danilo_barbosa 13/03/2012A melhor vingançaVeja mais resenhas minhas no Literatura de Cabeça:
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Meus queridos, não canso de assumir que, quando o assunto fala de vinganças criativas e livros intensos, eu estou dentro! E, qual não foi a minha surpresa ao terminar de ver o filme do maravilhoso Almodóvar, A pele que habito, descobrir que ele era baseado em um livro francês?!
Curioso para conhecer a obra original, mais que rapidamente pedi para os meus caros parceiros da Editora Record um exemplar do espetacular Tarântula (158 páginas) de Thierry Jonquet.
E, gente, que obra é essa?!
Fiquei embasbacado com a riqueza que a trama é tecida. Apesar de poucas páginas, o livro tem uma profundidade e uma riqueza de sentimentos tremenda. O autor divide a história em quatro vozes, mesclando presente e passado de forma extremamente bem colocadas. E, como em uma colcha de retalhos que estampa o melhor e o pior do ser humano, ele se apodera de nossos olhos que não conseguem largar as páginas.
Para quem ainda não conhece, podem ficar tranquilos que não sou de soltar spoilers, mas com certeza tenho de explicar um pouco da história, né?
Neste livro, vemos quatro narrativas que, em um primeiro momento, parecem que não tem nada a ver uma com a outra. Richard é um genial cirurgião que tem a vida marcada pela tragédia. Sua única fonte de prazer é castigar Éve, uma bela mulher que ele mantém prisioneira em um luxuoso quarto.
Por outro lado, a moça se submete aos mais perversos jogos de Richard, sem nos contar porque vive neste constante estado de subversão, chegando cada vez mais perto do ponto de enlouquecer.
Paralelas a essas duas histórias, conhecemos um outro relacionamento entre vítima e algoz. É o caso de Vincent, que se encontra preso em um porão escuro, vítima do Tarântula, um ser misterioso e cruel que destrói toda sua identidade vagarosamente. E aos poucos, descobrimos que as teias que envolvem o pobre moço querem consumir muito mais do que ele pensa...
E, finalmente, também nos tornamos cúmplices de Alex, um assaltante sem escrúpulos que elabora um delirante plano de fuga... Pois é, como eu disse e repito, apesar de não parecer, essas pessoas irão se chocar e revelar um retaliação verdadeiramente surpreendente...
Pois é, gente, o que mais posso garantir?
Que cada fato narrado é muito bem escrito, com um toque plenamente poético e sombrio como poucas obras do gênero. Gostei do livro porque ele me surpreendeu, fugindo do senso comum, deturpando e denegrindo tudo que consideramos essenciais para nós como pessoas. É o tipo de obra que, ao final, você pára e pensa "Puxa, eu nunca vi nada assim"...
"Você desistira de chorar, de se lamentar. Em termos materiais, sua vida nova nada mais tinha de penoso. Nessa época do ano - fevereiro? março? - você deveria estar no liceu, no último ano, mas ali jazia, cativo naquele cubo de cimento. E a nudez tornara-se um hábito. O pudor extinguira-se. Apenas as correntes eram insuportáveis."
Venha se perder no meio desta teia!