Ghostwritten

Ghostwritten David Mitchell




Resenhas - Ghostwritten


1 encontrados | exibindo 1 a 1


desto_beßer 08/12/2013

Pré-Cloud
‘Ah, Jerry . All my ideas are the same old scam : the bigger the fib, the bigger they bite. The first shamans around the fire were in on it – they knew growing maize along the Euphrates was for mugs. Tell people that reality is exactly what it appears to be, they’ll nail you to a lump of wood. But tell ’em they can go spirit-walking while they commute, tell ’em their best friend is a lump of crystal, tell ’em the government has been negotiating with little green men for the last fifty years, then every Joe Six-Pack from Brooklyn to Peoria sits up and listens. Disbelieving the reality under your feet gives you a licence to print your own."

Tão verdadeira a última sentença. E por muito pouco ela poderia ser uma descrição de Ghostwritten - um livro de história desconexa, débeis ligações entre os capítulos e uma "mensagem" qualquer perdida no meio da bagunça, da tentativa de criar uma realidade fantástica, porém bocó. Todavia, Ghostwritten foi escrito por Mitchell, e nele podemos confiar.

Assim como fez anos depois em Cloud Atlas, o autor fugiu à facilidade de simplesmente contar algumas histórias e tecer uma ligaçãozinha trôpega entre elas, só como uma brincadeira, só para que, ao final da leitura, seus contos ganhassem uma dimensão maior na mente do leitor por causa destas coincidências. Mitchell enveredou por um caminho que eu admiro: assumiu os riscos de criar uma trama central, nuclear, da qual todas as histórias e personagens - por mais estranhos e fechados em seu mundo que pareçam - fazem parte, ajudando a contá-la e explicitá-la. Daí a impressão final do leitor ter base para realmente ser espantosa.

Mais do que isto, é preciso coragem para escrever algo do tipo da dimensão "etérea" da trama central - também presente em Cloud Atlas - e querer ser levado a sério. De qualquer maneira, aqui, no caso, é sucesso.

Para quem leu Cloud Atlas antes de Ghostwritten, fica patente que o segundo é um treino para o primeiro. Um treino válido, mas, claro, bem mais pobre que o Magnum opus. Comparando-o com C.Atlas, Ghostwritten é um livro de personagens menos interessantes (com exceção à aparição de Tim Cavendish e Luisa Rey!), linguagem menos elaborada, conexões mais forçadas, estrutura menos bem pensada (a idéia "musical" da história poderia dar pano pra manga, mas é esquecida de maneira súbita, por exemplo). Tomado individualmente, Ghost é muito bom, divertido, diferente, interessante.

É um livro que quebra preceitos da realidade para prender a atenção e focar no que importa, e faz isto com destreza. A "outra" realidade que cria é - parabéns ao autor - fantástica, porém com os pés no chão. "Disbelieving the reality under your feet gives you a licence to print your own" - de fato, e criar uma nova tão diferente, mas ainda crível, é para os fortes de caneta.
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR