Douglas MCT 09/04/2013
A doença não tem cura
Deus Máquina é a continuação do ótimo O Caçador de Apóstolos, do meu autor nacional predileto, Leonel Caldela ( Jambô Editora).
Diferente do primeiro livro, que seguia um caminho interessante de fantasia, dando passos sutis pro new weird, esta continuação - e também desfecho - assume-se inteiramente no segundo gênero, ousando e arriscando numa proposta intrigante.
Em épocas de Feliciano, DM nunca foi tão atual, abordando magnificamente temas como fé, crenças, descrenças e religiosidade (e a visão disso na trama, da qual também compartilho, é o ponto alto do livro).
Contudo, DM teria sido o melhor livro do autor se tivesse 200 páginas a menos. Boa parte do enredo é arrastado e repetitivo, num vai pra lá e vem pra cá sem fim, que chegam a cansar - mas não desgastam por completo, porque a trama imprevisível continua sustentando o todo.
Outra positividade são os flashbacks em Nugaland, onde Caldela mostra-se mais à vontade no terreno weird, sem perder-se nos deslizes que citei acima. As cenas em Contago também merecem admiração.
A escrita, a forma, suas saídas narrativas, também, nunca estiveram tão bem polidas, fluídas, revelando a evolução do autor (que acompanho desde os primórdios) e sua nítida maestria com as palavras e construção de frases. E batalhas.
Deus Máquina, acima de tudo, coloca os escritores em uma posição curiosa, fantástica e realística ao mesmo tempo, enquanto revela de maneira épica esse nosso papel.