spoiler visualizarbarbietheking 23/02/2024
A canção da fúria
Apesar de ser uma leitura bastante puxada, é muito óbvio o porquê de Ilíada levar o título de clássico. O recorte do nono ano da guerra de Troia, que se abre com o início da fúria de Aquiles até o momento em que ela é apaziguada, é de quebrar o coração principalmente por ser um retrato tão vívido dos horrores da guerra. Quantas não foram as vítimas dessa guerra nos 24 cantos da Ilíada, e quantas não foram em todos os outros anos que o livro deixa de fora? É emocionante em todos os sentidos, e se torna ainda mais impactante considerando o contexto que estamos vivendo, com duas guerras acontecendo no mundo.
É necessário apontar que grande parte da razão de ser um livro tão cansativo de ler é por ter uma fórmula tão diferente do que estamos acostumados a ler: por ter um contexto de apresentação oral, existem muitas partes repetitivas e formuladas que podem ser difíceis de engolir às vezes. Sinceramente, em todos os cantos de batalha eu tinha a impressão de estar lendo a mesma coisa em 500 páginas. Interessantemente, apesar disso, ainda me sentia bastante envolvida com as batalhas, principalmente as que ocorrem depois do canto 9. Dá pra sentir o desespero de ambos os lados da guerra emanando das páginas, como se fosse a gente lá no meio da batalha.
Claro também que não dá pra falar da Ilíada sem falar do seu personagem mais importante: Heitor. Não há tragicidade maior do que ler esse homem nas batalhas dando tudo de si, super convencido de que ia ganhar a guerra e conseguir proteger sua cidade e sua família, enquanto nós sabemos exatamente o que vai acontecer e que não tem como fugir disso. Não tem outra possibilidade para o caminho que a guerra irá tomar, mesmo que a gente queira muito. Era inevitável que Pátroclo iria voltar pra batalha depois de ver os companheiros massacrados e que, tomado pela vontade divina, fosse lá atrás dos troianos assinando a própria sentença de morte. Era inevitável que o Heitor fosse matar o Pátroclo na primeira oportunidade que tivesse, fazendo literalmente a única coisa que faria o Aquiles voltar pra batalha e, também, assinando a própria sentença de morte. E é claro, é inevitável que Aquiles fosse matar o Heitor depois de tudo e que, sendo ele quem é, isso não bastaria pra acalmar sua ira e abrandar o seu luto. Não dá pra escapar do destino dado pelos deuses, não importa o que você faça.
E é justamente pelo impacto que essa história teve em mim que ela merece 5 estrelas, mesmo que eu tenha tido tanta dificuldade de ler algumas partes e que isso tenha me levado a demorar uma vida pra terminar. Ilíada é simplesmente maravilhosa, o tipo de livro que todo mundo deveria ler pelo menos uma vez na vida (com bastante tempo pra digerir, porque, olha...).