Resenhas - Sendas de ôku

Reccanello 22/05/2023

Escrito no século XVII, durante o Período Tokugawa, o livro é reconhecidamente uma das mais importantes obras de toda a literatura japonesa, um registro magistral feito pelo poeta Matsuo Basho que encapsula em seu texto toda a essência da poesia e da busca espiritual. Retratando a épica e perigosa jornada do autor pelas ermas regiões do norte do Japão, o livro é ao mesmo tempo um marco da renovação artística e uma profunda conexão com a tradição literária japonesa.
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Impulsionados pelo desejo de ver os lugares que inspiraram os antigos poetas, Matsuo Basho e seu companheiro Kawai Sora resolvem seguir os passos do renomado poeta Saigyo; e, no final da primavera de 1689, partem de Edo (atual Tóquio) em direção à região interior do norte, conhecida como Oku. Nesta viagem repleta de desafios físicos e emocionais, eles percorrem cerca de 2.400 km, principalmente a pé, e encontram paisagens deslumbrantes, interagem com pessoas diversas e refletem sobre a efemeridade da vida. Através dessas experiências Basho busca uma renovação de sua própria arte e uma compreensão mais profunda de si mesmo e do mundo ao seu redor. Influenciado por seus estudos da meditação Zen, que busca alcançar a iluminação e a compreensão direta da realidade pela aniquilação do "eu" e pela fusão de sujeitos e objetos, Basho procura transcender as noções de dualidade e separação, mergulhando na experiência meditativa e buscando uma conexão mais profunda com a natureza e a essência da existência. Tão característica do que viria a ser o "espírito japonês", a obra exerceu uma influência significativa na cultura daquele povo e seu estilo único de combinar prosa e verso, sua sensibilidade à transitoriedade da vida e sua reverência pela tradição literária estabeleceram um padrão para a poesia japonesa subsequente. Mesmo passados mais de 300 anos de sua publicação original (ocorrida postumamente em 1702), o livro se tornou um tesouro da literatura japonesa e continua a inspirar e encantar leitores ao redor de todo o mundo. Em especial, sua obra influenciou profundamente o poeta curitibano Paulo Leminski que, conhecido por sua habilidade em fundir tradições literárias, bebeu diretamente da fonte de Basho, incorporando elementos do haicai e da filosofia Zen em sua própria poesia, criando um diálogo entre as tradições literárias japonesa e brasileira.
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Em síntese, "Sendas de Oku" (ou, no original, "Oku no Hosomichi") é uma obra-prima como poucas, um marco da literatura que transcende fronteiras culturais e temporais, um monumento contra o fluxo do tempo que captura a essência do espírito japonês, sua conexão com a natureza, sua busca espiritual e sua apreciação pela beleza. Sua importância é tamanha que, sobre o livro, o poeta Kenji Miyazawa afirmou: "foi como se a própria alma do Japão o tivesse escrito".

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