Leite derramado

Leite derramado Chico Buarque




Resenhas - Leite derramado


272 encontrados | exibindo 136 a 151
10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 |


Mavibarrinuevo 09/07/2015

Buarque-se
Isto não é uma resenha propriamente dita. Não resumirei este amontoado de páginas com capa chamativa de cor alaranjada escrito por Chico Buarque e ao fim do texto fazer algum comentário. Pretendo, somente, dizer o quão importante este livro é para mim e o quanto recomendo o mesmo. Um livro sem parágrafos narrado por Eulálio, um homem em sua fase derradeira, vivendo em um leito de hospital, contando apenas com sua filha Maria Eulália, uma enfermeira e suas memórias. Como pode um livro desses ser tão amável? Será que devo levar em conta quem o escreveu? Talvez seja o modo como o leitor entra na mente confusa e esquecida de Eulálio, ou então talvez seja pelos belos diálogos/pensamentos (há post-its em quase todas as páginas), eu não sei. Não sei exatamente o que me faz amar um livro como amo Leite derramado, todavia deixo apenas um recado a você: leia-o. Leia-o e delicia-te neste universo confuso, melancólico, puro e belo que é a mente de Eulálio. Leia-o e tenho certeza de que você não será mais o mesmo. Ah, também é uma leitura rápida.
comentários(0)comente



Rafa P. 06/04/2015

Lembranças, lembranças e lembranças...
Leite derramado conta a história de um homem idoso vivendo em um leito do hospital, que decide narrar sua história a enfermeiras, sua filha, ou a quem estiver disposto a ouvi-lo. Vindo de família tradicional do Rio de Janeiro , composta por figuras importantes do cenário politico da época , Eulálio , personagem principal, relembra com nostalgia, indiferença, saudade e tristeza seus tempos de juventude e sua atual situação.
A narrativa é bastante peculiar, já que se dá em forma de monólogo, o que me surpreendeu positivamente, pois jamais desconfiava que um monólogo poderia ser interessante e divertido de-se acompanhar. A narrativa é fluida, continua e apresenta um ótimo ritmo, alternando entre acontecimentos do passado e presente do personagem, sem se deixar arrastar ou tornar-se cansativa e enfadonha.
Outro ponto interessante, é a maneira como as lembranças vão surgindo na fala do personagem , que devido a avançada idade, narra de forma confusa e não linear os fatos. Esse elemento utilizado pelo autor é bastante eficaz na narrativa, e conduz o leitor a participar dos devaneios e confusões de um homem de 100 anos, o que estabelece uma finalidade imediata entre leitor e a história, pois o olhar do personagem sobre sua própria vida é muito sincera e realista.
Outro destaque positivo da obra é a personagem de Matilde, que se mostra cativante e encantadora, através da fala de Eulálio, mas que ao mesmo tempo, tem um lado sombrio e misterioso, que se arrasta por toda a narrativa e cria um ótimo suspense em torno de seu desfecho final, muito bem desenvolvido por sinal.
Um ponto negativo do livro, onde o autor deixa a desejar, é justamente ao explorar o universo da sociedade brasileira no qual o personagem perpassa sua vida toda. O autor não se aprofunda em temas como política, preconceito, corrupção, entre outros temas polêmicos desta época. Por vez, o autor preferiu focar no drama familiar e aventuras amorosas, o que não é ruim, só penso poderia ter dado um maior espaço para desenvolver e discutir outras questões pertinentes do cenário do personagem.
O livro Leite derramado é um bom livro, que mantem o leitor atento e interessado a maior parte do tempo. Não chega a ser uma obra genial, mas tem um ótima qualidade e merece ser lida. Recomendo.
comentários(0)comente



Geise @leiturasdageh 11/03/2015

Esse trecho que encontra-se na página 138 e 139 acho que resume muito bem o livro:
"São tantas as minhas lembranças, e lembranças de lembranças de lembranças, que já não sei em qual camada da memória eu estava agora."

Pois a princípio parece algo muito confuso de se ler, na mesma frase se mistura passado e futuro, e ás vezes você se sente perdido. Mas achei bem realista, pois o personagem principal tem lá seus 100 anos de idade e está relatando sua história a uma enfermeira, sua filha, em um leito um hospital. Eu simplesmente amei a leitura e me diverti com a história.
Eu achei bacana, porque mesmo, parecendo confuso, os relatos foram contados de forma natural e não cronológico.
O narrador é seu Eulálio Assumpção, filho de um senador, de família muito bem colocada, que vivia em meio a grandes luxos. Mas como toda família, tem seus altos e baixos.
Não é uma leitura de grandes aventuras, mistérios, suspenses, mas tem seu encanto.


site: http://transformandocomcriatividade.blogspot.com.br/2015/02/livro-leite-derramado-de-chico-buarque.html
comentários(0)comente



Breno Vince 26/01/2015

Livro para aprender a gostar de Ler
Um bom livro. Assim defino Leite Derramado. Uma boa história que é bem escrita, mas, ao meu ver, não é, nem de longe, genial. Sobre a história de um homem de idade avançada remexendo suas memórias, sobretudo de Matilde, a mulher da sua vida, que ele ora tem certeza absoluta de que o traía e ora a tem como santa, confesso que não achei original por ter me lembrado bastante Dom Casmurro, mas ainda assim vale a pena ser lido. Uma leitura fácil, rápida, que envolve (embora, ao meu ver, provavelmente não se torne o livro mais marcante que vá ler na vida) além de agregar conhecimento.
Rafa P. 01/04/2015minha estante
Breno foi a mesma impressão que tive lendo o livro, me lembrou Dom Casmurro.




Alexandra 13/12/2014

A decadência de uma pessoa
“Leite Derramado”, romance escrito por Chico Buarque, ficou famoso principalmente devido ao polêmico Prêmio Jabuti de “Livro do Ano” que ganhou em 2010. Na época, algumas pessoas consideraram injusta a premiação, já que a obra havia ficado em segundo lugar na categoria de ficção. Houve até mesmo pedidos para que Chico Buarque devolvesse o troféu, algo que me soou mais como uma crítica à pessoa de Chico que à sua obra.

De qualquer forma, não li o livro que ficou em primeiro lugar na categoria ficção, então não posso dizer qual eu considero o melhor – e, de fato, pouco importa já que não faço parte do júri. Mas posso afirmar que achei “Leite Derramado” um romance triste e que me tocou profundamente.

A história é narrada por um idoso senhor, com mais de cem anos, que agora se encontra em um asilo. Lembrando de sua vida, a sua memória se embaralha, confunde as enfermeiras com a filha, e a filha com sua mãe. Vindo de uma família nobre - seu avô “fez parte” do fim da escravidão e seu pai era senador -, Eulálio é um personagem em decadência que conta de forma bagunçada episódios que marcaram sua vida, principalmente sobre quando conhece Matilde, sua esposa. Essa é a personagem mais intrigante do livro, não por ser complexa ou difícil, mas porque Eulálio nunca conseguiu apoiá-la e respeitá-la como devia. Sabe-se logo de início que ela morreu jovem, mas as explicações a cerca de como são diversas, algumas mais prováveis que outras.

O próprio título do livro faz referência a Matilde, que após ter uma filha estava com os seios cheios de leite, mas que aos poucos se esvai ao mesmo tempo em que ela vai perdendo a vontade de viver. O leite, que representa a vida, é derramado, desperdiçado. A própria cor do livro, laranja, representa a vivacidade de Matilde, que aparece usando vestidos laranjas. Até mesmo uma carta que tem ligação com ela possui um selo laranja.

A decadência de Eulálio é mostrada também quando conta as histórias do neto, bisneto e tataraneto, pessoas que ele sempre confunde, mas que fazem parte do declínio de sua vida e de sua família, tanto no sentido monetário quanto na parte física e emocional.

Tratando das habilidades do autor, o modo como Chico se transforma em Eulálio para contar essa história é sensacional, dando a impressão de que esse senhor idoso estava falando comigo, com todas suas metáforas, sua mesquinhez e seus preconceitos.

Enfim, essa obra é lindamente triste porque parece incrivelmente real.

“Mas se com a idade a gente dá para repetir certas histórias, não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida.”

site: http://eunaosoualexandredumas.blogspot.com.br/
comentários(0)comente



João Ferro 25/06/2014

"Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço, é por esmero. É para si próprio que um velho repete sempre a mesma história, como se assim tirasse cópias dela, para a hipótese de a história se extraviar"

Chico Buarque

Leite derramado é uma narrativa não linear de Chico Buarque através da qual se conta a história de Eulálio d'Assumpção. Trata-se de um monólogo em primeira pessoa, em que o próprio Eulálio, em seu leito de morte e tomado pelos delírios da senilidade, conta o desenrolar de sua vida: um homem aristocrático que vê sua existência definhar junto com sua linhagem.

O romance é caracterizado pelo uso de flashbacks e por várias dúvidas nas quais se põe o narrador-personagem. Apesar do título, Eulálio é objetivo e apresenta sua experiência de vida sem rodeios, não se mostrando, pois, arrependido por qualquer eventualidade em sua existência. Eulálio conta sua história de forma tranquila, às vezes confusa e cheio de dúvidas geradas por sua idade avançada. É apenas um velho que antes fora rico e de boa estirpe, que olha para o passado e possui convicções aristocráticas, analisando o cotidiano ao seu redor e as mudanças sociais as quais testemunha sem questionar suas crenças, sua formação e os acontecimentos. Eulálio aceita os fatos sem se perguntar o porquê de tudo: duvida (principalmente de sua mulher) sem se torturar ou se culpar.

A cor da capa do livro e o título possuem uma relação fundamental com características da esposa de Eulálio.

Livro de fácil linguagem, que prende pelo mistério à Dom Casmurro que apresenta. Uma leitura leve e que enriquece bastante a carga cultural de um leitor bem disposto e neutro. Bom livro.
comentários(0)comente



Hermes 02/04/2014

Chico Buarque, na minha opinião, é disparado o melhor compositor brasileiro. Conheço praticamente todas as sua músicas; tenho todos seus discos de estúdio, além de alguns outros especiais: apresentações ao vivo, apresentações com algum convidado, temas de filme, temas de peças de teatro, coletâneas. Porém, apesar de ser fã do Chico músico, até então, nunca tinha lido um livro seu. Comecei justamente pelo último: Leite Derramado. Gostei bastante, tanto que fiquei com vontade de ler outros dele, para ver se também viro fã do Chico escritor.


Em leite derramado, esse artista nos apresenta um senhor de cem anos de idade que se encontra bastante doente no leito de um hospital. Eulálio, o nome desse senhor, conta a quem estiver presente no local, a história de sua vida e a saga de sua família. A história em sim não tem nada de especial, tampouco é complexa ou profunda, o que não significa que o livro seja vazio, pois não é; existem alguns conflitos psicológicos e reflexões filosóficas importantes. Além disso, a forma como o autor narra a experiência desse personagem a torna bem interessante. O desenlace de alguns dos acontecimentos são muitas vezes apenas sugeridos e as situações são descritas de maneira sutil, o que nos prende ao relato e nos leva a reflexão para tentar captar a mensagem deixada nas entrelinhas. O texto é muito bom, de leitura fácil e agradável, repleto de belas metáforas que tanto marcam as letras das músicas do Chico.


A narrativa foi construída de forma cíclica. É um vai-e-vem constante. Passado e presente, lucidez e loucura, misturam-se e confundem-se com frequência durante todo o livro, mesmo em pequenos trechos do relato. Por isso, deve-se fazer uma leitura atenta de cada pedaço da obra para não correr o risco de perder aspectos importantes para o entendimento da trama. Por conta dessa característica, por vezes, ficamos na dúvida se a história contada é real ou se não passa do fruto da mente perturbada do senil personagem.


Ao terminar o livro, provavelmente você sentirá vontade de reler, pelos menos, o seu início, que parece meio confuso e truncado por conta do estilo da narrativa com idas e voltas; e não se assuste se quando der por si já estiver lido todo ele de novo.

site: http://garrafadacultural.blogspot.com.br/2012/08/leite-derramado.html
comentários(0)comente



Anne Mortensen 12/03/2014

Memória e construção da identidade
Esse romance breve de Chico Buarque retrata a trajetória de uma família através da memória de Eulálio Montenegro D´Assumpção, um senhor com idade bem avançada de família aristocrática decadente, já em seu leito de morte no hospital. O título do livro, muito bem empregado, revela o lamento de um centenário pelos fatos da vida que não podem mais ser mudados, narrados por uma memória confusa.

Chico Buarque descreve a personagem como um homem tentando sobreviver à própria história, o uso do discurso em primeira pessoa é como uma imposição ferrenha quanto a tudo o que Eulálio tenta lembrar. Essa forma de linguagem consegue causar a sensação de aproximação com a personagem, como se o velho senhor contasse o relato de sua memória logo ali na cadeira ao lado.

Várias vozes entram nos relatos de Eulálio para compor essa sociedade - um olhar histórico do Brasil imperial e republicano - apontadas como a crise de classes, as relações políticas, a Grande Guerra, a crise de 1929 e a quebra da bolsa de valores: bancos falidos e o desemprego. Na trama, o episódio é o início da decadência financeira do personagem principal. Eulálio foi para a Europa tentar retomar os negócios do pai com atacadistas de café franceses. Chegando a Paris fica sabendo que a importação de café havia sido suspensa em toda a Europa. Em Londres, todo o dinheiro da família aplicado em ações havia evaporado.

O autor conecta a personagem não somente à passagens intimistas de sua vida, mas a coloca em momentos históricos importantes. Eulálio está envolvido em situações comuns do cotidiano, ligado a uma sociedade transformadora e transformada por seu tempo. O leitor mais atento percebe que o aristocrata foi criado a sombra do pai, tendo uma educação com valores burgueses, viveu em uma sociedade preconceituosa e racista, o que se vê principalmente na mãe dele de forma clara.

Da mesma forma que a memória não para, o discurso de Eulálio flui ininterrupto, sequencial e direto. A falta de parágrafos dá uma fluidez à história que permite ler quase em um só fôlego. Um monólogo de um homem que ainda tem muito o que dizer aos seus espectadores. Por mais confuso que Eulálio possa parecer em suas narrativas, cada assunto vai se encaixando a outro e a outro até se perceber que já mudou o assunto, como uma memória ativa, porém prejudicada pela idade e às vezes atropelada pela própria ânsia em lembrar.

Para algumas pessoas, a leitura de Leite Derramado pode ser mais sentimental do que racional, levando-se em consideração todo o contexto em que o velho senhor é inserido e como a narrativa é construída. A ponto de fazer refletir sobre a conduta pessoal na sociedade e o que isso pode acarretar com o tempo: a solidão, o lamento, a amargura e o ressentimento, no caso de Eulálio.

As lembranças evocadas pelo velho senhor são ligadas a situações de emoção interna, o desejo é um tema recorrente, o que deixa carregada de emoção a narrativa, que com um olhar puramente interno, passa o seu tempo a descortinar as suas vivências para registrar ainda o que lhe resta e demarcar o seu espaço na história.

