Paula.Serkonos 15/09/2012
O Anjo que quis me possuir
Possuída, Dracaena 454 páginas, é o quinto livro de Vanessa Bosso, ou como gosto de chama-la: Doomsday Writer (Escritora do Fim do Mundo). O motivo é meio óbvio; esse é o quarto livro em que ela apresenta uma nova versão sobre o apocalipse. Não posso comentar muito sobre isso, afinal, só li dois livros dela, três se você contar metade de O Imortal e metade de O Homem de todas as minhas vidas, também da Dracaena.
Lúcifer tem um plano.
Um plano para causar o apocalipse. Agora vocês entendem o porque do Doomsday Writer (e entenderão mais ainda quando lerem a sinopse do novo livro dela, A noite em que as estrelas caíram). Mas novamente, eu divago. Lulu tem um plano para causar o apocalipse, certo. Ou melhor, a idéia geral é começar pequeno; vamos só abrir as portas do inferno e soltar os demônios e o que vier a partir daí é lucro. Sério, bem nessas.
Mas tudo começa pequeno, e esse diminuto foi Lucian.
Um corpo humano foi roubado.
Imagino que nós somos almas. Aliás, sei disso. Eu sou uma alma num receptáculo de carne. Ou um corpo, se for mais liberal. O corpo é o que a sua alma ocupa, mas você não é ele. Dá para entender? Ao contrário da maçã, que é o cabinho, as sementes, a casca e a fruta em si, nós não somos um todo, corpo e alma. Nós somos a alma, o corpo é o lucro. Certo? Ceerrrrrto.
Lucian, um dos milhares filhos de Lulu, rasgou o véu que separa a nossa dimensão do inferno. O que rasgou foi Lucian, o espírito/alma, seu corpo ficou lá, guardadinho à espera do mestre. Ele veio para a nossa realidade com alguns propósitos: ocupar um corpo humano, fazer a boba da Alicia se apaixonar por ele e apertar o gatilho que dará início ao apocalipse. O básico, gente. Sempre o básico.
Roubar um corpo é basicamente expulsar a alma que o ocupa.
Lulu Dois chegou, arrumou um corpo legal e tomou conta do barraco, chutando o antigo dono – um traficante, perda zero, digamos por passagem. Corpo próprio? Check. Próximo passo: seduzir a mocinha irritante.
Alicia – Deus me perdoe, mas se eu visse essa menina na rua, é homicídio certo – é uma adolescente de dezessete anos que está tentando superar uma tragédia em sua família. Papi, mamis e lil bro morreram num suspeito acidente de carro, deixando a pobre Alicia na guarda do irmão mais velho, Kadu – Ou Carlos Eduardo ou Coisinha linda da titia para os íntimos como eu – e tendo que sobreviver ao mundo cruel. Eles ainda estão em luto, só se passaram alguns meses do acidente; é aceitável. Mesmo após a desgraça, eles ficam “bem”, apesar dos pesares.
O engraçado da personagem principal é que no início do livro é muito fácil gostar dela. A menina pratica Aikido, usa vestido e all star, é leitora compulsiva, tem o cabelo problemático e tem contato de terceiro grau. Quer dizer, tá aí, pronta para encantar todas as menininhas que lerem o livro. Menos eu, porque eu vejo o que outros nem sempre vêem: tava na cara que não ia gostar dela. Quer dizer, aikido? Sério? Eu costumava ter aula disso no ensino médico e a primeira coisa que pensei quando o professor deu a aula? Man, that’s sooooo gay. I mean, seriously, as outras artes maciais devem ver o Aikido como balé.
Então sim, não gostei da mocinha no início e quando cheguei ao fim do livro estava decidindo qual arma usaria para o homicídio – ainda não decidi, mas a balança está pesando para facas. Talvez quando terminar a resenha já tenha algo em mente.
Algo relevante da Alicia é que ela é o tipo de garota que no mínimo 70% das leitoras se identificação. É algo que não consigo realmente explicar, só sei. Tipo, o céu é azul – fato e sei disso -, mas não consigo explicar porque. Sacaram? Entretanto, eu não faço parte dessa porcentagem.
Mas também não me identifiquei com nenhum vilão.
Fato raro, muito raro.
