Aldemir2 17/02/2022
Uma pintura de um país jovem
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é uma daquelas histórias que sempre ouvimos muito falar e assistimos às suas mais variadas versões, seja no cinema ou na TV, mas a história original é muito pouco conhecida e quando nos deparamos com o original percebemos como aquelas versões que tivemos contato se distingue bastante da sua primeira versão. Foi uma surpresa bastante interessante quando me deparei com esta situação ao ler este conto pois, ao entrar em contato com algumas histórias mais clássicas como estou fazendo ultimamente, ela tem se repetido e me trazendo novas visões das histórias. No entanto, tal situação também seu lado ruim pois ao ler algo que eu pensava já conhecer e me deparo com outra coisa completamente diferente existe a possibilidade de eu não me ligar com essa nova antiga versão. Lógico, isso vai da experiência de cada um, assim como o entendimento daquela história, mas é muito interessante comparar a visão de cada um acerca dela.
Washington Irving foi um dos mais importantes escritores estadunidenses, sendo creditado como o primeiro do país, começando a publicar sua obra literária no início do século XIX, tendo mais visibilidade pelos seus contos, ensaios e biografias, entre elas uma biografia de George Washington dividida em cinco volumes. Seus dois contos mais conhecidos, presentes nesta coletânea da editora Wish e sendo um deles o que dá o título, são *A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça* e *Rip Van Winkle*, publicados originalmente na coletânea *The Sketch Book of Geoffrey Crayon, Gent* em 1819. Devemos levar em conta o período histórico em que os contos foram escritos para um melhor entendimento deles; primeiramente, os Estados Unidos tinham se tornado independentes da coroa britânica há pouco tempo, em 1776, portanto era um país considerado jovem ainda, política e culturalmente. O conto título apresenta influências do folclore germânico o qual foi trazido pelos imigrantes, a própria ambientação no pequeno vilarejo de Sleepy Hollow demonstra o quão jovem aquela sociedade ainda é, como ela está nascendo e se desenvolvendo, como ainda é tudo muito natural, mas já apresenta os seus problemas e conflitos. Por ser um conto não posso falar muito, é uma leitura curta, portanto recomendo que entre em contato com essa obra e tire suas próprias conclusões, mas irei falar um pouco sobre a minha experiência.
Não foi muito boa para falar a verdade. Por ser uma escrita meio antiga, a leitura acaba sendo um pouco truncada e é bastante descritiva, tendo poucas falas. Dando um pouco de spoiler, o Cavaleiro só irá “aparecer” mais para o final; a ambientação traz um pouco de mistério, como se tivesse uma névoa baixa de onde algo folclórico pode sair e te levar dali a qualquer instante, e é uma construção de ambiente bastante bem construída, mas que não me desceu muito pela narrativa arrastada para mim. Quanto aos outros contos, a experiência não foi muito melhor. Alguns achei mais legai, outros não tanto, uma coisa normal quando se lê uma coletânea.
É uma leitura que recomendo ler primeiro por ser um clássico do horror, para quem gosta de clássicos góticos com certeza é uma leitura que não pode faltar (por mais que exista uma ambiguidade entre se o horror é real ou não ao final). Também recomendo pois com essa leitura se tem um bom retrato do jovem país que hoje se tornou uma grande potência mundial (infelizmente). No entanto, é bom ter cuidado e paciência, não é uma leitura tão fácil assim e pode ser meio arrastada para alguns, a edição da Wish ajuda um pouco trazendo textos de apoio e ilustrações, mas ainda assim é necessário paciência.