Com uma mente por vezes falha, Eulálio consegue reconstruir a própria identidade. E é essa a viagem que o livro proporciona: a reflexão sobre a infância, sobre as mudanças que acontecem através do tempo, não só em nós mesmos, mas nos remete a pensar sobre a condição humana e suas ações que vão projetar o futuro.

Como diz o próprio Eulálio no livro Leite derramado: "a memória é deveras um pandemônio, mas está tudo lá dentro, depois de fuçar um pouco o dono é capaz de encontrar todas as coisas". A memória nos permite permanecer, através de nossas lembranças ou de outras pessoas, quem sabe perdurar também para além da morte.


site: http://croniannecas.blogspot.com.br/2014/03/memoria-e-construcao-da-identidade.html
comentários(0)comente



Antonio Cesar 05/03/2014

“... E um dia mamãe me chamou para uma conversa, parecia algo desapontada por descobrir alguém mais infeliz que ela. ...”

Pág.: 56
5º período
Leite Derramado
Francisco Buarque de Hollanda.

A decadência de uma nobre família na lembrança de um centenário hospitalizado e perto da morte. Um título tão ou mais inspirado que a obra. Triste.
comentários(0)comente



raquellruiz 20/02/2014

Maestria no narrar!
Ao passar o livro no caixa da Livraria Saraiva, minha esperança era ler um Budapeste 2, a missão! Estava num momento deprê, onde tudo o que eu queria era um romance inteligente como aquele. Sucesso absoluto e tão confuso e geminiano quanto ele e quanto eu.
Por isso minha decepção inicial. Depois a maestria do discurso de Chico Buarque sobrepõe a falta de um romance emocionante.
A narração de uma vida que começa gloriosa, numa família cheia de posses que acaba num corredor de hospital, narrada por um velho de mais de 100 anos se apresenta hilariante e ao mesmo tempo patética. Preconceitos são apresentados de maneira bem-humorada para mostrar na verdade a realidade de um Brasil decandente.
A "tradição" de uma família de posses vai sendo dilapidada e a honra jogada na lata do lixo. Que honra? Tudo foi ganho sempre com falcatruas e jeitinhos (que dizem representar o brasileiro).

O que te prende na trama de bancarrota e do romance do tal velhinho Eulálio é que sua memória já bem falha, escorrega nos fatos e o faz repetir mil vezes o mesmo causo, ou as vezes conscientemente ele os omite. Então a cada nova reformulação do fato, há nuances diferentes, detalhes importantes para desvendar certos mistérios.
Engraçado e inteligente a te fazer gargalhar no metrô.
comentários(0)comente



Sabrina 10/01/2014

Com quantas Matildes se faz uma Capitu
Uma narrativa sobre os últimos 200 anos de Brasil para quem quiser ouvir, talvez essa seja a melhor e a pior definição para o livro de Chico Buarque.Leite derramado é um compilado dos disparates de um velho aristocrata arruinado, Eulálio d'Assumpção. Assumpção assim: com 'p', como ele faz questão que seja grafado, para mostrar a nobreza da linhagem.
Eulálio é um aristocrata arruinado que padece sobre uma maca em um hospital público no Rio de Janeiro. Centenário e "dado ao devaneio" (como ele mesmo se descreve), sob o efeito de alguma morfina, Eulálio começa a disparatar para quem quiser ouvir sobre seus idos do passado, contando a história da ascensão e decadência da aristocracia Brasileira por meio da sua própria história familiar. A narrativa é uma grande crítica, isso é incontestável, mas não me cabe analisar a crítica histórica, social e política incutida nela, pois não tenho propriedade alguma para falar sobre.
A história do Brasil, a aristocracia decadente, os hábitos sociais do início do século xx, as mudanças econômicas advindas da sucessão dos governos brasileiros, e a presença forte dos 'males atemporais' - corrupção, delinquência, preconceito racial e de classes, a influência de nomes poderosos no país, entre outros, são assuntos que se podem esperar de Leite Derramado. Também há um diálogo com a obra de Machado de Assis, e isto é até bem perceptível, outro assunto sobre o qual não vou me arriscar a falar, ainda que as minhas especulações a esse respeito sejam várias não sei quais são reais e quais são muito erradas.
Deixado tudo o que foi citado até aqui para trás, o que realmente me afeiçoou ao livro foi, sem duvida, o fato de ter simplesmente me divertido com as histórias de Eulálio nos seus momentos entre devaneio e lucidez. No texto as lembranças se confundem e se misturam, acompanhando a mente pouco lúcida de Eulálio, principalmente quando fala de sua esposa Matilde. Minha grande especulação ao terminar o livro é que fim teria de fato levado a esposa de Eulálio (apesar de seu nome gravado na sepultura da família Assumpção) - se teria terminado seus dias no manicômio, se foi acometida de uma grave doença e veio a morrer, se partira da casa de Eulálio com outro homem ou se caíra nas graças de Dubosc e acabou por ir para a frança a bordo de um dos magníficos navios que costumava observar atracados.

