Leite derramado

Leite derramado Chico Buarque




Resenhas - Leite derramado


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Amâncio Siqueira 09/12/2016

De aceitar o que se foi
“Na velhice a gente dá para repetir casos antigos, porém jamais com a mesma precisão, porque cada lembrança já é um arremedo de lembrança anterior.

(…)
E debaixo do banho observei meu corpo fremente, só que neste momento minha cabeça fraquejou, não sei mais de que banho estou falando. São tantas as minhas lembranças, e lembranças de lembranças de lembranças, que já não sei em qual camada da memória eu estava agora.

(…)
Mas se com a idade a gente dá para repetir certas histórias, não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida.
Chico Buarque, Leite Derramado

Em Leite Derramado encontrei pela primeira vez em muito tempo uma narrativa confusa que me encantou. A obra de Chico Buarque não usa a confusão como marca de qualidade textual: é parte da trama, ou a própria trama. A confusão é o próprio caráter do personagem que faz um monólogo, contando fragmentos de sua história pra quem quer que esteja próximo o bastante para ouvir (algo comum aos velhos).

O centenário Eulálio D’Assumpção poderia lembrar o personagem principal de “O Ladrão do Tempo”, de John Boyne, com sua vivência permeada pelos grandes acontecimentos dos tempos vividos. Mas as duas obras não poderiam ser mais diferentes: Eulálio está internado num estabelecimento de saúde, doente, fragilizado, sem privacidade, e se refugia num passado de glória, nos Eulálios D’Assumpção que remontam até a sexta, sétima, oitava, talvez décima geração, sempre figuras ilustres, convivendo com o Marquês de Pombal, com o presidente Deodoro, o Imperador Pedro II… Sempre enlaçados ao poder, seja feudalista, escravagista, abolicionista, capitalista e quiçá comunista, se tal regime viesse a vigorar no Brasil.

O passado, contudo, esconde mais dores que prazeres, e logo percebemos que o saudosismo não consegue esconder aquilo que o corpo mostra: a decadência. A decadência que parece uma marca do país, e que acompanha os D’Assumpção. O narrador em alguns momentos, tentando destacar o “p” mudo, vai aos poucos demonstrando sua dificuldade em adaptar-se aos acontecimentos, embora tente manter as aparências. Entre as diversas camadas de memória, estão as mentiras criadas para justificar o desaparecimento de Matilde, a mãe de sua filha, o único amor de sua vida. Ao lado da trama dos Eulálios e do país, floresce a do abandono de Matilde, de como se conheceram, de como se amaram. Camadas e mais camadas de fatos, alusões e mentiras vão se justapondo para que o leitor tente remontar a história.

Leite Derramado é uma bela obra sobre a memória e o esquecimento, e também sobre a senilidade de uma classe que se recusa a aceitar que os tempos mudaram e se aferra ao passado, mesmo que tenha que se mudar para um puxadinho de uma igreja evangélica para se manter ao lado dos vencedores. Ou dos menos derrotados.

site: https://amanciosiqueira.wordpress.com/2016/12/09/de-aceitar-o-que-se-foi/
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Daniel 11/11/2016

A Problemática do Narrador-Personagem em Leite Derramado
Leite Derramado é um romance que desafia os padrões narrativos. Com uma narrativa nada convencional, a obra de Chico Buarque se destaca no cenário literário nacional por trazer um narrador confuso, ansioso e problemático. Em seu leito de hospital, o personagem principal vai contando suas principais peripécias durante sua infância e adolescência à filha, às enfermeiras e a quem mais tiver o interesse de ouvi-lo. Pertencente a uma linhagem da alta sociedade, tal personagem vai se perdendo na sua própria narrativa, pois sua memória parece falhar em determinados fatos. O que não ocorre quando narra com maestria os acontecimentos do passado com uma riqueza imensa de detalhes. Assim, Buarque nos apresenta um exemplo de narrador desafiador e brilhante, justamente por que é fragilizado de sua principal ferramenta: a memória
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vortexcultural 06/08/2016

Por Flávio Vieira
Eis que Chico Buarque retorna com seu quarto livro, Leite Derramado. Uma história que traça todo o panorama do Brasil do último século, sob o ponto de vista de Eulálio Montenegro D’Assumpção, um senhor já com seus 100 anos de idade, que em seu leito de morte, relembra da melhor maneira possível – devido a sua memória já um tanto envelhecida – trechos de sua vida, relembrando em alguns momentos “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez.

“…A MEMÓRIA É DEVERAS UM PANDEMÔNIO, MAS ESTÁ TUDO LÁ DENTRO, DEPOIS DE FUÇAR UM POUCO O DONO É CAPAZ DE ENCONTRAR TODAS AS COISAS”

Chico cria uma narrativa sem ordem cronológica, porém, de maneira genial. É possível ir montando esse quebra-cabeça da história da nossa personagem de acordo com suas narrativas, e assim contextualizando com os costumes e valores do último século, além de referências a quebra da bolsa de NY, a Era Vargas, a ascensão nazista e a Segunda Guerra Mundial, a própria ditadura militar, entre outros acontecimentos.

