Alessandro232 20/05/2023
A maior obra clássica da Literatura Ocidental
"Ilíada", assim como outras obras da Antiguidade Clássica, tem fama de ser difícil. Muita gente acha que sua leitura é quase impossível devido a sua composição em cantos - ao todo somam 24- divididos em várias estrofes. No entanto, quando começamos a ler essa obra, descobrimos que essa impressão é enganosa.
Ler "Ilíada" não é uma tarefa fácil, mas não é impossível, como alguns leitores imaginam. Na verdade, se essa leitura for feita em uma boa tradução da obra, isso pode ser bastante prazeroso. "Ilíada" impressiona até a época atual. Vale lembrar sua enorme influência na Literatura Ocidental que perpassa outras obras clássicas de diversos gêneros em diferentes épocas. Dos romances históricos ao também clássico "O Senhor dos Anéis", obras inseridas na chamada fantasia épica, de algum modo revistam temas, situações e personagens que tem suas origens no poema de Homero.
Logo nas primeiras estrofes de "Ilíada" descobrimos que seu principal tema, ao contrário do que muita pensa, não é sobre a guerra de Tróia, mas a cólera de Aquiles. Ou seja, a obra começa durante a guerra de Tróia, no meio da ação envolvendo gregos e troianos.
Em torno das disputas de poder entre eles e os deuses que também escolhem um lado que pode vencer ou perder esse conflito bélico de imensas proporções, uma vez que os gregos e troianos estão em pé de igualdade, que se desenvolve o enredo de "Ilíada".
É importante destacar que as cenas de lutas corporais são narradas por Homero de forma bastante realista, com uma grande riqueza de detalhes. Dos cenários naturais, a vestimenta, as armas e movimentos de ataque dos guerreiros, que dão ensejo a cenas de violência explícita, nada parece escapar ao olhar atento do poeta, no que refere à descrição das batalhas épicas.
Além disso, em muitas passagens de "Ilíada" temos uma descrição detalhista dos costumes, hábitos e rituais religiosos do povo grego, o que faz com que a obra também possa ser lida como uma espécie de documento histórico de uma antiga civilização.
Em "Ilíada", Homero em muito trechos, descreve de forma poética por meio do que é chamado de símile, - um tipo de metáfora-, às diversas manifestações da natureza, com destaque para o alvorecer e o anoitecer do dia, que ganham grande importância para os eventos da trama.
Também fazendo uso dos símiles, o poeta em a "Ilíada" realça o aspecto animalesco do homem quando se vê diante de situações de conflito armado. Assim, a guerra nunca é embelezada por Homero. Ela se mantém como algo irracional e bárbaro, primitivo, em alguns aspectos atávico, que revela seu aspecto mais desumanizado e brutal.
Vale destacar que em "Ilíada", Homero promove o que podemos chamar de humanização de deuses e heróis, que vem ser umas principais características da obra e confere a ela grande importância dentro da tradição literária. Sendo assim, os seres que integram o panteão dos deuses são descritos como lascivos e belicosos e por razões mesquinhas e egoístas interferem constantemente nas emoções dos humanos para influencia-los a tomar decisões que podem decidir o destino dos envolvidos na guerra de Tróia.
Os heróis de "Ilíada" também são falhos em sua humanidade, sobressaindo-se mais por seus defeitos do que por suas qualidades - outro traço que torna a "Ilíada" uma obra incomum entre outras da Antiguidade Clássica. Apesar de alguns deles serem dotados de grande força e até mesmo uma natureza divina.
Entre esses heróis, Aquiles e Heitor chamam a atenção por suas características específicas, que conferem a ambos habilidades que os tornam diferenciados entre os demais. Do lado grego, Aquiles que chama atenção por sua força sobrenatural e sua valentia, mas que não consegue controlar suas emoções, principalmente a ira. Do lado troiano, Heitor que destaca-se por sua virilidade, sua nobreza e se vê envolvido contra a vontade no conflito e está lutando somente para defender seu povo.
É o momento em que esses dois grandes heróis de lados opostos se encontram que constitui uma das emocionantes passagens de "Ilíada", na qual Homero demonstra sua maestria como narrador e cujo desfecho de grande dramaticidade flerta com a tragédia grega.
É por suas qualidades, no que se refere a criação de um mundo mitológico, no qual há uma mistura entre o fantástico do sobrenatural e o realismo da cenas de ação, que "Ilíada" é uma das grandes obras da Literatura Ocidental. Os deuses, e, principalmente, os heróis de Homero, com destaque para Aquiles e Heitor, ambos criações imortais de Homero.
Assim, por meio de uma escrita poliformica que transita entre o poético e trágico, o realista e o fantástico, que o poeta descreve de maneira vívida uma sucessão de eventos inesquecíveis. Trata-se de uma obra-prima que merece ser lida pelo menos uma vez na vida, seja por sua importância dentro da tradição literária, ou como uma narrativa envolvente e emocionante em muitos trechos.
Sobre a edição: Há várias edições de "Ilíada", mas, muitas delas dão preferência a métrica do poema e deixam a narrativa em segundo plano. Isso não ocorre nessa edição da Penguin traduzida por Frederico Lourenço, que foi a que escolhi para fazer minha leitura. Lourenço ao meu ver fez um trabalho excepcional de tradução. Ele conseguiu preservar a essência poética do texto, principalmente no que se refere aos símiles, mas dá grande importância para a narrativa - o que vem a ser um aspecto diferenciado entre as outras traduções de "Ilíada".