Resenhas - A árvore de Judas

Bano 30/09/2016

Cronin deve ter escrito este livro numa época em que ele já era um escritor experiente, pois sua narrativa é muito rica e envolvente, descontando-se as possíveis falhas (se é que existem) de tradução. O autor aproveita também para explorar um campo que ele conhecia muito bem: a Medicina. Inclusive citando nomes complicados de doenças.

Achei que ele exagerou um pouco quando narra em detalhes a palestra, no final do livro, do personagem Willie para os amigos de David Moray, na casa deste. O ideal seria fazer um resumo da palestra, pois ela não é essencial à trama. Outra passagem supérflua, ainda que curta mas que poderia ser mais curta, são os passeios de Moray com a família Holbrook na Índia, no início do livro.

Um ótimo exemplo de resumo, neste mesmo livro, é a passagem em que o autor descreve o que aconteceu com Moray durante o seu casamento com a instável Dorrie Holbrook.

Um excelente exemplo de final de capítulo é a forma escolhida por Cronin para encerrar o Capítulo XV da Segunda Parte: "Em sua mente embotada, era menos difícil encerrar o passado e pensar apenas no futuro. Ao cruzar a ponte Howrah, súbito se debruçou no parapeito e, sem olhar, tirando a mão do bolso interno do paletó, deixou cair as duas cartas, ainda fechadas, nas águas imundas e poluídas de cadáveres do sagrado Ganges". Cronin foi muito feliz em ilustrar de maneira precisa a fraqueza de caráter de David Moray. Depois ele inicia a Terceira Parte retornando ao tempo atual.

A história é bonita, sentimental e previsível. O final eu havia previsto logo nas primeiras páginas e também por causa do título.

Cronin me surpreendeu no final quando narra a seqüência em que prova que Arturo, o dedicado mordomo de Moray, e Elena, a cozinheira e esposa de Arturo, não são empregados honestos. O caso é que não havia necessidade de elucidar o caráter de ambos, já que isso não é relevante na trama. Ou seja, após o leitor saber disso a história termina e não se lê mais nada de grave a respeito desses dois personagens. Pelo contrário, ambos continuaram servindo ao patrão até o desfecho da trama.