Aline T.K.M. | @aline_tkm 15/04/2014Para aqueles que acreditam no amorGraphic novel que deu origem ao – lindo – filme dirigido por Abdellatif Kechiche, Azul é a cor mais quente fala sobre o relacionamento amoroso entre duas garotas, Clémentine e Emma.
Garota comum, ainda estudante do liceu, Clém se descobre atraída por garotas. Tudo passa, então, a girar em torno do encantamento provocado pelo surgimento de Emma em sua vida. O medo e a reprovação que partem de si mesma a assombram; são, claramente, reflexos da visão limitada e conservadora dos pais, dos amigos (principalmente das amigas), enfim, da própria sociedade.
Sua história com Emma se transforma em um turbilhão de amor, desejo e conflitos – um dos quais atende por Sabine, a então companheira de Emma, além da não aceitação dos pais de Clémentine.
As ilustrações, simples mas atraentes, traduzem o tom ora melancólico ora desesperado da trama. Quase tudo aparece em matizes cinzentos; o azul dos cabelos e do olhar de Emma é a única cor “verdadeira” ali. Tudo mais que é importante na trama pega emprestado a mesma coloração azul. Nenhuma outra cor, apenas o azul; e é suficiente.
Com foco no início do romance entre as duas personagens e, sobretudo, nas descobertas de Clémentine (ainda uma adolescente) pelos caminhos tortuosos do amor, a trama mostra simplicidade e uma espécie de inocência bonita e um tanto frágil. A narração acontece através do diário de Clém; as memórias revelam a confusão que se instala em sua mente juvenil ao ver-se atraída por outra menina, a intensidade do amor por Emma, a tentativa frustrada de namorar um garoto...
Delicada e juvenil, a história só peca por não aprofundar na maturidade do relacionamento das protagonistas, nos anos que seguem o caloroso início. Mas, talvez, chego a desconfiar que esse pensamento esteja condicionado ao fato de ter visto e me maravilhado com o filme muito antes da leitura. Vai saber.
Provavelmente a dúvida de muitos: livro e filme são bem diferentes. Ambos lindos à sua maneira, valem cada segundo da atenção do leitor/espectador. Trabalho admirável, com direção de Abdellatif Kechiche, a adaptação - ainda que livre - não conseguiria ser mais perfeita.
A mensagem que traz a graphic novel vale para a vida: nossa existência é curta e já é difícil o bastante. Portanto, amar verdadeiramente, sem preconceitos nem distinções, é o que realmente importa. Seguir o coração e aproveitar o tempo que nos resta.
Em poucas palavras, Azul é a cor mais quente é uma trágica história sobre a descoberta do amor. Um amor que habita os extremos e se torna inesquecível ao leitor, mesmo bem depois de virada a última página.
LI EM FRANCÊS
O reduzido volume de texto facilita a leitura. A linguagem é bastante informal; contudo, a presença de termos e expressões tipicamente adolescentes pode exigir aquela googlada básica para os nem tão familiarizados com a cultura francesa.
LEIA PORQUE...
Tudo no livro é mostrado de um jeito bonito, meigo. Mesmo nas passagens que envolvem sexo, a sensualidade divide a cena com a doçura. Leitura obrigatória para aqueles que acreditam no amor, acima de tudo.
DA EXPERIÊNCIA...
Se já tinha me apaixonado pelo filme, fiquei duplamente apaixonada depois que li a HQ. Como mencionei, as duas histórias tomam rumos bastante distintos e eu gostei disso – aliás, não acredito que algum leitor não vá curtir. Definitivamente, uma história muito bonita, tanto no livro como no filme.
FEZ PENSAR EM...
Não pude deixar de me lembrar do incrível Minha Querida Sputnik, do Haruki Murakami. Nele, uma das protagonistas, recém-saída da adolescência, se apaixona por outra mulher. Apesar de não haver qualquer outra semelhança entre os dois livros, o sentimento de amor cristalino é um ponto em comum, definitivamente.
E também me fez lembrar do filme mais perfeito: Canções de Amor (Les Chansons d'Amour), dirigido por Christophe Honoré. Musical francês que aborda o relacionamento amoroso hétero e homo, mas, sobretudo, humano.
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