Leandro.Souza 19/09/2023
Uma das obras fundamentais do pensamento freireano
Essa obra, assim como adiantei no título, pode ser uma das principais para aproximar-se dos conceitos e perspectivas contidas nas palavras de Paulo Freire e sua contribuição para a filosofia libertadora de educação.
Antes mesmo de ir ao clássico livro "Pedagogia do oprimido", a "Educação como prática da liberdade" pode agregar na aproximação do pensar do educador patrono da educação brasileira. Pois, alguns conceitos e reflexões irão amadurecer a partir deste escrito.
As primeiras partes que compõem a obra são valiosas, pois, ao introduzir o leitor à abordagem de Paulo de forma didática e contextualizada, o leitor se sente mais próximo do pensamento de Freire, além de motivado para compreender mais após o contato com esse ponto de partida.
A primeira parte é contextualizada para a época da escrita deste livro, mas arrisco a dizer que ainda se mantém atual pois, além de não estar distante o período de transição política do início do século XX, ainda estamos experimentando a chamada democracia burguesa que foi remodelada após a década de 1980.
O autor trabalha a ideia de sociedade em transição, exemplificando como uma sociedade alienada teme a liberdade (e a responsabilidade que dela emerge) e os tipos de consciência observados nessa sociedade: a consciência transitiva ingênua (mágica, sem criticidade, maleável às conformidades impostas pelas classes dominantes) e a consciência transitiva crítica (consciente de sua presença, interferência no mundo e conectada com a materialidade). Enquanto a consciência intransitiva é a consciência dominada ainda nos regimes fechados e autoritários (etapa prévia até a ascensão à transitividade ingênua).
Já no segundo capítulo, esse dispõe de reflexões sobre o local que suportam estas consciências: a sociedade. Freire estrutura uma caracterização acerca da nossa inexperiência democrática no contexto brasileiro. Para tanto, o autor retoma os diversos momentos da nossa história em que nossa vida em sociedade foi usurpada pela coroa portuguesa. É exposto que para nosso desenvolvimento, não tivemos a oportunidade de construir, em conjunto, uma sociedade historicamente nossa. As divisões de classes foram sacramentadas desde o início de forma muito extrema onde não haviam nem burgueses e pequenos burgueses até a proclamação da república. Nos foi dividido em senhores latifundiários de capitanias e o extremo oposto dos donos de terras e gente, os escravizados. Isso até os regimes que marcaram nossa história até a ditadura golpista de 1964 foram acontecimentos recentes e que não puderam aprofundar o povo na experiência democrática.
O capítulo 3, tratando da educação x massificação, elucida-nos sobre a necessidade de não ter uma sociedade apenas técnica, mas com uma educação que fundamente o povo e a sociedade como um todo para a mudança, leitura de mundo e soberania nacional na nossa produção e socialização das riquezas culturais, sociais e materiais. Aqui retomam os conceitos de transitividade ingênua, crítica e intransitividade, agora no enfoque da divisão de classes e da desmobilização sofrida entre as classes trabalhadoras em seus diferentes níveis. Comenta-se sobre o esvaziamento e negação cultural que está presente na educação destinada às classes populares e o alerta do quanto isso beneficia uma elite em detrimento do desenvolvimento social brasileiro.
O último capítulo, o 4, além de trazer as raízes da metodologia adotada por Freire em seu percurso, também trata de exemplos sobre a aplicação da alfabetização nas perspectivas libertadoras de educação. A importância dos temas geradores, as fichas de descoberta e a interação com a política do ato de educar.
Este livro é maravilhoso, espero que chegue para muitos leitos entusiastas de uma sociedade criticamente pensante e atuante!