Óculos de ouro

Óculos de ouro Giorgio Bassani




Resenhas - Óculos de ouro


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malumema 19/02/2024

Quedas humanas paralelas a quedas nacionais
O livro se desenrola perto da ascensão fascista de Mussolini na Itália. Ele conta a história de um oftalmologista que, ao chegar na cidade, causa um ofurô devido à sua distinção, sensibilidade e profissionalismo em relação aos demais profissionais. No entanto esses comportamentos começam a levantar questionamentos acerca de sua sexualidade, o q culmina na óbvia constatação de sua homossexualidade. A partir disso, assiste-se de camarote a queda moral, econômica e social desse profissional que antes era tão requisitado.
A narrativa é muito triste, não posso negar. Observar essa derrocada nos dá um sentimento de impunidade e dor perante às injustiças que Athos sofre, que não são poucas, devo dizer. É triste ver a solidão do personagem e a sua crescente tristeza e sufocamento perante as humilhações que sofre. Por fim, acho que o livro é a frente do seu tempo pq foi escrito na década de 1950 e, mesmo assim, trata o assunto com um olhar extremamente crítico, revelando as hipocrisias de uma sociedade caminhando diretamente para o seu declínio fascista enquanto se sente superior a Athos devido a sua sexualidade ""errada"".
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Catia Gama 03/10/2023

Livro de leitura boa, rápida e fácil
Perceber o comportamento do ser
humano, seus defeitos, preconceitos e
julgamento em uma ltália fascista...
Um livro rápido, bem estruturado e
cheio de perguntas enquanto lemos...
Porque era e ainda é tão imperativo as
pessoas não olharem a dor do outro?
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Lilliancs 09/09/2023

Os óculos de ouro
É uma leitura rápida, uma prosa boa de ler. A história chamou minha atenção por conta do contexto histórico em que se passa. O final, um pouco previsível, devido ao tema e período dos acontecimentos, surpreende pela simplicidade e a forma como consegue ser comovente.
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Pedro3906 31/07/2023

Talvez não pra todos
Numa rápida pesquisa pela internet é possível encontrar breve essência de "Os óculos de ouro", esta que não é obra sortida pois desdobra-se num conglomerado extenso de escritos e descrições acerca, sobretudo, da realidade judia em pleno século XX. Bassani evoca estudo de caso intimista sobre o fenômeno fascista em Ferrara e as contradições vigentes do mal-estar político, viver a revelia em grupo perseguido e incertezas angustiantes.

A quem compre passagem de ida antes de chegar na estação, experimentará uma paciência e interesse maiores do que os meus no decorrer da leitura. Desabituado, senti retrogosto amargo na quantidade exacerbada de descrições de paisagens, ambientes e tudo mais que for, embora compreenda-as na estilística do autor. A história é breve e sem ápice propriamente, uma e outra surpresa, palavras fervendo e cessa.

Curioso e genuíno. Fui atracado ao livro esperando um desenvolvimento viçoso também das questões de orientação sexual e nisso ficou faltando. Não acho que comentários de uma moça sejam suficientes, por isso, caso se anime em ler narrativa rica no conteúdo, recomendo "O crime do bom nazista", de Samir.
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Lucas Leite 22/02/2023

Os cidadãos de bem, sempre
O autor faz um bom trabalho ao reconstruir a Itália do entre-guerras e a ascensão do fascismo. A forma como a filiação partidária supostamente garantiria proteção vai se desmanchando até se transformar em tragédia.

E o que me chamou atenção foi justamente a ligação inesperada entre um jovem judeu e um senhor homossexual. Ambos conectados ao partido fascista ao mesmo tempo em que são vistos como o ?outro? a ser evitado ou eliminado diante de uma ideologia genocida.

Para quem vai ler, vale a pena prestar atenção na forma como o pai do protagonista percebe a si e a sua família. Especialmente no final. A pergunta é: estariam mesmo livres dos horrores que viriam?
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Lucas990 01/09/2022

Confesso que eu nunca havia escutado falar sobre esse livro e nem sobre o autor (o que se revelou um erro pois ambos mereciam muito mais reconhecimento). Encontrei esse livro na estante e resolvi dar uma chance, e que bom que eu fiz isso.
O livro se passa na Itália em meio aos conflitos da segunda guerra, porém o foco principal não é a guerra em si mas sim seu impacto na vida cotidiana, em especial na vida dos protagonistas dessa história.
É uma leitura rápida, surpreende e emocionante.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 10/07/2022

Gli Occhiali D?Oro
Do bolonhês Giorgio Bassani (1916-2000), Gli Occhiali D?Oro ou Os Óculos De Ouro foi publicado originalmente em 1958 e aborda a marginalização de homossexuais e o início da perseguição aos judeus durante o Fascismo na Itália.

O romance faz parte de uma série conhecida como Il Romanzo Di Ferrara, que tem a como pano de fundo a cidade que a intitula, e reúne outros cinco livros: Il Giardino Dei Finzi-Contini ou O Jardim Dos Finzi-Continis (1962), Dietro La Porta (1964), L?Airone (1968), L?Odore Del Fieno (1972) e Dentro Le Mura (1973).

