Cristiano Rosa 22/10/2012
Diário CT: Fragmentos do Inferno
Um incêndio noturno no edifício Santa Eulália, construído nos anos 50 no antigo centro de São Paulo, mata 13 pessoas pelos seus seis andares, deixando apenas três sobreviventes. É essa a trama de Fragmentos do Inferno, livro organizado por Rober Pinheiro e Sumaya Sarran, publicado pela Editora Estronho. O interessante da obra é que ela foi escrita por onze mãos diferentes, e ainda com prefácio de Claudio Brites e uma reportagem final de Romeu Martins.
A obra tem uma capa simples mas bonita, uma diagramação com detalhes que contextualizam a história ao longo das suas 160 páginas. Os autores que participam do volume e narram cada um o que acontece em onze apartamentos do prédio são: Claudio Parreira, Eric Novello, Everaldo Stelzer, F. S. Pellicer, Georgette Silen, Juliano Sasseron, Rober Pinheiro, Ruano Berenguel, Sumaya Sarran, Tiago Toy e Valéria Telles.
A narrativa é um grande quebra-cabeça, que vai sendo parcialmente solucionado na medida em que o leitor lê e conhece o que ocorre em cada andar com os seus dezenove moradores. É contata brevemente a vida de cada personagem, e muitas relações são feitas entre eles nos capítulos.
Entre crianças e jovens, homens e mulheres, os moradores eram os mais diversos. Um escritor, uma mãe de santo, uma diarista, uma modelo, uma prostituta, um gerente de vendas, uma caixa de banco, uma beata, um traficante e um enfermeiro, entre outros, nos apresentam ângulos diferentes sobre a mesma tragédia, envolta de um tom sombrio e misterioso.
O fogo é muito associado ao fim e ao “inferno” de cada um, causando muitas vezes confusão entre o real e o imaginário em meio às chamas. A fumaça, o calor e o desespero dos moradores, juntamente com os gritos, as visões deles, causam até mesmo um certo incômodo no leitor, de tanto que envolvem e instigam.
Muitos temas são tratados pelo livro, por justamente conhecermos vários mundos diferentes que os personagens mostram, como adoção, religião, trabalho, drogas, saúde, leitura, crenças, aborto e prostituição. Há também os animais de estimação de alguns moradores, e um chama muito a atenção, pois este é visto por quase todos que estão no prédio na hora que acontece o incêndio, que é a aranha.
Narrados em maior parte em terceira pessoa, cada capítulo também apresenta situações particulares de perdas, sonhos, descobertas, desejos, preocupações, angústias, mudanças, tormentos, intenções, alucinações, ganâncias, sonhos, culpas, esperanças, favores, ilusões, adrenalinas, rotinas e fofocas. O desfecho de tudo se dá com uma notícia de jornal, comentando sobre o fato trágico e uma entrevista com um dos bombeiros que trabalharam no local.
A obra Fragmentos do Inferno foi uma grande surpresa, mesmo tendo ouvido bons elogios ao livro, ela conseguiu superar todas as minhas expectativas. Mesmo sendo escrita por vários autores – e o prefaciador deixa bem claro que não se trata de uma coletânea de contos -, a trama se completa, os estilos se cruzam e os detalhes deixam a história ainda mais curiosa e interessante.
Fonte: http://www.blogcriandotestralios.com/?p=19214