Aione 10/11/2011O que aconteceria se sete almas vampiras fossem transportadas para outra época e se alojassem em corpos de sete pessoas vivendo em plena Idade Média? Como lidar com o fato de ser um vampiro em uma época de intensa perseguição aos hereges? E, principalmente, como lidar com o fato de ser algo que nem ao menos é muito bem compreendido por si mesmo?
Em "Os Sobreviventes da Santa Inquisição", André Victtor retoma os personagens de "Os Vampiros de Dubai" em um novo enredo, transportando o leitor diretamente ao passado. A narrativa ágil e fluida nos conduz por entre as páginas sem que a leitura seja percebida. Há velocidade na história, o que contribui com quem lê.
Um ponto visível na escrita de André é sua habilidade em escrever contos e essa qualidade se faz presente nesse romance. Por esse motivo, em alguns momentos, senti falta de uma maior profundidade dos fatos, que foram narrados de maneira mais superficial, dando mais um panorama geral da situação do que detalhes. Talvez tenha sido essa a intenção do autor, não se prolongar na descrição das cenas, já que a narrativa geral contribui com a velocidade do enredo.
Algo que merece destaque é a capacidade de André em despertar o horror nas cenas de terror. Vi-me fazendo caretas em alguns momentos, o que foi positivo, considerando essa uma reação desejável desse gênero literário. E mesmo com essas cenas, ainda assim há momentos de extremo romance na obra, principalmente entre as personagens de Valência e Esteban, que incorporaram as almas de Helena e Andrews, trazendo consigo a idéia do amor imortal, a qual muito me agrada.
Sobre as personagens, achei interessante terem seu lado humano destacados. Apesar de se tratarem de vampiros, há um certo desconhecimento destas com relação as suas próprias condições e, paradoxalmente, há, também, uma conscientização de seus atos: as personagens não buscam suas vítimas apenas para saciar suas vontades, mas sim por uma questão de sobrevivência. Apenas o sangue humano pode mantê-las “vivas”.
Apesar de as personagens serem as mesmas de "Os Vampiros de Dubai", a obra pode ser lida sem prejuízo na compreensão da história, não sendo necessário ler o outro volume primeiro. Notei, também, a relação destes livros com o outro livro do autor, “Vampiro Victtor”, já resenhado aqui, uma vez que esse narra a transformação do Conde Victtor, mesmo personagem responsável pela transformação dos vampiros das duas outras obras citadas.
Embora tenha sentido falta de uma maior profundidade e de um maior detalhamento em alguns momentos da história, o enredo e seu desenvolvimento me agradaram mais do que em “Vampiro Victtor”, além de a leitura ter sido ágil. Gostei da narrativa de André e aguardarei um próximo volume da série, pois, da maneira que este terminou, certamente há espaço aberto para uma continuação.