Carous 28/02/2019Se eu já não apreciasse as irmãs Brontë antes, passaria a admirar depois da leitura deste livro ao saber mais sobre a vida delas e o processo de criação de seus livros.
"Miss Brontë" era um dos livros na lista do Projeto Irmãs Brontë do canal A quimera, que eu só participei como desculpa para riscar alguns clássicos da minha TBR.
Deixei este por último porque assim que li que se tratava de uma história romanceada da família Brontë, eu torci o nariz. Não sou fã de biografias e muito menos quando elas sequer são precisas.
Mas a história é cativante assim como a escrita da Juliet Gael. Não sei o quanto a autora fantasiou e o quanto faz parte da verdadeira história, mas é um livro sensível que mostra que a vida de Charlotte, Emily e Anne não difere tanto das de suas protagonistas e sem sombras de dúvidas por isso seus livros fizeram tanto sucesso. Mais: retrataram com precisão o espírito feminismo nunca época em que pouco se dava importância aos desejos das mulheres.
A obra é focada na vida de Charlotte. Ela é a protagonista aqui, diferente de sua vida em que foi diminuída por não ser tão bonita, tão descolada e tão extrovertida. Não vinha de uma família rica tampouco morava na cidade. Era uma moça do interior. Felizmente tinha consciência de quem era e de como a sociedade a via. Não bastou para que não se magoasse ao longo do caminho, mas foram mágoas que ela pode antever.
Apesar do foco ser em Charlotte, Anne e Emily tiveram sua parte brevemente contada aqui.
Esse livro me deixou bem triste. Eu sabia que nenhuma delas tinha vivido muito, mas nunca tinha percebido o quão jovem elas tinham partido. Principalmente Emily, a caçula. Já li "O morro dos ventos uivantes" e não prestei muita atenção na orelha do livro em que dizia que foi a única obra dela, pois pouco tempo depois ela faleceu.
O livro aponta como as irmãs tinham personalidade diferentes. Emily e Charlotte não eram tão íntimas assim, mas não deixavam de se amar. Anne era mais meiga - e percebi essa meiguice na obra "Agnes Grey" -. Todos os filhos do reverendo Brontë, até mesmo Bradshaw, tinham o dom da palavra e, além de tudo, gostavam de escrever.
Mas a vida da família é marcada por perdas e tragédias, então este não é um livro muito fácil de ler. Apesar de Juliet Gael ter amenizado muitos dos percalços, ainda é uma leitura pesada. Era uma época de muita opressão a pobres, mulheres, pessoas do interior, religiosos, não religiosos. E havia muita doença que rapidamente dava cabo dos entes queridos, antes mesmo que o médico pudesse dar o diagnóstico.
A relação de Charlotte com o pai é interessante; embora ela fosse classificar como difícil. Ele não era um homem fácil. Tinha suas convicções arcaicas e era um tanto quanto machista. Como a mais velha da família era Charlotte quem lidava mais com ele, atendendo suas ordens e caprichos. Ela tinha sua força, não era nem um pouco submissa, mas não deixa de ser sufocante conviver com um pai tão controlador assim.
O livro inclui o processo de criação dos livros de cada uma das irmãs e podemos perceber como a experiência pessoal ajudou a elaborá-los e dar mais credibilidade.
Não, não é necessário ler todos os livros publicados pelas irmãs para entender "Miss Brontë", mas tampouco Juliet Gael deixa de revelar spoilers de cada obra. Se você é um leitor que prefere ler um livro sem saber os acontecimentos, aconselho que leia tudo o que Charlotte, Anne e Emily escreveram e depois dê uma chance a este livro.
Eu gostei muito do personagem Arthur Nicholls, e nota-se que Juliet Gael também o admirava bastante. Eu sabia que Charlotte havia se casado e morrido grávida, mas como mencionei antes, nunca dei muita atenção à vida pessoal dela deixando de saber até ler este livro o nome de seu marido.
Mas, enfim, Juliet Gael gosta muito dele, e acredito que tentou dar mais paixão ao casamento entre ele e Charlotte do que na verdade houve.
Ele é mais um personagem completo e complexo desta obra - aliás, não falei muito sobre isso, mas estou alegre de perceber que ela teve sucesso ao retratar cada personagem. São reais, "gostáveis" -. Só acho que ela pecou um pouco ao descrever as cenas nupciais do casal e como ele finalmente deixou de esconder a excitação pela noiva e depois esposa. I mean...
Bom, não tenho mais como elogiar este livro sem parecer que estou rasgando seda, mesmo que não esteja. Foi o último livro do projeto que peguei pra ler, não estava animada, mas me surpreendi com a qualidade da obra. A história, os diálogos, as reviravoltas, a narração das mortes, das irmãs lidando com o sucesso dos livros. Foi tudo bem conduzido. Li as 400 páginas em dias e tive ressaca literária.
Inclusive me animei a ler outras obras da autora que romanceia a vida de outras figuras que existiram.