Na maior parte dos livros, sempre escolho um lado, dos mocinhos, dos vilões, dos anti-herois, etc. Em Possuída, comecei a leitura achando que ia fazer parte do grupinho de Lulu e torcer para o fim do mundo. Isso não aconteceu. No final do livro também não torci para os anjos – sim, os seres celestiais também estão no livro, dud.
Eu fiz fanbase para um personagem que é importante, não foi tão aproveitado e é king of friendzone: Gael. Não cruzei os dedos para o lado dele, não. Gritei por ele, e só por ele. Por algum motivo além de mim, gostei do anjo, um personagem do bem. Coisa rara, geralmente faço até macumba para os malvados ganharem e xingo o autor caso isso não aconteça.
Possuida é, que eu saiba, o segundo livro de Vanessa Bosso em que Gaia está incluída, e devo confessar, se no primeiro não entendi muita coisa, nesse simplesmente babei. Estou esperando para conversar com a autora e entender melhor esse babado tenso. Há Gaia e Deus e eu não sei ao certo se essas duas coisas combinam, mas eu sou ninguém para questionar sobre o que o autor cria.
Gosto desse tipo de mitologia, mesmo não entendendo. É interessante e foge um pouco aos padrões que estamos vendo nos livros atuais. Um ponto para originalidade.
Agora, vou separar Possuída em duas partes: o livro e a história. Expliquei isso em uma resenha há um tempo. A história é o que o autor te contou, o que você entendeu, a idéia que o autor passou. Já o livro é a escrita, a revisão, a diagramação e a capa.
Eu gostei muito da história, mesmo tendo me irritado deveras vezes, desejado matar muitos personagens e ficando cada vez mais de queixo caído com a Alicia – e não de uma forma legal. Gostei e ponto final. Acho que alguns personagens poderiam ter um papel mais importante, mas assim iria complicar e sei lá. É triste quando um personagem que você gosta não tem um papel tão importante na história. E ah, o final poderia ter vindo mais rápido. Quer dizer, acho que a Vanessa enrolou um pouco demais e por isso o final acabou sendo rápido demais. O meio do da história durou muito, o que, de fato, atrasou a minha leitura e por isso eu não terminava – outro motivo para isso é que a história é tão envolvente que você acaba lendo sem parar e não aproveita. O que eu gostaria de dizer à autora? Bem: Querida amiga, eu gostei muito do seu livro e teria amado se o Gael fosse só meu.
Já o livro me falhou em algumas partes. E aparentemente nenhuma delas é culpa da autora.
Diagramação: Qual é o problema da Editora Dracaena? Sério gente. Eles cobram horrores, realmente horrores e não se dão o trabalho de enfeitar os livros? Puta que pariu, caralho. Dêem um pouco de amor aos autores que vendem um rim para publicar com vocês e que precisam aturar críticas sobre o valor super hiper mega salgado dos livros. A dona Vanessa Bosso tem quatro livros na editora e até agora a única coisa que inovou a diagramação deles foram as ilustrações que o Nanuka Andrade desenhou – que pelo amor, ficam a coisa mais linda do mundo e super caíram bem, dando vida àqueles pequenos detalhes. Porra! Qual o problema de fazer direito? Sério mesmo, sr. Leo/Edu Kades sei lá o nome da coisa, qual o problema em investir um pouco mais nos seus autores? Principalmente os fiéis, como a Bosso, que apesar de todas as merdas, ainda estão na sua editora?
Capa: De todas as capas que o André Siqueira vez, a minha preferida é a dO Imortal, também da Vanessa Bosso. Ela foi meu wallpaper por um tempo de tão apaixonada por ela que sou. Eu gosto das capas, embora às vezes ele peque um pouco nas fontes, se bem que isso era no começo, agora elas estão ótimas. E a de Possuída não fica de fora. Ela é absolutamente linda e tem uns elementos que realmente estão na história. A única coisa que ficou fora de sintonia foram as penas caindo. Quem ler, entenderá.
Revisão: É meio chato falar de revisão quando você conhece a revisora. Eu acho que tem partes em que várias palavras se repetem demais. Acho que lá para o final do livro, a palavra Luz se repetiu três vezes no mesmo parágrafo. Tirando essas repetições, a revisão está boa num todo.
Escrita: Eu gosto da escrita da Van porque ela é leve, não é cheia de arebescos e pau no cu. Ela é bem direta e você realmente entende o que a autora quis passar.
Nota final: ****