Ricardo Rocha 11/07/2011
Longas conversas durante a noite
Perfeccionista, Katherine Mansfield parece recitar seus textos, não escreve-los; apaixonada pela técnica, aprimora sua escrita de modo que exista sempre uma assinatura nas entrelinhas; sensual, desperta em seus contos um desejo que tanto pode ter sido proibido ou esquecido, mas é sem dúvida a libido feminina que precisa ser satisfeita de algum modo – um êxtase que sentia mas o que fazer dele?, como se pergunta em “Bliss”. Todos as contribuições da vanguarda do início do século passado estão em suas histórias e algumas que ainda hoje são apenas suas, como a forma como mistura imaginação e realidade sem ter a menor intenção de precisar o que é o que, e o monólogo interior que não se detém nas pessoas vivas, mas chega aos animais, às árvores e aos mortos. Se esses contos não são perfeitos, é que a perfeição não existe... Difícil escolher algum como favorito. Mas digamos que A festa ao ar livre, Na baía, Êxtase e A família ideal são especiais.
Trecho:
Queria que alguém descobrisse a Beryl que nenhum deles conhecia, alguém que a desejasse, assim como era, para sempre. Queria alguém que a amasse. Leva-me para longe dessa gente, amor. Vamos para muito longe. Vamos viver nossa vida, vamos vive-la de novo a partir do princípio. Sentemo-nos para fazer a refeição juntos. Tenhamos longas conversas durante a noite. E o pensamento era sempre o mesmo: Salva-me, meu amor. Salva-me.