Lola 09/04/2012Ahmnat - Os Amores da MorteUma jogada de mestre.
Começo assim a complicada missão que é colocar em palavras a perfeição de detalhes bem amarrados que Julien de Lucca usou para criar a história de Ahmnat, uma garota egípcia que não conhece amor senão o que sente pela mãe. Após uma vida curta e sofrida ela é designada para se tornar a Morte. Em pessoa. (?)
Julien tem uma escrita segura, experiente, que passa ao leitor veracidade nos fatos que ele narra. Um enredo original, criativo, completamente denso e carregado de emoções, contudo, que não deixa de ser interessante ao longo das páginas.
Ahmnat estava em perigo quando um ser que com certeza não era humano apareceu. Sua vida a partir desse encontro jamais seria ‘normal’. Nos últimos suspiros de uma morte trágica ela faz um pedido. E é aí que ela é transformada na senhora dos mortos. Ahmnat agora era uma das mais poderosas entidades e já deveria saber que isso não seria tão fácil quanto parecia.
Após estar integrada em seu cargo ela depara-se com a visita de Destino, o responsável por escrever o rumo da vida dos mortais. Junto dessa visita vem uma proposta. Destino se dispõe a criar 10 vidas mortais com características bem especiais e se Ahmnat se apaixonar por algum deles terá que desistir de seu posto e voltar a ser humana proporcionando a Destino a chance de reescrever a história dela. Caso contrário Destino se tornará mortal e Morte poderá buscá-lo pessoalmente.
Durante incontáveis séculos Ahmnat aprende a usar e aperfeiçoar seus poderes enquanto desfruta de passeios por inúmeros lugares da Terra, acompanhando a evolução dos humanos.
Ela também recebe a visita de outras entidades, aprendendo com elas algumas lições. Dentre os visitantes também está o Filho da Aurora, ou mundialmente conhecido por Lúcifer.
Neste ponto da narrativa Julien aborda conceitos sobre céu e inferno por um ângulo diferente do qual estamos acostumados. Confesso a vocês que fiquei surpresa. Mas foi pelo lado bom! Não pense porém que Julien dá uma de Todo Poderoso e quer modificar as crenças que existem, nada disso. Este não é um livro sobre religião e nem está preocupado em achar um lado certo e um lado errado. Mas é interessante ser apresentado a possibilidades diferentes das quais somos doutrinados desde pequenos.
O livro tem uma narração em grande parte na 1ª pessoa, apenas nos momentos em que Ahmnat nos deixa crer que está narrando a sua história a uma pessoa que está junto com ela é que passa a ser em 3ª pessoa.
Quanto a erros de digitação, encontrei apenas um, mas nada que tire o brilho da leitura. Os capítulos são grandes, então em boa parte deles você tem que parar para tomar um fôlego.
Eu poderia apontar diversos pontos/personagens positivos da história. Mas aí estaria contando muito e tirando a graça do livro, que é justamente ser surpreendente e inesperado.
Um ponto que achei super interessante e bem aplicado foram os fatos históricos que Julien inseriu no livro, e serviram como um bom pano de fundo para as experiências de Ahmnat.
Enredo irresistível, conhecimento por parte do autor dos fatos que aborda e um trabalho gráfico incrível por parte da Editora Gutenberg, fazem de Ahmnat – Os Amores da Morte um dos livros mais belos e bem escritos que já li. Por isso nem vou comentar muito sobre o final que me deixou boquiaberta e em surto pelo segundo volume intitulado “Ahmnat, A Mãe de Todos os Pecados”.
A única sugestão que eu daria fica a cargo da gramatura das páginas que se possível poderia ser diminuída a fim de deixar o livro mais leve.