Ana Luiza 04/10/2013
Amizade, amor e magia em uma deliciosa mistura...
Flávia perdeu os pais ainda pequena e, apesar de ter sido criada carinhosamente pelos tios, não pensou duas vezes na hora de trocar Lavras por Viçosa, onde foi fazer faculdade de Agronomia. Logo no seu primeiro dia de aula, a garota conhece Felipe, um estudante do terceiro ano de Engenharia de Alimentos que a salva de um trote. Flávia também conhece Gustavo que, como ela, é um calouro de Agronomia. Amigável e divertida, ela faz amizade com os dois, assim como com os colegas da república de Felipe, em pouco tempo.
Flávia também se torna amiga de sua vizinha, Sônia, uma mulher na casa dos quarenta anos, bastante gentil e um pouco excêntrica. Logo Flávia descobre que Sônia, incrivelmente, fora uma grande amiga da sua falecida mãe. Isso aproxima as duas ainda mais, principalmente porque a garota sempre soube muito pouco sobre seus pais, principalmente sobre sua mãe, de quem sua tia reluta a falar. Através da amiga, Flávia conhece outra amiga de sua mãe, Laura, e sua filha Lauren, com quem também faz amizade.
Sônia empresta a Flávia a série de livros “Bruxas Mayfair” da Anna Rice, o que depois se revela uma tentativa da mulher de fazer a garota entrar em contato com o mundo Wicca, pois ela é uma bruxa Wicca, assim como a mãe Flávia. Flávia sempre desconfiou que houvesse algo misterioso no passado da mãe, que inclusive fazia a tia não querer falar dela, mas nunca imaginou que seria o fato da falecida ser uma bruxa! E, o mais surpreendente, foi descobrir que também era uma bruxa, ainda mais poderosa que a mãe, algo evidenciado por seus belos cachos ruivos.
“-Não sou uma bruxa.
- É sim. – Sônia sorriu de maneira amigável. – Você pode não querer exercitar a bruxaria, seguir a Wicca. Mas é uma bruxa, isso não tem como negar. Sua família vem de uma linhagem forte de bruxas, está no seu sangue, basta olhar para você. (...) As bruxas de cabelo vermelho são as mais fortes. E você é forte, muito. Mais que sua mãe.” (Pág. 107/108)
Apesar das descobertas sobre sua relação com o mundo da magia, Flávia decide manter-se afastada desse mundo e continuar sua vida normalmente. Mas, as coisas não continuam como antes. Mesmo avisada por Sônia, em um dos pressentimentos/previsões da mulher, Flávia se deixa envolver após ficar com Felipe, que não é do tipo que se compromete e que prefere levar uma “amizade colorida” com a garota, o que a machuca muito. Cansada de sofrer pelo amigo, Flávia realiza um feitiço, com ajuda de Sônia, para atrair sua alma gêmea. Mas, essa demora muito a chegar e, quando finalmente aparece, o mundo não vira um mar de rosas como nos filmes de amor. Além da alma gêmea de Flávia ter uma namorada que não está nem um pouco disposta a perdê-lo, a garota descobre que odeia o cara. Mas, ódio e amor não estão muito distantes, estão?
“Flávia ficou olhando o amigo, quieta. Para ela, bruxa sempre foi aquela mulher velha, com uma verruga no nariz, cozinhando em seu caldeirão alguma poção para fazer maldade a alguém. Mas ultimamente vinha ouvindo muito essa palavra para definir outros tipos de pessoas. Carla, as mulheres da família Mayfair e agora Sônia.” (Pág. 60)
“Até Eu Te Encontrar” é um livro gostoso de ler, com trama simples, mas charmosa e irresistível. Apesar do romance previsível, a autora conquista ao envolvê-lo no mundo Wicca, trazendo bruxas que fazem sim rituais, feitiços e etc., mas que não deixam de viver no mundo real, com conflitos de qualquer humano. Gostei bastante da Mayrink não ter dramatizado muito a questão sobrenatural, assim ela não deixou a trama forçada, pelo contrário, ela foi extremamente fluída; apesar das 384 páginas do livro, o li em praticamente um dia! Algo que também me agradou bastante foi a narrativa da autora, que, assim como a linguagem utilizada e situações exploradas, condiz com o perfil dos personagens e do livro. “Até Eu Te Encontrar” é bem atual e bem próximo de nós; é um livro tipicamente brasileiro, com personagens que reforçam essa impressão. É perceptível que a autora conhece bem Viçosa, ela fala do lugar com muita intimidade e carinho, o que me cativou ainda mais, pois adoro histórias que se passam em Minas Gerais, nesse meu estado lindo! A única reclamação que tenho sobre autora é que ela exagerou ao ligar absolutamente tudo dentro da trama; se o efeito era dar um ar ainda mais mágico para a história, ela acabou tornando-a forçada nesse sentindo.
Os personagens também me cativaram, todos possuem personalidade própria e papel na trama. Confesso que eles soaram meio surreais, sempre alegres e amigáveis, mas gostei de todos, até mesmo da vilã Carla, apesar de que queria que ela também tivesse tido um final feliz e encontrado sua verdadeira alma gêmea. Minha personagem favorita foi a Sônia, ela tem um ar místico que me encantou. Gostei bastante da Flávia, apesar de que ela me irritou em certos momentos por causa de sua teimosia e que gostaria que ela tivesse se envolvido mais com o mundo da magia. Dos amigos da garota, Felipe foi o que mais gostei, seu jeito relaxado e festeiro o torna bem divertido, só que irritante quanto se trata de relacionamentos, odiei como ele ficou enrolando a Flávia sem ao menos perceber. A alma gêmea dela, que prefiro não revelar (apesar de que não há muita surpresa quanto a quem ele é), é o típico “príncipe do cavalo branco”, gentil e frágil. Não morri de amores por ele, mas o personagem se encaixou perfeitamente na trama.
Falando da edição, a diagramação estava perfeita. Adorei os desenhos no início de cada capítulo, assim como os corações na numeração das páginas. O tipo e tamanho da fonte estavam bons e as páginas amareladas deixaram o livro ainda mais rápido de ler. O livro é leve para o seu número de páginas, o que me agradou ainda mais. Minha única reclamação é quanto à capa. Além dela já revelar um pouco demais da trama (já fica na cara que a Flávia é uma bruxa), achei-a bem simples e amadora; penso que o livro merecia algo muito mais elaborado e que lembrasse o ar mítico da história, mas sem revelar muito da mesma.
“Até Eu Te Encontrar” não é o tipo de livro que muda a sua vida, mas que te conquista logo no início e se revela um passatempo delicioso. Ele é o tipo de livro para descansar a mente e dar boas risadas, perfeito para ser lido no final de semana, de uma vez só. Recomendo-o para quem gosta de um bom romance, sem se importar se ele é previsível ou não. O livro despertou minha curiosidade sobre a autora, estou ansiosa por suas obras futuras.
“- Coincidências não existem – disse Sônia. – O que acontece é que a vida sempre nos leva na direção de certas pessoas.” (Pág. 38)
Autora da resenha: Ana Luiza Ferreira (La Mademoiselle)
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