comentários(0)comente



Pabline 29/12/2013

Esses dias eu ando meio viciada em Chico Buarque, não consigo parar de escutar suas músicas e não ficar encantada com as múltiplas facetas dos seus múltiplos personagens; personagens esses, muitas vezes considerados marginais. Mas enfim, vamos deixar essa conversa sobre as músicas de Chico Buarque para outro momento. Li Leite Derramado justamente por esse frenesi que venho sentido por Chico Buarque, um homem muito talentoso, é impossível não admitir. Minha curiosidade pela obra foi ampliada ao saber que esse livro ganhou o Prêmio Jabuti. Então pensei, no mínimo deve ser bom. Mantive uma sinopse tão grande porque acho que ela resume divinamente bem o livro, e até bem melhor do que eu conseguiria fazer. Por isso, em vez do enredo, falarei mais de minhas impressões sobre o livro.

A diagramação do livro deixa a leitura, de poucas páginas, ainda mais rápida. Facilmente em uma tarde podemos ler a obra. O espaçamento é grande, as letras também, e os capítulos são pequenos. Capítulos pequenos são sempre um perigo, pois sempre ficamos naquele, só mais um, é pequenininho mesmo. Esses artifícios contribuem para que a leitura não se torne muito cansativa, até porque é importante que o leitor não esteja com a mente cansada para poder perceber tudo o que o autor diz nas entrelinhas.

O personagem principal é um senhor velhinho, que em meio às suas memórias, e as confusões que elas causam em sua cabeça, conta para o leitor, pelo intermédio de sua filha, de uma enfermeira, ou “de quem quiser ouvir” momentos de sua vida. Desde a infância o narrador nos apresenta ao contexto social da época. A super valorização do nome, a própria inserção do homem ao “modo de ser homem” nessa sociedade essencialmente patriarcal de um Brasil que ainda cheira a realezas europeias. O homem desde muito novo era cobrado a se mostrar macho, viril, dominador, e era inserido nas praticas sexuais até com animais, para depois ter contato com mulheres de “vida fácil”. Como grande estudioso, é interessante ver Chico Buarque trazer nas entrelinhas costumes da sociedade da época. O livro também mostra uma sociedade em transição, onde não só os costumes vão notadamente mudando, mas como a vida urbana vem sendo mais valorizada que a rural, e como até as tecnologias apresentadas durante a história marcam esse processo de modernização que o Brasil vem passando, um processo de “civilidade” ansiado pela sociedade brasileira da época.

