O perfil do leitor colonial

O perfil do leitor colonial Jorge de Souza Araújo




Resenhas - Perfil do leitor colonial


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ChrisGally 24/08/2016

Como traçar um perfil do leitor colonial? O que liam? Quais os livros circulavam nos séc. XVI, XVI, XVIII e XIX no Brasil? Os objetivos traçados foram delinear uma amostragem crítica e descritiva de livros e leituras no Brasil Colônia e sua provável influência na produção intelectual brasileira do período; resgatar a memória cultural brasileira da quadra colonial mediante a análise de uma eventual sociologia da leitura no Brasil; e instrumentalizar a observação crítica do papel e das relações conectivas da Cultura e da Literatura no período colonial.
O autor se propõs descrever analiticamente a recepção passiva do leitor brasileiro enquanto eventual possuidor de uma biblioteca na Colônia e a de um leitor-produtor, ou próprio de uma recepção ativa, ou retroprojetiva. A metodologia que utiliza pertence a critérios de investigação historiográfica, uma vez que se levanta fontes documentais primárias para o mapeamento de autores e obras pertinentes ao assunto. Para isso, ele vai utilizar obras de Rubens Borba de Moraes, Serafim Leite, Fernando de Azevedo, Carlos Rizzini, Laurence Hallewell, Wilson Martins e Maria Beatriz Nizza da Silva.
No capítulo 1, estuda-se as características de leituras a partir de notícias gerais da circulação de livros no Brasil; no cap. 2, tratará da evolução da leitura dirigida no Brasil, descrevendo os livros encontrados nos inventários de bens, desde os mais antigos do séc. XVI aos inscritos na data limite de 1850; o cap. 3 analisa a natural tendência de leituras dos religiosos no Brasil, nomeadamente as ordens dos jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditinos; o cap. 4 relaciona a constituição de bibliotecas pertencentes a líderes e personalidades brasileiras envolvidas em projetos revolucionários com a influência direta da leitura de obras de espírito reformista; o cap. 5 estuda as livrarias oitocentistas mediante os inventários de um publicista famoso da época.
As teses mais importantes forma: 1- “(...) o brasileiro, se não lia tudo ou bem, ao menos lia. E lia razoavelmente vário e muito”. (pág. 19)
2- “O Brasil leitor do séc. XVI é (...) o do esforço desesperado, conquanto equívoco, feudal e absolutista, do envolvimento intelectual dependente, ora da catequese, ora do colonialismo cultural, exercido via um ensino mecanizado, não-humanista, mimético de modelos clássicos para uso retórico da ação evangelizadora.”(p. 34)
3- “(...) além das naturais dificuldades da vinda de livros, havia a questão impeditiva da entrada aqui de muitos deles [séc. XVI]. (pág. 37)
4- “Os livros, enquanto objeto da cultura e da prática social, eram admitidos como símbolos de uma ascensão intelectual nem sempre consentida dentro do rigor axiomático dos jesuítas”. (pág. 41)
5- “(...) Os documentos de dispomos indicam um leitor apenas refletido a partir das áreas diretamente oriundas de um interesse específico de ampliação de status acadêmico ou profissional” [Séc. XVIII]. (pág. 61)
6- “O séc. XVIII português é marcado a ferro pela singular presença inquieta e polêmica e de rica biografia do Marquês de Pombal”. (pág. 68)
7- “Assim, pelos livros defendidos como necessários à permanência de um estudo anti-jesuítico e modernizador, verifica-se a instilação de um modelo de gosto e métodos de ensino, estudo e leitura”. (pág. 95)
8- “As recomendações, deliberações e interditos em grande parte, moldaram o perfil do leitor colonial. (...) As ações e reações da reforma pombalina tiveram ressonância na vida intelectual e na atitude leitora brasileira, com influência no gosto ou no aborrecimento de livros e ideias”. (pág. 108)
9- “[no séc. XIX], aumentam e massificam-se as bibliotecas, ocorre um crescimento horizontal de títulos e assuntos, com a variação e circularidade de livros populares(...). O que não muda é o perfil sociológico desse leitor, em geral um homem abastado ou de classe média, entre conservador e liberal, ainda preso ao limite da devoção religiosa e ao profissionalismo, seguramente curioso e interessado numa maior gama de interpretações do mundo a sua volta”. (pág. 149)
10- “Tanto no ensino prático, quanto no de Humanidades, o rigor censório era de molde a não permitir o desenvolvimento de processos educativos que não estivessem contemplados pela autoridade competente. Em outras palavras, não havia propriamente o desenvolvimento de um gosto, mas a obedi6encia ao senso ideológico e às decisões superiores na ordem de leituras dirigidas”. (pág. 161)
11- “A cultura assume características de um valor moral, ou ético, em função de uma necessidade prática ou tecnicista, mas de fundo intelectual e humanista”. (pág. 236)
12- “Avaliando o modelo de leitor pelos títulos encontrados nos documentos, teríamos um perfil de leituras, fundamentalmente, de formação religiosa, seguido de uma busca de atualização funcional e, por último, aquele leitor curioso da informação da cultura literáia ou da evolução intelectual”. (pág. 327).
É verdadeiramente uma contribuição ímpar à História do livro e da leitura no Brasil. Além disso, pode ser considerado, principalmente, uma História da circulação dos livros no Brasil, muito mais do que um “perfil do leitor”. Apesar de não se ter uma apreensão concreta do leitor a partir dos livros que possuía, pode-se, ao menos, perceber em que meio esse leitor vivia, pois a ambiência cultural favorece a formação de um determinado tipo de intelectual. E essa obra traz uma infinidade de inventários, traçando, aos poucos, um retrato do Brasil Colônia cultural. É uma obra de fôlego, de muita coragem e de muita disciplina... Foram 10 anos de pesquisa, afinal. Infelizmente não é uma obra referendada pelo grupo de Chartier, porque ela foi publicada por uma editora de universidade pequena, a UESC.
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