[Resenha completa no Vortex Cultural - Link abaixo]

site: http://www.vortexcultural.com.br/literatura/leite-derramado-chico-buarque/
Gisele 27/10/2016minha estante
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Ana Paula 17/05/2016

sociedade carioca em xeque
Neste livro pude mergulhar no lado "decadente com elegância" da sociedade carioca dos anos 50/60.
Mas prefiro as composições musicais de Chico Buarque.
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Simone.Kniphoff 24/04/2016

leite derramado
Ãtima representação de uma família burguesa em decadência no mundo contemporâneo.
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KB 27/03/2016

Leite derramado
Livro que embala fácil. No decorrer dos devaneios da personagem principal, um idoso em seu leito de morte, cheio de lembranças de uma vida pomposa vivida e gabada numa família nobre do Rio de Janeiro a partir dos anos 20, me fez pensar na minha própria futura velhice: no que caducarei? no que terei vergonha ou orgulho? além de me prender com o "mistério" do sumiço de sua desejada esposa e me fazer duvidar em que momento as lembranças se confundem com a imaginação ou caduquice!
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Tiago 14/11/2015

Vale a leitura
Me lembra Dom Casmurro.
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Kizzy 05/11/2015

Um texto maravilhoso para uma história entendiante
Essa é a minha segunda viagem pelo mundo literário do Chico Buarque. Havia lido "o irmão Alemão" , que para ser sincera gostei bem mais. Ainda assim termino essa segunda experiência com algumas semelhanças da primeira. E a primeira semelhança é o quanto o texto e a utilização da língua portuguesa são fáceis e perfeitas na mão do Chico.
O texto tem muita qualidade. A narrativa não linear é tão sutil e tão natural, e feita com um talento tão grande que você por vezes não percebe que numa mesma página você está visitando 3 ou 4 períodos da história da personagem sem esforço algum. A capacidade de descrição dos detalhes do quotidiano também é tão presente que o livro vira quase uma cena na sua cabeça. Quanto ao talento literário do autor, realmente não entendo porque as pessoas ainda criticam.
Porém, nesse caso em específico a narrativa é bem entediante. Não sei se era essa a intenção do livro, mas não passa de um monologo repetitivo sem nada de muito empolgante do começo ao fim. Relatos de um ex nobre e toda a superficialidade de suas relações nobres, o amor descontrolado por sua esposa que não era aceita pela nobreza, a visão deturbada de sua vida na pobreza depois de velho, alguma crítica ao racismo e à ditadura militar.
O livro só empolga um pouco quando ele fala da esposa Matilde e demonstra uma confusão de fatos e imaginação que faz lembrar Bentinho e Capitú, mas nem de longe é tão empolgante como eles.
Vale a leitura pelo rebuscamento do texto mesmo, pela construção da narrativa tão bem feita e que parece tão simples. É daqueles livros que você lê de uma vez, mas precisa querer pelo texto mesmo, porque não é empolgante e nem divertido. Se fosse para escolher eu leria outros dele, que tem igualmente um texto ótimo e com uma estória legal.

"Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortêz, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo mal fermenta."
PAULINHO VELOSO 16/03/2022minha estante
Gostando muito. Forma original!




Aline 28/09/2015

identificação
Senti uma identificação com a história apresentada no livro porque compreendi o quanto nos deparamos com situações na vida, que não podem ser explicadas ou simplesmente a explicação nunca terá o condão de esclarecer a motivação de determinadas ações humanas e suas consequências na vida das pessoas envolvidas.
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Cassionei 15/08/2015

Letras derramadas
“Estava à toa na vida, o meu amor me chamou” para ler Leite derramado, o romance de Chico Buarque (Companhia das Letras, 200 páginas), um dos vencedores do prêmio Jabuti deste ano. Por ser o maior compositor do Brasil, parte da crítica o considera um aventureiro na literatura, esquecendo que letra de música também pode ser poesia. “Sou um artista brasileiro”, diz o eu-lírico da música “Paratodos”. Os livros comprovam a versatilidade desse artista.

“Como beber dessa bebida amarga” que é a literatura do Chico? Se nas músicas vemos um homem romântico ou engajado, principalmente contra a ditadura, nos livros os temas são psicológicos, o mergulho é mais profundo na mente confusa de seus personagens. Desde Estorvo, seu primeiro romance, o ponto de vista é quase sempre o do protagonista (exceção de Benjamim, narrado em 3ª pessoa) e o leitor não sabe até que ponto pode confiar na sua personalidade conturbada.

“O que será que será” que podemos esperar de um livro do Chico? Pois não espere nada “com açúcar com afeto” ao ler Leite derramado. “Tijolo com tijolo num desenho mágico” ele vai desenvolvendo a história através do protagonista, Eulálio d'Assumpção, ancião de 100 anos, cuja fala fragmentada nos revela boa parte da história do Brasil dos tempos do Império, passando por todo o século XX, ditadura, “num tempo, página infeliz da nossa história”.

O romance parece ser uma releitura da canção “O velho”. Diz a letra, escrita em 1968: “O velho sem conselhos, de joelhos, de partida, carrega, com certeza, todo o peso de sua vida”. Em Leite derramado, Eulálio relembra fatos pessoais desses seus 100 anos de vida para uma mulher que, devido aos delírios provocados pelos medicamentos (aliás, há semelhanças com o romance Indignação, de Philip Roth), ora é sua filha ou sua neta, ora a enfermeira do hospital ou então Matilde, sua amada que morreu nos anos 30. Sim, as mulheres, não as de Atenas com “suas melenas”, mas as brasileiras, principalmente sua esposa, mulata que gostava de dançar maxixe, são presença marcante nessa narrativa. Pela fala de Eulálio vemos, também, a decadência de uma família tradicional brasileira, que começa com um barão do império e termina num garoto, o qual para o velho tudo indicava ter se tornado traficante.

“Ah, se já perdemos a noção da hora” é a sensação que temos ao ler a narrativa, daquelas que nos prendem e não conseguimos largar tão facilmente. “Joga pedra na Geni” quem nunca se deixou levar pela mão de um competente escritor, que nos carrega até os subterrâneos da alma de um personagem, na escuridão de seus pensamentos, até que gritemos “luz, quero luz”.

“Meu caro amigo, me perdoe, por favor”, mas Chico Buarque é um grande escritor.


site: http://cassionei.blogspot.com.br/2010/10/tracando-livros.html
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Helô 13/07/2015

Leite derramado: esse merece resenha!

Leite derramado traz embutido no título um provérbio popular chinês: “ Não adianta chorar pelo leite derramado.”. Ao interpretar esse provérbio percebe-se que nada pode ser feito diante de algo que já aconteceu .
Após análise do título nota-se uma narrativa que prende o leitor com revelações do passado e pendências do presente que o narrador não pode mudar. Resignado, e com sintomas de alzheimer, insiste em recontar várias vezes suas origens e vai despertando a curiosidade do leitor.
A narrativa remete o leitor ao Betinho, personagem de Dom casmurro- Machado de Assis, um fraco que vive à sombra da mãe e do seu passado.
Enfim, deleite-se com esse livro espetacular!
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Leiliane R. Falcão 12/07/2015

A memória é uma vasta ferida...
Terminei de ler Leite derramado do Chico Buarque hoje.
Não sei se foi o tom moribundo do narrador-personagem, ou se foi o mistério ao redor de sua companheira, Matilde, mas esse livro me lembrou Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Particularmente, adorei esse sabor machadiano presente em toda a obra.
O teor social também me chamou atenção. Ao acompanharmos a árvore genealógica do Lalinho, vemos que o que existe de pior na nossa sociedade ( vulgo preconceito em todas suas formas possíveis) tem origens muito antigas. É triste perceber que estamos em 2015 e notar que ainda tem gente que pensa da mesma forma.
É um livro curto, mas em menos de 100 páginas Chico nos presenteia com pelo menos três gerações de personagens que nos levam do amor ao ódio.

O capítulo 18 me fez sorrir com a primeira frase, e me fez chorar na última.

Em resumo, esse livro é amor demais! Leia!
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Mavibarrinuevo 09/07/2015

Buarque-se
Isto não é uma resenha propriamente dita. Não resumirei este amontoado de páginas com capa chamativa de cor alaranjada escrito por Chico Buarque e ao fim do texto fazer algum comentário. Pretendo, somente, dizer o quão importante este livro é para mim e o quanto recomendo o mesmo. Um livro sem parágrafos narrado por Eulálio, um homem em sua fase derradeira, vivendo em um leito de hospital, contando apenas com sua filha Maria Eulália, uma enfermeira e suas memórias. Como pode um livro desses ser tão amável? Será que devo levar em conta quem o escreveu? Talvez seja o modo como o leitor entra na mente confusa e esquecida de Eulálio, ou então talvez seja pelos belos diálogos/pensamentos (há post-its em quase todas as páginas), eu não sei. Não sei exatamente o que me faz amar um livro como amo Leite derramado, todavia deixo apenas um recado a você: leia-o. Leia-o e delicia-te neste universo confuso, melancólico, puro e belo que é a mente de Eulálio. Leia-o e tenho certeza de que você não será mais o mesmo. Ah, também é uma leitura rápida.
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