As memórias desse senhor vão e vem, é muito interessante ver esse efeito numa narrativa. A impressão que dá é a de que você está sentado numa cadeira próxima à cama do personagem, e ouvindo sua mente já cansada lembrar de histórias a tanto tempo vividas. Chico Buarque sabe brincar com as palavras, isso é claro em suas músicas, e se mostra igualmente claro em Leite Derramado. O livro trás uma experiência que acho que todos deveriam viver; então sim, recomendo. Para quem possa se interessar por outras obras de Chico Buarque, ele tem outros livros que também ganharam o Jabuti, esses são Estorvo e Budapeste, que claro, estou curiosa para ler.

site: http://amigasentrelivros.blogspot.com.br/2013/12/resenha-leite-derramado.html
comentários(0)comente



Verona 17/10/2013

Leite Derramado
Um livro um tanto quanto cansativo, pode ter certeza.
Mas se você se armar de paciência e entender a viagem que Chico fez para entrar na mente de uma pessoa de 100 anos de idade, vai entender cada palavra escrita.
Quem convive com pessoas idosas vai se identificar e gostar muito de conhecer a história do Sr. Eulálio.
Repito: é um livro cansativo, tive que ler com algumas longas pausas para que não me cansasse. Mas valeu a pena.
Porém, não pretendo ler outro livro do Chico Buarque tão já.
comentários(0)comente



Samyle 01/10/2013

Sabe aquele livro que te conquista na primeira linha, na primeira palavra, te encanta, te toca com uma singeleza e um sentimento ímpar? Pois é.
"Mas se com a idade a gente dá para repetir certas histórias, não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida." Pág. 184

Eulálio de Assumpção é um senhor com mais de cem anos, filho de gente rica, de alta estirpe, ligados à política e íntimos de toda a História do Brasil, mas que agora, no quase fim da vida, está num hospital público, à base da morfina e sonhando em reconstruir sua vida lá fora, até mesmo pedindo em casamento a enfermeira que o trata.

"Estou pensando alto para que você me escute. E falo devagar, como quem escreve, para que você me transcreva sem precisar ser taquigrafa, você está aí?[...] Mas hoje a moça não está para conversas, voltou amuada, vai me aplicar a injeção. O sonífero não tem mais efeito imediato, e já sei que o caminho do sono é como um corredor cheio de pensamentos.[...] Até eu topar na porta de um pensamento oco, que me tragará para as profundezas, onde costumo sonhar em preto-e-branco."

Eulálio vai narrando toda a sua vida, sem ordem cronológica, às vezes se contradizendo, começando com algo e terminando com outra coisa que não tem nexo algum com a primeira, demonstrando perfeitamente bem uma mente confusa e desgastada com a idade.

"Vai ver que estou delirando, e de bom grado voltarei a falar somente de coisas que você já sabe. Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero. É para si que um velho repete sempre a mesma história, como se tirasse cópias dela, para a hipótese da história se extraviar. Pág." 96

Achei incrível o fato de haver passagens comentando (brevemente) um acontecimento histórico e que fez parte da vida das personagens, não como um livro de História, mas são meras menções com lembranças, da vida de alguém que supostamente presenciou tudo ou ouviu dos pais sendo narrado como história de família.

"As pessoas não se dão ao trabalho de escutar um velho, e é por isso que há tantos velhos por aí, o olhar perdido, numa espécie de país estrangeiro." Pág. 78

Há partes que me deram um dó tão grande.Fiquei com medo de envelhecer, confesso. É um abandono tão grande, embora ele tenha histórias incríveis, uma vida fantástica e um modo de falar tão aconchegante. Imagina se ele fosse mais um qualquer, quão pior seria? Esse é um daqueles livros que te fazem pensar sobre uma porção de coisas, são memórias registradas desse personagem que é humano, você vê seus defeitos, mas o compreende: o que passamos nos marca permanentemente. Me apaixonei por esse livro, só iria lê-lo porque gosto muito do Chico, mas ele me provou que é um ótimo escritor também.

"É uma tremenda barafunda, filha, você nem vai me dar um beijo? É desagradável ser abandonado assim, falando com o teto."
Fernanda 09/11/2013minha estante
Sam, faço minhas as suas palavras! Chico me conquistou na primeira linha também! Haha
Parabéns pelo comentário!




272 encontrados | exibindo 136 a 151
10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR