Fabio Shiva 27/02/2021
Grande Alma
Por uma curiosa sincronicidade, terminei de ler esse livro em 23 de fevereiro, exatamente sete anos após ter finalizado a leitura de outro livro sobre Gandhi, conforme fui lembrado pelo Facebook: “O Pensamento Vivo de Mahatma Gandhi”. Na verdade, já perdi a conta dos livros que li a respeito da vida e obra de Gandhi, além das “Cartas ao Ashram”, redigidas pelo próprio Mahatma. E a cada novo livro que leio, mais e mais me causam espanto, admiração e reverência as pegadas deixadas por esse sublime gigante.
A biografia escrita por Louis Fischer, que tive a alegria de ler no original em inglês (“The Life of Mahatma Gandhi”), é sem dúvida a obra mais completa escrita sobre Gandhi. Tanto que foi a principal referência para o maravilhoso filme de Richard Attenborrough, que em 1983 ganhou merecidos oito Oscars (https://youtu.be/DHP9VlhiZOc).
É para mim motivo de inesgotável fascínio reviver a história do franzino e seminu indiano que conseguiu derrotar o poderoso império britânico e assim conquistar a independência de sua amada Índia. A supremacia bélica da Inglaterra não estava preparada para enfrentar as duas poderosas armas de Gandhi: a Não-Violência e a Desobediência Civil. Sempre me pergunto, contudo, se essas armas imbatíveis teriam êxito se não houvesse por detrás delas a liderança espiritual de alguém como Mahatma Gandhi.
E, da mesma forma, sempre me causa uma profunda consternação ver a batalha da vida de Gandhi ser coroada por uma vitória tão amarga, pois a tão sonhada independência foi acompanhada pela sangrenta divisão entre Índia e Paquistão. Como demonstra minuciosamente o livro de Louis Fischer, na mesma medida em que Gandhi foi responsável pela independência da Índia, as ações de um único homem acarretaram a fundação do Paquistão. Esse homem, que se definia como um “anti-Gandhi”, foi Muhammad Ali Jinnah, e devido à sua teimosia e arrogância centenas de milhares de indianos, entre hindus e mulçumanos, perderam suas vidas.
E daí a cena que mais me marcou nessa leitura. Após uma série de violentos conflitos, Gandhi imagina um plano surpreendente para promover a paz entre hindus e mulçumanos. Ele começa a visitar aldeias mulçumanas que foram atacadas por hindus e sai batendo de porta em porta, pedindo abrigo nas casas humildes. Assim, ele esperava convencer os hindus a cessarem as hostilidades contra os mulçumanos. Nessa época, ele era indisputavelmente o maior líder político do país e já famoso mundialmente.
Depois de alguns meses nessa missão de viver entre os muçulmanos, um idoso lhe pergunta: não seria mais fácil procurar Jinnah e acertar algum tipo de acordo com ele? Ao que o Mahatma responde: os líderes são um espelho do povo, e são criados por aqueles que os seguem. No dia em que o povo aprendesse a desejar a paz como o bem supremo, surgiria um líder igualmente desejoso de paz.
Esse luminoso exemplo chega até nossos dias, trazendo inspiração, confiança e fé no futuro, pela lembrança da máxima de Gandhiji: “Seja a mudança que deseja ver no mundo.”
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