spoiler visualizarwolv_logan_x 28/05/2014
Uma das melhores reinterpretações do Sentinela da Liberdade
Os prêmios que Brubaker ganhou por seu trabalho com o Capitão América não foram injustificados. Tanto seus roteiros quanto os desenhos de Epting inclinavam-se mais para o realismo fantástico, dando às histórias um aspecto cinematográfico. [...] Desta forma [eles puderam expôr] as imperfeições e vulnerabilidades do herói, a fim de torná-lo mais humano, e mais próximo do leitor.
O longo arco Soldado Invernal - que durou da edição 1 até a 14 do 5º volume da série do herói - foi daqueles que confrontaram o Capitão América com a complexa politicagem dos dias atuais, na qual muitas vezes inimigos de seu país forjam alianças intermediadas por representantes de sua própria nação, impedindo-o de agir por interpretarem suas ações como contrárias aos interesses de sua pátria-mãe. Isto deu [a Brubaker] margem para retrabalhar o modo de atuação do Capitão, que em sua fase tornou-se um correspondente super-heroico do Jack Bauer, combatendo especialmente ameaças terroristas.
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Além da mudança de abordagem, outro ponto que se destacou no trabalho de Brubaker foi a reformulação que ele fez da fase do Capitão América na 2ª Guerra Mundial. A reconstituição das lembranças que o herói tem do conflito é mais crua, contrastando com o maniqueísmo das primeiras histórias do Capitão nos quadrinhos na década de 1940. Brubaker fez uma integração exemplar entre a participação ficcional do herói no conflito e episódios reais da 2ª Guerra, que servem como uma rápida aula de história (que é complementada com as informativas notas do editor). E os flashbacks desenhados por Michael Lark, coloridos por Frank D’Armata num estilo que simula os tons de cinza de um filme em preto e branco, são compostos de forma a remeterem a documentários da época. Tais mudanças culminam mais adiante na elaborada origem do Soldado Invernal, que reutiliza elementos introduzidos gradativamente por Brubaker nas primeiras edições.
E o autor não se restringe apenas em mexer no período em que Steve Rogers atuou na 2ª Guerra Mundial. Brubaker também procurou amarrar pontas soltas da cronologia do Capitão América, explicando a presença do herói em histórias publicadas pela Marvel no período entre o fim da 2ª Guerra Mundial e o despertar de Rogers nos dias atuais na clássica Avengers #4, já na Era de Prata. Com isto o autor demonstrou um grande respeito pela importância de um período obscuro do personagem, e uma elogiável intenção de não descartar personagens e ideias que poderiam ser facilmente ignorados por “não se encaixarem”. É uma abordagem inteligente, que leva em conta toda a importância simbólica do Capitão América dentro do Universo Marvel, e remete à longa fase de Grant Morrison como escritor do Batman.
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Mas a principal e mais significativa contribuição de Brubaker para a mitologia do Capitão América foi mesmo a criação do Soldado Invernal. Começa com um longo flashback de uma missão do Capitão América na Rússia durante a 2ª Guerra, no qual o autor reformula Bucky, que de parceiro mirim do herói revela-se um especialista em ataques furtivos e avançadas técnicas de combate armado e corporal. Novamente o que chama atenção neste seguimento da 5ª edição é o visual mais realista dos cenários e dos combates, que remetem à minissérie Band of Brothers.
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Não satisfeito em elaborar um ótimo conceito para estruturar a transformação de Bucky no Soldado Invernal, Brubaker ainda testou sua própria versatilidade como roteirista na edição 11. Nela toda a história foi contada sob a forma de relatórios médicos e militares, que revelam em detalhes os experimentos que os russos realizaram para converter Bucky numa arma humana sob seu controle. A história é uma aula de como ressuscitar um personagem morto há décadas sem tornar as circunstâncias de sua ressurreição forçadas. E vale a pena notar o excelente trabalho de colorização de D’Armata nesta história, que remete à fotografia de filmes da década de 1970, a qual combina muito bem com histórias de espionagem.
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Outro aspecto da narrativa de Brubaker que merece elogios são seus diálogos, que soam muito naturais e condizentes com os personagens e situações retratadas. E Steve Epting, apesar de usar uma diagramação bem convencional em suas páginas, seguindo a tendência de quadrinhos widescreen, destaca-se pelo ótimo uso que faz de luz e sombras, e pelos cenários e anatomia realistas que desenha, os quais, somados às cores de D’Armata, dão à história um aspecto e ritmo de filme de ação.
O Soldado Invernal é um dos arcos mais importantes da história do Capitão América nos quadrinhos. Depois dele Bucky popularizou-se entre os leitores, chegando a assumir o papel do Capitão América quando Steve Rogers foi morto logo após a saga Guerra Civil (falei um pouco sobre ela aqui); ganhou uma série solo escrita por Brubaker; e atualmente estrela a minissérie Winter Soldier - The Bitter March, escrita por Rick Remender. Tudo isto torna o arco em que o personagem foi introduzido uma leitura obrigatória para os fãs do personagem, ou para quem simplesmente aprecia histórias de ação inteligentes e bem contadas. E, claro, é uma ótima pedida pra quem acabou de assistir Capitão América 2 nos cinemas, e está afim de conhecer a obra que serviu de inspiração para o filme.
Resenha completa no link abaixo:
site: http://nerdgeekfeelings.wordpress.com/2014/04/09/quadrinhos-capitao-america-o-soldado-invernal-a-historia-em-quadrinhos-que-inspirou-o-novo-filme-do-heroi-da-marvel/