Angélica 16/04/2013Redescobrindo a alegria da infância A entrada na vida adulta pode ser uma época muito difícil. As responsabilidades que esse período acarreta, como arranjar emprego e cuidar do próprio sustento (e do da família, caso ela exista), muitas vezes levam ao esquecimento dos nossos próprios sonhos e desejos; passamos a viver para cumprir obrigações, nos esquecendo de nós mesmos, e irremediavelmente perdendo um pouco da alegria de viver a cada dia. "Aventuras de Menino", de Mitsuru Adachi, é uma ode ao resgate da nossa criança interior, e uma tentativa de mostrar que, sim, é possível ser adulto sem que para isso precisemos deixar de lado nossas aspirações e esperanças, que tanto nos fazem felizes durante a infância.
O volume é composto por oito histórias curtas; todas são protagonizadas por homens adultos que, devido a algum incidente em sua vida atual, são levados a rememorar sua infância e/ou juventude, redescobrindo dentro de si mesmos coisas que julgavam a muito esquecidas. Todos encontram-se insatisfeitos, conscientemente ou não, com algum aspecto do seu cotidiano, e através do contato com seus "eus-criança" são capazes de vislumbrar novas saídas e possibilidades para enfrentar seus problemas.
A grande sacada de Adachi é não cair no clichêzão do "persiga seus sonhos e, com muito esforço e dedicação, eles se tornarão realidade" - tão comum nos mangás para garotos. Por mais que esse mote se apresente em alguns momentos, a mensagem que a obra procura transmitir é de que, mesmo que às vezes nossos projetos não deem em nada, o importante é continuar sonhando e vivendo a vida com a alegria e a leveza de uma criança: gargalhar, chorar, gritar, enfim, expressar-se no mundo, ao invés de se contentar com o papel de mera engrenagem do sistema.
Mas, apesar de tentar falar com certo realismo dos problemas que permeiam a vida adulta, Adachi não resiste à tentação do bom e velho "happy ending", recorrendo até mesmo à magia e ao sobrenatural para garantir um final feliz para seus heróis. Se por um lado isso tira um pouco do brilho da obra, por outro não torna a leitura menos prazerosa.
A arte do autor, marcadamente datada em relação aos artistas atuais, pode causar um certo estranhamento no leitor contemporâneo, mas encaixa-se com perfeição no "feeling" do mangá. Mesmo que mostre sua idade, o traço arredondado e bem feito, se não encanta pela beleza, ao menos é muito agradável de se olhar.
Concluindo, ler "Aventuras de Menino" é uma experiência rápida, leve e muito agradável, daquelas que deixam uma sensação boa no peito depois que acabam. Este pode não ser "o mangá da sua vida", mas certamente vale a leitura.