F. Pierantoni 14/04/2011As Guerras do Mundo Emerso: A Seita dos AssassinosDizer que As Guerras do Mundo Emerso: A Seita dos Assassinos (Editora Rocco) superou minhas expectativas é algo muito relativo. Afinal, o que eu esperava dessa nova empreitada literária da astrofísica italiana Licia Troisi? Uma obra inesquecível, épica e surpreendente? Talvez nem tanto. Uma aventura divertida e emocional? Certamente, porque foi isso que me cativou durante Crônicas do Mundo Emerso, anos atrás. A Seita dos Assassinos, contudo, provou ser mais do que isso, agradando-me ao ponto de me fazer prender-me às suas páginas, identificar-me com seus personagens e adorar cada um de seus capítulos.
O enredo se desenrola quarenta anos depois das Crônicas do Mundo Emerso. A paz trazida por Nihal após sua vitória sobre o Tirano já mostra sinais de cansaço e intrigas se agitam pelo Mundo Emerso. Ao que tudo indica, uma nova grande guerra não está longe de eclodir.
Nem todos, porém, se interessam pelo futuro daquela terra. Dubhe, uma jovem ladra, marcada demais pela morte e pelo sofrimento para importar-se com qualquer coisa que não sua própria sobrevivência, engaja num combate pessoal quando é misteriosamente amaldiçoada durante um de seus ilícitos serviços. Um selo de magia proibida é implantado em sua pele e, consigo, traz à tona a Fera, um estado brutal, mortífero e incontrolável, que se apossa da moça em momentos de crise. A única possibilidade de cura reside nas masmorras pétreas de uma macabra seita de assassinos, adoradora de um deus sinistro. Sem outra alternativa, Dubhe alista-se na terrível doutrina, onde terá de descobrir até onde está disposta a ir para sobreviver.
Não deixe o dragão na capa iludir-lhe. Este não é um livro de alta-fantasia tradicional, recheado de elfos, magos e seres mágicos – mesmo que de fato todos estes habitem o mundo em questão. Ao invés disso, o foco é deslocado para a jornada pessoal da personagem e os desafios – físicos e mentais – que enfrenta na sua luta para sobreviver. Os elementos fantasiosos estão sempre ali, colorindo a trama, mas nunca chamando tanta atenção ao ponto de encobrir o cerne da obra, que é o limite entre o desejo de viver e o de seguir seus ideais.
A escrita de Licia Troisi me agradou. Não tenho memória afiada ao ponto de recordar-me de suas técnicas na trilogia anterior, mas surpreendi-me com a qualidade de seu texto neste livro. Trouxe uma linguagem dinâmica, que sabe ser direta nos momentos certos e elegante quando necessário. A alternância entre as narrativas no presente e no passado, usadas para diferenciar flashbacks do tempo atual, também enaltece a técnica literária.
Talvez a falta de ação e o ritmo cadenciado irritem alguns leitores, mas minha identificação com o livro sobrepôs ambas questões. Ademais, encontrar um livro de alta-fantasia que foge do lugar comum não é fato recorrente e, só por isso, merece ser celebrado. Que a obra sirva de exemplo para mostrar que, mesmo em mundos fantásticos, conflitos pessoais podem ser tão intrigantes quando embates de espadas.
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