danilo_barbosa 24/10/2012Onde reside o terrorVeja mais resenhas minhas no Literatura de Cabeça:
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Entre sussurros à meia luz, sombras desconcertantes e uivos misteriosos, venho lhes cumprimentar... Agora é hora de nos arrepiarmos com aquela respiração desconcertante, tremer diante daqueles olhares vindos do além-túmulo e revirar-se na cama.
Vamos falar de terror! Isso aí, minha gente!
Eu, como fã inveterado do gênero, não poderia deixar de falar desse tipo de leitura, que mexe com os meus brios (quando é bem feito, é claro!). Quando eles ganham o seu espaço no meu coração, como meu mestre King, tento devorar tudo que aparece na minha frente. Principalmente, quando os limites ultrapassam todos os nossos parâmetros do sobrenatural.
Afinal, criar uma verdadeira trama de terror não é para muitos...
Isso porque para fomentar uma boa trama, aquela que, ao mesmo tempo que nos faz dormir de luz acesa e alimenta os monstros sedentos que estão no nosso armário, não é necessário criar monstros sanguinolentos, decapitações e jorros de sangue... É necessário o clima ideal, sombrio e aterrorizante, que tanto fascina os leitores do gênero.
Tem que ser muito bom para saciar a minha sombra...
E hoje posso, finalmente, falar que temos, entre os nacionais, autores capazes de nos levar com precisão à este clima. E mais ainda, me levanto da minha cadeira e bato palmas para Lemos Milani, que em sua primeira incursão ao mundo literário, me arrebatou com a maestria com que criou A ascensão da Casa dos Mortos (Estronho, 223 páginas).
Uma mansão na região serrana do Rio de Janeiro, uma família que faz uma viagem de férias para que Alexandre, o patriarca da família se reestabeleça de um derrame, uma viagem para que seus filhos, Julieta e Santiago, tenham mais contato com a sua "futura madrasta", Samara. Um passeio também para que Lindsay, a sobrinha de Alexandre, saia do ambiente maçante que vive com os pais.
Todos estes ingredientes, unidos, levam o leitor a uma espiral de horror. Confrontados pelo poder da casa, Julieta, Santiago e Lindsay são assombrados cada vez mais pela mesma e, juntos a eles, nos tornamos prisioneiros do ambiente gótico que a casa nos joga, como em uma montanha russa sem freios. A Mansão Morrigan, com seus jardim labirínticos e estátuas pagãs rondando a casa, é um cenário vivo, capaz de nos surpreender em cada página...
Sente-se premente nas obras a agilidade e descrição dos mestres modernos do gênero, como King, Straub e Koontz, mesclando ao gótico das grandes obras vitorianas. Apesar de cenas verdadeiramente chocantes, como espíritos que abrem seus corpos, pessoas que vomitam aranhas ou corpos que se esfacelam, nada é esdrúxulo ou apelativo. O leitor é um convidado da obra a conhecer as suas entranhas e descobrir o lado sombrio deste universo fantasmagórico, dando o clima ideal para a obra, como poucos jovens autores sabem redigir.
A tensão crescente é um dos pontos-chave da trama e no final, caminha para um banho de sangue digno de "Carrie, a estranha", como nunca tinha visto em um livro nacional. O que mais me cativou é que você não vê fórmulas prontas ou ideias descabidas. Tudo é direto, tem sentido e se explica, dando os pontos necessários para este belíssimo espécime de terror.
O acabamento da Editora Estronho, em si, já é uma maravilha à parte. Desde a capa até os divisores de capítulos... Tudo nos leva e nos mergulha a intensidade que precisamos, com terror inteligente, na medida certa.
Não queira saber mais... Mergulhe nesta viagem como eu fiz... E veja o mundo da mesma forma, se for capaz.