Wellington 14/05/2021
Os Pilares da Terra – 7,5
Esse gigante me prendeu do começo ao fim. No início senti que levaria nota dez, mas me frustrei durante o trajeto; é para masoquistas. Explicarei.
Num resumo preguiçoso, Os Pilares da Terra é o meio termo entre Game of Thrones e O Nome da Rosa. Possui cenário medieval (a história começa no ano 1123), descrições nojentas de estupros e outras violências, disputas de poder, vários protagonistas com capítulos dedicados às suas perspectivas; religião como temática importante, amostras soltas de passagens da Bíblia, rotina monástica, uma ou outra questão teológica.
Porém, tudo é mantido por argamassa fina; aqueles livros são melhores. Aqui os protagonistas são variados e geram reações violentas no leitor, mas ninguém me gerou grande admiração – Aliena chegou perto e não conseguiu. As descrições são nojentas e desnecessárias, facilmente servem de gatilho. As temáticas religiosas são presentes e às vezes interessantes, ao mesmo tempo em que é tudo ocultado por picuinhas e joguinhos de poder; personagens que poderiam ser interessantes se perdem na torrencial. Cadê Martha e Ellen, cadê Johnny Oito Pence? Cadê os monges mais velhos e sábios, cadê o antigo priorado? Todos perdidos, como lágrimas na chuva. Alguns são citados uma vez e nunca mais. Outros personagens vazios ganham holofote; fica só uma podridão de egos. E o final é desapontador, mesmo que coerente com a narrativa; foi apressado e cansado. Parece até que o autor se cansou junto comigo.
Não quero ser demasiado negativo, mas a edição da Rocco contém vários erros. William vira WiIliam, há parágrafos juntos numa mesma linha, perspectivas de personagens se alteram sem aviso, não há notas explicativas a respeito dos aparatos medievais, o espaçamento entre linhas é curto, as letras são pequenas. A textura é uma delicinha e paguei barato com desconto, mas gostaria de um trabalho melhor de revisão.
Aos pontos positivos: a sinopse vende mal o livro; é mais do que um pedreiro que quer construir uma igreja, é o retrato fiel de uma era conturbada, cheia de nuances e profundidade. Colore muito bem a vida medieval inglesa. Depois que pesquisei alguns nomes, começou a fazer sentido o cenário retratado; as cidades parecem vivas, a rotina das pessoas verídica, o contexto realista. Creio ser esse o grande mérito da obra: fidelidade medieval. E se os personagens me geraram extrema revolta, significa que foram bem escritos. Se me prendi do começo ao fim, foi pelo desejo de justiça. Passei raiva; tive raiva do autor também. Quem gosta de sofrer, é só ler Os Pilares da Terra.
Fiquei com um grande sentimento de: “só isso?”. Quase mil páginas que acabei de ler, e o calor já se esvaiu. Os poucos momentos belos são irremediavelmente manchados pela pequenez mesquinha do contexto. Como alguns deles se tornaram quem são? Por que o mal era tão facilmente praticado? Eu não sei. Não foi contado. Sim, havia covardia, ganância e cretinice; sim, a violência era o zeitgeist da época; mas isso é pouco. E o que aconteceu com aqueles poucos por quem me afeiçoei? Não sei. Ao mesmo tempo em que não senti uma escrita prolixa, também não parece que li tanta coisa assim. É como uma linda pintura sem alma.