Remetendo ao papel da memória na recuperação do passado, a narrativa é marcada por um lirismo melancólico e gira ao redor de Athos Fadigati, um médico otorrino de origem veneziana e radicado em Ferrara, que se distingue pelos tais óculos e pela cortesia.

Da desconfiança a confirmação da homossexualidade, Bassani relata a decadência moral do médico perante uma sociedade conservadora que não só acolheu, como lhe prestigiou profissionalmente e, se o trágico desfecho não chega a ser surpresa, é chocante acompanhar a hipocrisia das pessoas que tratam a questão de forma zombeteira, humilhante e até irascível.

?? Agora que seu segredo não era mais um segredo, agora que tudo estava claro, finalmente se sabia como se comportar com ele. De dia, à luz do sol, tirar o chapéu a ele com deferência; de noite, ainda que impelidos ventre contra ventre na Via San Romano apinhada, mostrar que não o conheciam. Como o ator Fredric March no filme O Médico E O Monstro, o doutor Fadigati tinha duas vidas. Mas quem não tem?? (Página 13)

Apresentada por um narrador-personagem judeu, o relato descreve o protagonista como um erudito apaixonado por um jovem fisicamente atraente num balneário na costa do Adriático, uma caracterização que reporta ao escritor Gustav von Aschenbach, protagonista do romance Morte em Veneza (1912), de Thomas Mann. Essa similaridade não se sabe se é uma casualidade ou, de fato, a obra do escritor alemão serviu de inspiração para o livro.

Outra curiosidade é a citação dos Finzi-Continis na narrativa, à medida que a obra-prima de Bassani, protagonizado por essa familia, só seria publicada quatro anos depois, o que indica que, na época, o escritor já possuía um esboço: as consequências das chamadas leis raciais, uma série de decretos que deram início à perseguição aos judeus impostos por Benito Mussolini em 1938 e que, em Os Óculos de Ouro, estavam em vias da promulgação:

?? Examinando a lista telefônica, na qual os nomes dos judeus apareciam inevitavelmente acompanhados de qualificações profissionais e acadêmicas, médicos, advogados, engenheiros, proprietários de grandes e pequenas empresas comerciais, e assim por diante, era possível perceber num piscar de olhos a impossibilidade de efetivar em Ferrara uma política racial que tivesse qualquer pretensão de ser bem-sucedida. Uma política desse tipo só poderia ?dar certo? caso famílias como os Finzi-Contini, com aquele seu particularíssimo gosto de se manterem segregados numa grande mansão aristocrática (ele mesmo, conquanto conhecesse muito bem Alberto Finzi-Contini, jamais conseguira ser convidado a jogar tênis na casa deles, naquela magnífica quadra de tênis privada!), fossem mais numerosas. Mas em Ferrara os Finzi-Contini representavam justamente uma exceção. De resto, eles também não desempenhavam uma ineliminável ?função histórica? apesar de viverem isolados, uma vez que se tornaram proprietários do palácio da avenida Ercole I e das terras de alguma antiga família da aristocracia ferrarense hoje extinta. (Página 91)

Finalmente, tanto o romance como os demais livros da hexalogia, a despeito de algumas ligações, são leituras independentes, e estimo que brevemente todos estejam disponibilizados ao leitor brasileiro. Até a próxima!
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Ninasg 23/06/2022

Os óculos de ouro
Essa nova tradução está incrível!
Os óculos de ouro faz parte de uma sequência de 5 livros sobre a cidade de Ferrara durante a ditadura de Mussolini.
Os óculos de ouro escancaram a hipocrisia da sociedade da época.
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Falangola 01/09/2021

A Convivência com os Preconceitos da Itália Fascista
A obra é surpreendente pela sua temática, dado o ano que foi escrita.

A história se desenvolve por volta dos anos 1920 até 1943, onde acompanhamos a visão de um narrador personagem sobre um outro indivíduo em evidência na sociedade de Ferrara, tanto por conta do seu status social quanto por sua orientação sexual. O médico Fadigatti, que possui um óculos de ouro o qual dá nome ao livro, é um personagem gay em meio à uma eminente Itália Fascista.

O romance é curto e na sua maior parte é bem amigável. No entanto, acompanhamos o narrador, um judeu e em meio à uma tensão perante a possibilidade da promulgação das leis raciais em seu país, se identificar com o personagem do Médico. A identificação ocorre por conta do constante medo de rejeição social.

A obra é curta e tem uma leitura muito prazerosa, com certeza um dos meus livros favoritos.
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jota 30/06/2021

BOM: livro curto que, apesar de fazer parte de um ciclo sobre a cidade de Ferrara e seus dramas sob o fascismo, pode ser lido separadamente
Lido entre 17 e 26/06/2021. Avaliação da leitura: 3,5/5,0

Hexalogia ou sextologia (aprendi agora) é um termo que se aplica a um conjunto de seis obras artísticas em série ou que têm algo a ver entre si. É o caso o ciclo de livros do autor italiano Giorgio Bassani (1916-2000), nascido numa próspera família judia de Ferrara, no norte da Itália. Seus seis livros tratando da cidade e seus habitantes, publicados entre os anos de 1956 e 1972, foram reunidos em 1974 pela editora milanesa Mondadori num volume único intitulado Il Romanzo di Ferrara. Que eu saiba, somente dois deles foram traduzidos para o português até agora. Esse Óculos de Ouro (1958) e aquele que é considerado sua obra-prima, O Jardim dos Finzi-Contini (1962). O livro depois virou filme de sucesso, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1972. Desconfio que seja o melhor exemplar da hexalogia...

Apesar da ligação entre si, os volumes (nenhum dos quais é muito longo) podem ser lidos independentemente. Eu pretendo (ou pretendia, dependo de encontrá-los todos disponíveis) ler a série toda, e já li o segundo e o terceiro volumes, citados acima. Ainda restam aqueles que não foram traduzidos por aqui: o primeiro livro, Dentro Le Mura (1956), o quarto, Dietro La Porta (1963), o quinto, L’airone (1968) e o sexto, L’odore del Fieno (1972). Eles têm a ver com a vida em Ferrara na era fascista, os anos 1930 especialmente. Muitos dos personagens dessas obras, principais ou secundários, são israelitas, judeus, e ficam sujeitos às chamadas “leis raciais” impostas pelo ditador Mussolini a toda Itália a partir de 1938. Mantêm relações normais com a burguesia italiana (católica, conservadora, moralista) ou até mesmo fazem parte dela plenamente enquanto não são discriminados, colocados todos no balaio geral das minorias a serem evitadas. Ou exterminadas, como se verificará mais tarde, já durante a guerra...

Óculos de Ouro se passa nas vésperas da promulgação das ditas “leis raciais”, porém o personagem principal não é um judeu ou descendente, mas um médico veneziano que instalou consultório em Ferrara. O otorrinolaringologista usa óculos com aros de ouro, daí o título do livro. De início, Athos Fadigati é visto como uma pessoa agradável, um cavalheiro, ótimo profissional, mas alguém certamente em quem “havia alguma coisa que não se podia entender perfeitamente. Mas isso também era agradável, nele, isso também atraía”, como confessa o narrador nas páginas iniciais. O problema é que depois a cidade começa a notar os aros dos óculos de Fadigati brilharem na obscuridade de certos lugares que os cidadãos ferrarenses consideravam mal frequentados, especialmente as platéias dos cinemas locais (em vez dos balcões, mais respeitáveis), onde se podia marcar encontros sexuais. Nada disso é dito claramente, apenas sugerido, como também em nenhum momento da história qualquer cena homoerótica seja narrada.

Então aos poucos, nas conversas sociais se começa a especular se o médico, que não era casado nem tinha namorada, não seria certamente um “daqueles”, um invertido, ou seja, que apreciasse rapazes, não mulheres... Também porque sua amizade com gente jovem, especialmente com estudantes que iam de trem de Ferrara para estudar em Bolonha, era muito mais notável do que com pessoas de sua idade e nível financeiro. As coisas pioram para Fadigati quando ele aprofunda seu relacionamento com um amigo do narrador, Eraldo Deliliers, jovem estudante e boxeador, admirado por sua beleza física, a quem dá presentes e viagens e de quem em troca recebe desprezo e mesmo uma agressão uma vez. Alguns cidadãos, na verdade suas mulheres, passam a falar ainda mais maldades sobre o médico, passam a considerá-lo um “depravado”, um “velho degenerado”. E aquelas pessoas que tinham amizade com Fadigati começam a evitá-lo, ou são aconselhadas a fazer isso. Mas onde entram os judeus nessa história, já que uma das características da literatura de Bassani é justamente a presença deles em seus livros?

Bem, o narrador é um jovem estudante judeu, que em nenhum momento deixa de ser amigo do médico, mesmo quando seus pais, mais próximo do final da trama, passam a desgostar dessa amizade e o médico vê-se praticamente sozinho, abandonado mesmo por um cão que recolhera na rua. O pai do narrador vai percebendo que a instabilidade política vigente, quer dizer, o crescimento do fascismo com suas “leis raciais” é um fator com o qual os judeus italianos e seus descendentes devem se preocupar. A proximidade do ditador Mussolini com Hitler é saudada por uma amiga da família, a detestável senhora Lavezzoli, que é italiana, uma das pessoas que desde o início mais perturbam e agem com maldade contra Fadigati. Porém, alguns israelitas não acreditavam que seriam discriminados pelos fascistas e se isso ocorreu com os Finzi-Contini, como se menciona a certa altura do livro, seria porque essa família era uma exceção, vivia à margem, isolada numa mansão, que sequer os convidava para uma partida de tênis em sua magnífica quadra, em seu magnífico jardim. Ah, eles se enganavam: o medo e a tragédia rondariam Ferrara mais cedo do que supunham. E, de certo modo, o doutor Fadigati, mesmo não sendo judeu, seria uma das primeiras vítimas desses tempos de intolerância...
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