Miriã Diasis 03/07/2014
Os Livros de Esteros (As Crônicas de Fedors Vol. 1)
Se você acha que não existem escritores brasileiros tão bons quanto os estrangeiros, você está muito enganado. Os Livros de Esteros é capaz de superar a maioria das expectativas preconceituosas que muitos leitores brasileiros têm. Para começar, este livro não é só mais uma literatura brasileira que aborda um mesmo tema, de um jeito diferente. Aldemir foi muito mais além do que isso: ele criou seu próprio mundo e sua própria mitologia. Embora a fantasia aparente ser um gênero fácil de escrever, todo mundo precisa saber que NENHUM gênero é fácil de se desenvolver, nem mesmo os romances clichês e digo por experiência própria, porque eu já escrevi um. A narrativa acabou sendo algo totalmente novo para mim, além de ser bastante envolvente. Mas neste livro, o autor apresenta-se (indiretamente, eu diria) como um bom entendedor do gênero. E uma das coisas que eu mais gostei foi a forma como os combates foram descritos e sua sequência, sem ficar cansativo ou chato. Não foi a toa que se tornou um grande fã de Tolkien e Lewis e como fã desses dois grandes autores, eu diria que o autor os tomou como Mestres e por esse motivo, Os Livros de Esteros foi tão bem desenvolvido.
A ideia central é simples e clichê: o conflito entre pais e filhos, a luta pelo filho mais velho por atenção dos pais, a forma como o mais velho ignora o mais novo e como enxerga o relacionamento do pai com o caçula. É interessante como os desajeitados conseguem de forma estranha, a atenção dos demais, enquanto o mais forte, é ignorado por tanto querer a atenção dos outros. É assim a relação entre os membros da família Destrus, composta pelo Rei Mussafar, sua Rainha Zinza e os filhos, Vamcast o primogênito e Andor, o caçula inocente e desajeitado. Este, era o preferido do pai, enquanto Vamcast, era o preferido e querido por sua mãe. E por achar que Andor fosse o preferido do Rei, Vamcast talvez pudesse ter pensado que seu irmão roubaria o seu lugar, na linha sucessória do trono Destrus, fazendo com que o seu ódio crescesse cada dia mais em seu coração.
Diante disso, assim como para as coisas boas, sempre tem alguém nos observando, para as coisas ruins, também tem sempre alguém de olho nas maldades que uma pessoa pode cometer. Desse modo, Vamcast, “apesar de ser um elfo, tinha anseio por batalhas, o que contrariava toda a lógica de sua espécie e limitações raciais”. Tudo o que era pequeno e que talvez não pudesse trazer riscos ao reino de Esteros, tornou-se gigante com todo o ódio que Vamcast agora tinha por todos ao seu redor, transformando-se num monstro na primeira oportunidade de se vingar contra aqueles que nunca lhes deu atenção, sem qualquer sensibilidade e compaixão para com a sua própria família. Não tendo medo algum em expor sua autoridade com quem quer que seja, em batalhas ou com magias.
Além de ter um enredo envolvente, recheado de cenas angustiantes, creio que o livro não trata só da revolta de um filho, suas maldades e anseio pelo domínio do universo, mas também retrata a falta de atenção dos pais para com os filhos, o fato de serem muito seletivos, serem egoístas e não estarem prontos para enfrentar a realidade em que se encontram, como no caso de Mussafar, que foi advertido a respeito da grande maldade que crescia no coração do primogênito, cujo qual não deu importância para o fato. Toda a história foi muito bem elaborada e além disso, no final do livro é possível encontrar uma explicação mais clara sobre a Mitologia Esteriana, algo que eu considero grande novidade no mundo literário brasileiro.
Eu não li a saga toda ainda, mas já passo a recomendá-la para todos os fãs de fantasia medieval e é claro, de Tolkien e Lewis, por que eu acredito que o Aldemir conseguiu chegar muito perto desses dois excelentíssimos escritores, pela ousadia de criar algo completamente novo, capaz de prender muitos leitores que têm estado com suas mentes fechadas para a literatura brasileira.
E enquanto O Início da Esperança não sai, eu e quem já leu, vamos roendo as unhas para tentar compreender a aceitar aquele final que eu tenho certeza que todo mundo também pensou: What The Fuck?!