Soraya.Utsumi 17/02/2024
Os enigmas da existência em busca da iluminação
Hermann Hesse, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1946, é um renomado autor alemão, naturalizado suíço, conhecido por sua escrita introspectiva e filosófica. O estilo literário é caracterizado por uma profunda viagem de busca espiritual, da identidade pessoal e da relação entre o indivíduo e a sociedade.
Apesar de ter apreciado o enredo e a história em si, que representa uma cultura totalmente distinta da nossa, o que mais me encantou no livro é o estilo de escrita do autor, como ele escolhe as palavras e constrói frases com um nível de refinamento louvável e sem igual.
A escrita de Hesse é marcada por uma linguagem poética e imagética, que nos transporta para os mundos internos e emocionais de seus personagens. Ele utiliza metáforas e simbolismos para transmitir ideias complexas e abstratas, tornando suas obras ricas em significado e abertas a interpretações diversas.
Hesse é conhecido por sua habilidade em retratar os conflitos internos e as jornadas de autodescoberta. Ele mergulha nas profundezas da psicologia humana e nas complexidades da mente e do coração. Os personagens frequentemente enfrentam dilemas existenciais e buscam encontrar um sentido mais profundo para suas vidas.
Além de "Sidarta", Hesse é autor de outras obras famosas, como "O lobo da Estepe" e "Demian", as quais também li, mas confesso que "Sidarta" foi o livro com o qual mais me senti envolvida no enredo. Mesmo que eu não me identifique com a cultura e o espiritualismo retratados no livro, a leitura fluiu facilmente, tamanho é o poder de Hesse de tocar em temas universais da existência humana.
O autor diz na obra que:
"Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria. Podemos achá-la; podemos vivê-la; podemos consentir em que ela nos norteie; podemos fazer milagres através dela. Mas não nos é dado pronunciá-la e ensiná-la".
Um aspecto notável do estilo de escrita de Hesse é sua capacidade de criar atmosferas vívidas. Ele descreve cenários e paisagens com detalhes minuciosos e nos leva para os ambientes inusitados em que as histórias se desenrolam. Essa atenção aos detalhes contribui para a imersão na narrativa e para uma experiência de leitura única.
Sidarta é um brâmane que busca a verdadeira iluminação e o significado da vida. As únicas habilidades do personagem são jejuar, esperar e pensar, o que pode parecer algo irrelevante à primeira vista, mas é o que dá sentido a toda a história. O enredo se passa desde a juventude até a velhice de Sidarta.
Govinda é amigo de Sidarta desde a infância, que também está em busca de respostas espirituais. Ele o acompanha em sua peregrinação, mas eventualmente segue seu próprio caminho. Kamala é uma cortesã com quem Sidarta tem um relacionamento amoroso.
Ela representa os prazeres mundanos e a busca por satisfação material. Já Vasudeva é um remador e barqueiro sábio e tranquilo que Sidarta encontra por acaso, mas que tem um papel importante na história. Vasudeva ouve as lições do rio e compartilha seus ensinamentos com Sidarta.
No decorrer da história, Sidarta passa por uma série de experiências que o levam a questionar suas crenças, a explorar diferentes caminhos espirituais e a buscar a verdade interior. Ele experimenta a vida materialista, se envolve com Kamala e descobre que a satisfação material não é o caminho para a iluminação.
Assim, somos levados a questionar os valores e conceitos que muitas vezes contradizem nossos costumes e as convenções estabelecidas pela sociedade. Mesmo que discordemos, em parte, de sua filosofia, é preciso reconhecer que Hesse teve bons motivos para vencer o Nobel. Certamente, esta é uma obra que superou minhas expectativas; dos quatro livros que li do autor, este é o meu preferido.