Leitora Viciada 25/03/2012Esta foi uma linda surpresa que a Giz Editorial enviou para mim. O único e minúsculo defeito está nas duas últimas partes do livro, que contém alguns espaçamentos entre os caracteres mal posicionados. Tirando isso, o livro possui um fino acabamento, a fonte é de um tamanho perfeito e as páginas são levemente amareladas, ou seja, o leitor tem uma leitura muito agradável. A capa traz uma imagem profunda e o título em efeito metálico: Maria.
Um nome tão simples, tão comum tornou-se pela criação de Eliana Portella uma história arrebatadora, emocionante e intensa. Ao mesmo tempo, mantém uma simplicidade agradável na narrativa, que mesmo nos cativando do início ao fim, provocando lágrimas e risos, não pesa em nenhum momento. Tudo é contado em terceira pessoa, demonstrando de forma ampla os diversos pontos de vista, fazendo o uso contínuo de diálogos e desenvolvendo a história de forma a deixar o leitor completamente íntimo das personagens, que são muito humanas e verdadeiras.
Em cada capítulo passamos por um turbilhão de pensamentos, emoções e julgamentos. Sentimos e analisamos cada situação por elas vividas. Em alguns momentos me enxerguei, percebi que diversas decisões tomadas pelas personagens, foram julgadas como certas ou erradas, apenas sob meu ponto de vista; com certeza cada leitor as julgará de acordo com o seu.
O livro possui uma estrutura bastante interessante, sendo três partes em ordem cronológica, uma para cada "Maria". A primeira apresenta Maria Eva, nascida em 1944. Acompanhamos a vida da moça, seus sonhos, suas vontades, seus medos. Nos apegamos a cada detalhe, a sua família, a sua paixão. Uma Maria a frente de sua geração, que tece a sua história de amor. Ela ama demais. Uma mulher especial muito querida, amada e desejada. Ela é rica e mimada, tem pais compreensivos e um marido apaixonado; tem tudo para ser feliz. Menos uma coisa, que a deixa frustrada.
O segundo livro é sobre duas irmãs gêmeas: Maria Fernanda e Maria Luiza, nascidas em 1984. Idênticas na aparência, diferentes na personalidade, porém inseparáveis. Não é apenas o amor fraternal, é uma amizade verdadeira, que rompe barreiras. As duas compartilham a mesma dor, o mesmo pesar, a mesma culpa. Porém cada uma reage de um modo, trilha um caminho diferente, mas sempre unidas. É impossível viverem afastadas. Sentimentos que fervilham, um amor entre as irmãs que ao mesmo tempo as fortalece e as derruba. Às vezes um amor tão grande que pode ser maior que o amor próprio.
E na última e melhor parte, destaque total para Maria Fernanda. Passando por sofrimentos e vitórias, paixões e amores, dores e conquistas. Uma mulher que de certa forma é um exemplo para qualquer outra, que não luta pelo que deseja, não desiste de seus sonhos, mesmo que eles tenham sido bruscamente modificados. Uma autoestima modelada sobre uma complexidade de acontecimentos e sofrimentos. Ela é segura e confiante, tentando superar o passado.
Uma família que sofre profundos abalos e perdas, com brigas e reconciliações, sem jamais abandonar o amor, a esperança e o respeito. Marias interligadas por laços mais fortes que os de sangue, são mulheres unidas em alma e coração. Laços inquebráveis, laços eternos. Cada Maria com seus defeitos e qualidades, cativam página após página. Cada uma, com suas características, embora tão diferentes, em íntima essência, são tão parecidas. Confiança, companheirismo, amor, traição, perdão.
Há uma carga espiritual e sobrenatural no livro, mas de forma singela e leve, que abre algumas opções de interpretação. A autora soube encaixar esse detalhe, sem forçar nada.
As personagens são bem moldadas e suas relações e ligações muito bem feitas. Destaque para as avós das gêmeas, do tipo que todos sonham em ter, e para Luiz Augusto, quem mais amadurece na história, o homem que possui o coração perfeitamente encaixado no centro do triângulo formado por três Marias nas pontas. E Luigi e Matheus, tão diferentes e tão encantadores, amigos e inimigos, perdidos entre Marias.
Eliana demonstra naturalidade e maturidade na forma de descrever pessoas diferentes, interligadas por felicidade e tristeza. Nos mostra também a diferença entre gerações, desde detalhes como as roupas, músicas, tradições... e que mesmo que o mundo evolua e que a vida das pessoas mude com ele, nunca é tarde para amar e buscar realizar seus sonhos, e que nada é imutável.
Um livro lindo, que fala do cotidiano, de amor, perdão e a busca pela felicidade. Não apenas do indivíduo, mas de todos que são amados por ele.
Quando cheguei ao final da história, ela me parecia tão intensa e real que as personagens mais eram amigos ou conhecidos, de tanto que me apeguei a elas. Culpa da autora, que foi costurando tudo de forma tão natural e sensível. Muito realista! Maria poderia originar uma ótima telenovela ou série.
Pessoalmente, não gostei muito de Maria Eva. Talvez a forma como os casais se formavam naquela época, por ser bem diferente, não tenha me agradado. No entanto, adorei Maria Luiza e me apaixonei por Maria Fernanda. O drama é na dose certa e o relacionamento das irmãs me agradou muito mais.
O mesmo ocorreu com o desenvolvimento da leitura. Começa morna e sem aparentes pretensões, até esquentar, ferver e emocionar. O clímax é intenso e traz imensa curiosidade.
Só que eu teria sido menos detalhista na viagem à Disney. Gostei muito dos triângulos amorosos!
Livro super recomendado! Impossível não gostar das histórias das Marias.
Trechos:
"Laura, apesar de ainda um tanto quanto inconformada, sabia que a menina estava feliz e tinha que admitir para si mesma que Augusto, além de um belo homem, trazia a herança de uma excelente educação, e o principal: Amava e respeita a futura esposa." Livro I: Eva.
"Aquela única palavra, o substantivo sagrado, foi suficiente para tocar; mais que isso, para transbordar o coração de Maria Fernanda de compaixão. E num gesto de amor ela abriu os braços para receber a caçula, que se atirar em seu encontro no mesmo instante, para não perder a chance única de se reatar com a pessoa mias importante que a vida até então lhe dera." Livro II: Fernanda e Luiza.
"Algo havia mudado. Não esperava mais que a vida lhe oferecesse oportunidades, duvidava do destino. Se tivesse que ser feiz, seria por sua conta. Não iria mais vincular sua felicidade a outras pessoas." Livro III: Fernanda.