi da Galera Record por me mandar esse livro para resenha, e pela oportunidade de conhecer o trabalho de Cory Doctorow.
Com certeza esqueci de falar alguma coisa nessa resenha, devia ter escrito aos poucos, mas espero ter passado a ideia principal do livro, super recomendo para todos os leitores, e principalmente para aqueles que como eu, são amantes da tecnologia.
Pequeno Irmão mostra como nós podemos ir do ponto onde estamos hoje até um mundo onde a tolerância social para ideias novas e diferentes acabou de uma vez {…} Nós conquistamos a liberdade ao ter a coragem e a convicção de viver livremente todos os dias e agir como uma sociedade livre, não importa o tamanho das ameaças no horizonte {…} saia de casa e ouse ser livre. – Andrew "bunnie" Huang